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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Traços perversos, muitas vezes apontados no outro, agem dentro de nós

Quando falham os ideais da cultura, ou são negativos, a humanidade se mantém na barbárie, rebelde a qualquer limitador. Todo cuidado é pouco


18/06/2023 09:40 - atualizado 18/06/2023 09:43
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ilustração mostra rosto de mulher desenhado no computador e foto de rosto de mulher de perfil
(foto: Pixabay/Divulgação)

Vários episódios ocorridos recentemente só reforçam a ideia de quanto é difícil mudar paradigmas e preconceitos enraizados na cultura. Como a educação é difícil de sedimentar em cada um. Como se resiste, sem perceber, à mudança de comportamento, entendimento, conservando ideias ultrapassadas ativas.

Embora estejamos constantemente tentando nos educar, e a nossos filhos, procurando vencer pensamentos e maneiras de ser arcaicos, que devemos ultrapassar. Sentimos que sem atenção e cuidado, vem em nós algo da violência ou antissocial. Acredito que tal rigidez em nós se deve a algo estrutural, para além do racional, por isso tão difícil mudar. Mas é possível conter, e urge!

São muitos os exemplos. Manifestações de racismo contra jogadores de futebol, como em Valência na Espanha, se mostram inalterados. O preconceito inalterado, apesar de tantas campanhas e das leis que criminalizam o racismo, que ainda ecoa a céu aberto e sem constrangimentos.

A forma como dois policiais amarraram um infrator preto com cordas pelos pés e mãos e o carregaram pela blusa, como nas senzalas vergonhosas, ainda obrigando testemunhas a acompanhá-los à delegacia, por bem ou por mal. Um horror.

Que tipo de preparo tiveram esses policiais? Estão em tempos coloniais ou são homens das cavernas? Despreparados para vestir a farda, envergonham a corporação a que pertencem. Falta de respeito total pelo ser humano. Tantas campanhas contra a violência e nada. O mesmo contra as mulheres, o feminicídio continua com altos índices de ocorrência, tudo como antes.

Embora a Amazônia seja a maior floresta tropical do planeta, e sejamos nós seus cuidadores, responsáveis legais por sua proteção, a depredação continua, apoiada por interesses financeiros criminosos de gente bem esclarecida, que sabe o que está fazendo e mesmo assim o faz.

De fato, a perversão é uma das estruturas clínicas que estudamos na psicanálise e se define por um mecanismo que chamamos denegação. É diferente da negação que correntemente nós praticamos, afirmando que não é o que é, de forma inconsciente.

Na denegação, a pessoa sabe que o que está fazendo é ilegal, errado, mas, mesmo assim, o faz. Não há limites ou pudor, são pessoas obscenas, e os perversos são assim. A denegação é consciente, é regida pela vontade de gozo, da pulsão de morte, como valor e ganho maior. Chamamos gozo qualquer excesso, tipo ganância, avareza, crueldade, sadismo, masoquismo, etc...

Todo dia é isso que a mídia nos mostra, e é estrutural. Os ideais da cultura falham, a educação não cola. Sem outro que legisle, dê limite com amor e firmeza, nenhuma educação poderá colar. A pulsão não sofre alteração necessária ao convívio coletivo, segue inalterada e antissocial.

Chamamos este operador de “nomes-do-pai” (pode ser exercido pela mãe, avó, escola, etc.). Quando falham os ideais da cultura, ou são negativos, a humanidade se mantém na barbárie, rebelde a qualquer limitador. E todo cuidado é pouco,  porque traços perversos, muitas vezes apontados no outro, agem dentro de cada um de nós.

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