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Na balança, Bolsonaro fica entre o autoritarismo e a democracia

O presidente se dedica a questões menores sem entender a altura do cargo que ocupa. Nos últimos dias, concentrou seus ataques à imprensa. Usou palavras inadequadas


postado em 10/10/2019 04:00 / atualizado em 10/10/2019 09:12

O presidente deseja o confronto, se alimenta da polarização política e depende dela para sobreviver, diferentemente de Fernando Collor e Dilma Rousseff(foto: Marcos Correa/PR - 3/1/19)
O presidente deseja o confronto, se alimenta da polarização política e depende dela para sobreviver, diferentemente de Fernando Collor e Dilma Rousseff (foto: Marcos Correa/PR - 3/1/19)
A Constituição de 1988 fez mais um aniversário no último sábado. A data passou despercebida. É compreensível. O país passa pelo momento mais dramático desde a promulgação da Carta, no já longínquo 5 de outubro de 1988. Não há dia sem que a cidadania republicana não seja ameaçada pela barbárie dos poderosos de plantão. Chama a atenção a fúria e o ódio dos extremistas. Fazem muito barulho. Estimulam os piores sentimentos. Destilam a violência e a cólera. Cultuam a ignorância. Desprezam os direitos humanos. Sonham com um regime de força, mas encontram uma barreira intransponível na Constituição cidadã.

A estagnação econômica é a marca do governo Jair Bolsonaro. O país está paralisado. O presidente se dedica a questões menores sem entender a altura do cargo que ocupa. Nos últimos dias, concentrou seus ataques à imprensa. Usou palavras inadequadas. Teceu ameaças. Vociferou aos quatro ventos. Contudo, sobre as principais questões de Estado, manteve silêncio. Tem enorme dificuldade – até porque reconhece suas limitações – de exercer plenamente a presidência da República. O quadro fica mais grave, pois o país enfrenta a mais longa crise da história republicana. A ausência da liderança presidencial é patente. Ele ocupa o tempo em ações irrelevantes, ataca diariamente adversários, constrói inimigos imaginários. As pesquisas de opinião já apresentaram o aumento da impopularidade em escala nunca vista – nos primeiros meses de gestão de um presidente – desde 1990. A maioria absoluta dos pesquisados não confia em Bolsonaro. É um claro sinal de insatisfação e de impaciência.

Em nove meses, o governo não conseguiu apresentar resultados palpáveis. Não é possível imputar ao PT as mazelas administrativas e econômicas. Dilma Rousseff saiu da Presidência em abril de 2016. Por outro lado, a gestão Michel Temer, em algumas áreas, iniciou um processo de reestruturação que obteve alguns êxitos. Basta recordar, entre outros exemplos, que em 2017 e 2018 o crescimento do PIB foi de 1,1% anual. No MEC, foi iniciado um trabalho de reorganização melhorando, ainda que de forma incipiente, as ações do ministério. Ou seja, Jair Bolsonaro não encontrou um cenário de terra arrasada quando assumiu a Presidência em 1º de janeiro de 2019.

A inépcia governamental deve ser imputada à atual gestão. O problema começou com a péssima reestruturação ministerial. Foi realizada uma caótica fusão de órgãos e ministérios. Basta observar o ministério da Cidadania, que é uma verdadeira bagunça organizacional. Os titulares das pastas não estão à altura dos desafios que o país deve enfrentar. Alguns ministros são patéticos, como a senhora Damares Alves.

Outros, como o das Relações Exteriores, colocam em risco a soberania nacional e os interesses estratégicos do nosso país. Imaginava-se que os militares pudessem, com sua experiência, dar alguma coesão à administração. Ledo engano. Acabaram engolidos pelo voluntarismo dos extremistas bolsonaristas. Alguns foram humilhados e tiveram de abandonar o governo. Os que ficaram acabaram se sujeitando ao irracionalismo presidencial. Inclusive, aceitando, sem questionar, no campo econômico, um processo de privatização que se choca frontalmente com a tradição das Forças Armadas. E, no terreno das relações diplomáticas, a sujeição aos Estados Unidos teve de ser aceita, rompendo uma concepção de quase meio século de uma política externa a serviço dos nossos interesses nacionais.

Nada indica que a presidência Jair Bolsonaro poderá manter o Brasil em ritmo de constante tensão política, sem resultados econômicos positivos, apostando no conflito entre os poderes, questionando a laicidade do Estado, confrontando com os princípios constitucionais e empurrando o país para o isolamento internacional. A tendência é que possa se repetir o que ocorreu em 1992 e 2016, ou seja, uma interrupção do período presidencial por um processo de impeachment. Impopularidade, perda de apoio parlamentar, estagnação econômica e tensão social conduzem inevitavelmente à queda do chefe do Executivo federal. Tudo pode ser ainda mais rápido quando há o tempero de acusações de corrupção envolvendo os donos do poder.

Diferentemente de Fernando Collor e de Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro deseja sempre o confronto. Se alimenta da polarização. Necessita dela para sobreviver. Acostumou-se com o gueto ideológico nos trinta anos de vida parlamentar. Seus enfrentamentos com os opositores são marcados pela despolitização. Rebaixa o embate para o senso comum. Isto porque não consegue – devido a suas limitações – qualificar o debate. Até suas evidentes simpatias para com o neofascismo ficam limitadas a frases vagas, sem edificar um conjunto orgânico de ideias. E não tem entre seus seguidores intelectuais que possam dar um verniz ideológico à sua ação. Isso – ainda bem –- limita os efeitos danosos ao Estado democrático de direito, que não é atingido nos seus fundamentos.
 

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