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Estado de Minas PAULO DELGADO

Nações ingratas, futuro incerto

A atmosfera pesada que cerca a vida atual impôs uma rapidez na destruição de valores que só faz aumentar seu peso sobre a maioria das pessoas


27/08/2023 04:00 - atualizado 27/08/2023 07:17
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Casal de idosos em caminhada em parque
(foto: John Macdougall/AFP 4/5/23 )

A felicidade, esta sensação que de vez em quando a vida nos dá e nos tira, é coisa corriqueira. Ninguém é arquiteto da própria fortuna, mas quando a bom serviço segue má recompensa, a dádiva não agradecida equivale a uma ofensa. Nem sempre é possível atender ao outro em seu desejo, mas ser grato e reconhecido faz cessar a infelicidade de envelhecer esquecido. Nações ingratas têm um caráter pobre e um futuro incerto.

De todos as qualidades e significados ligados à velhice, a parte que menos conta hoje é reconhecer a sabedoria da idade. Especialmente em países dominados por paixões mundanas, música ruim, longe das sonatas, fugas e sinfonias fulgurantes e do fascinante passatempo da boa literatura. Países onde o termo velho não é forma respeitosa de tratamento, mas algo ridículo ou desprezível. Velhas casas, livros e cidades velhas, árvores antigas, amizades, famílias ricas ou não – sem memória, tradição, tudo fica inútil, rabugento, desiludido, cansado.! A intensa vida de ninguém conta mais, é a lenda passageira dos que roubam a história dos velhos que agora aspira ao título de sábio.

Sentimentos captados com nervos e estômago, não com o raciocínio e serenidade, reações imediatas sem experiência e reflexão, cada vez mais comuns, andam produzindo enrijecimento muscular, opiniões fragmentárias, sem a energia adequada a entender e responder aos desafios da realidade. A atmosfera pesada que cerca a vida atual impôs uma rapidez na destruição de valores que só faz aumentar seu peso sobre a maioria das pessoas. A aflição da indiferença não precisa diagnóstico. O sentido do passar das gerações não contém mais angústias pelo mau costume de não reconhecer o papel do outro na evolução da sociedade.

Muitas coisas são necessárias para uma vida feliz e estável. Poucas ações, no entanto, podem de fato fazer chegar ao destinatário os valores de uma boa vida. Não são carências de ingênuos, imaturos, eternos insatisfeitos que predominam. A falta de sentido de vida é múltipla, mais do que a carência material como sempre gosta de falar a política, a espiritual como insistem padres e pastores, ou educacional como todos imaginam ser o problema principal.

Direitos humanos, justiça social, distribuição de renda, leis compensatórias, é longa a história humana das leis públicas e estatais essenciais. E as melhores e mais compreensíveis não são as que querem ser outra coisa e se embrulham em rótulos de compaixão e assistência. Mas, mesmo quando assim são oferecidas, não traduzem simplesmente o que é “a” vida e o caminho para fazê-la justificada e feliz. A arte de dar à vida um sentido ideal só virá de ser humano real, despido de pretensões de mandar e ter poder. Bondade e compreensão é que evitam  a fúria e a solidão.

Países jovens são mais descuidados, zombeteiros e com tendência ao atrevimento e à amnésia quando se trata da contribuição pessoal de seus talentos. Nações menos sensíveis à sabedoria das condutas individuais são insensíveis à beleza com que o tempo sabe ornamentar as decisões realmente relevantes. Desvalorizar madeiras antigas, couros velhos, fazer pessoas gastas pelo infortúnio da indiferença em relação ao que fizeram em suas vidas, diz muito de uma nação sem futuro. Pessoas antes cobiçadas que perderam o atrativo da juventude ou do poder, mas não perderam autoridade e importância. Pessoas abandonadas pelos conflitos da ambição, por épocas em que a presunção vale mais do que a qualificação, sabem por que não lhe estendem a mão.

A história da maioria dos países ainda esconde a gratidão e o reconhecimento àqueles que vieram antes e puseram a locomotiva da sociedade a andar, espalhando a fumaça do bom costume e do bom direito. Muitos enterrados no mais fundo do cemitério para que ninguém os visite.

A grandeza dos seres humanos não deveria ser passageira. Mas quando Henry Kissinger, Conselheiro de dois governos dos EUA, aos 100 anos de idade é recebido com honras na China, porque meio século antes fez as duas nações se entenderem, é que se vê por que os dois países lideram o mundo.

UM SER HUMANO GENTIL E MAJESTOSO: Nenhum político brasileiro conseguirá subir a maior valor na escala do humanismo do que atingiu o deputado Eduardo Barbosa ao defender pessoas com deficiência. As derivas eleitorais dão a impressão que é o bom político que está no destino errado. Até que o eleitor percebe que quem tem um bem tão visível à mão e mal escolhe não recupera mais o que perdeu.

A futilidade do conceito de mudança em política tem causado mais dano do que proveito ao nosso país, e a falta de gratidão e reconhecimento aos verdadeiros talentos públicos deixa órfãos pais, amigos e excepcionais, que Eduardo tão majestosamente representava.



PAULO DELGADO, Sociólogo
contato@paulodelgado.com.br

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