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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O balanço dos atalhos e eleições na Câmara e no Senado

A eventual vitória de Bolsonaro na disputa pelas Mesas do Congresso lhe dará fôlego, mas não será o bastante, caso sua popularidade continue desabando


24/01/2021 04:00 - atualizado 24/01/2021 07:40

Panelaços surgem como resposta política da oposição, enquanto Bolsonaro despenca nas pesquisas (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Panelaços surgem como resposta política da oposição, enquanto Bolsonaro despenca nas pesquisas (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
O Conselheiro Acácio, criação do escritor português Eça de Queiróz (1840-1900) no romance  Primo Basílio,  com passar do tempo acabou se tornando maior do que o protagonista que empresta o nome ao livro e os demais personagens, por seu pedantismo e suas obvie- dades.

A expressão “acaciano”, inspirada em suas platitudes e redundâncias, virou até adjetivo na língua portuguesa. Eça descreve-o de forma caricatural: “alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito.

O rosto aguçado no queixo ia-se alargando até a calva, vasta e polida, um pouco amolgada no alto. Tingia os cabelos, que de uma orelha a outra lhe faziam colar para trás da nuca; e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, maior brilho à calva; mas não tingia o bigode: tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca.

Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo e as orelhas muito grandes, muito despegadas do crânio”.
 
O que humanizou e fez do Conselheiro um personagem maior e universal foram seu falso moralismo (vivia amancebado com a criada), o burocratismo (adorava carimbos, despachos, fichas e relatórios que para nada serviam)  e a bajulação (toda vez que o nome do rei era pronunciado, erguia-se um pouco da cadeira). Como uma espécie de Barão de Itararé (Apparício Torelly) às avessas, suas frases de efeito tornaram-se famosas, como “a saúde é um bem que só apreciamos quando nos foge”.

Tudo para ele era cercado de pompa: “Que maior prazer, meu Jorge, que passar assim as horas entre amigos, de reconhecida ilustração, discutir as questões mais importantes, e ver travada uma conversação erudita...? Parecem excelentes os ovos”.
 
Conselheiros como ele pululam nos palácios e seus gabinetes. Muita gente gosta desse tipo de colaborador, que dá razão ao chefe em tudo. O presidente Jair Bolsonaro não foge à regra, mas — quanta ironia —, como diria o Conselheiro Acácio,  “as consequências vêm depois”.

É o que está acontecendo agora com a pandemia de COVID-19 no Brasil, cuja segunda onda é uma realidade dramática e, tudo indica, está se somando à “quarta onda” a que se refere o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que seriam os efeitos psicológicos das mortes, do desemprego, dos confinamentos e das desesperanças.

A diferença é que o general imaginava um desespero individual, que até poderia levar ao aumento dos suicídios, ou a saques e depredações espontâneos, mas que  poderiam provocar uma convulsão social.

Impeachment

Pazuello não contava, porém, com o desgaste provocado pelo negacionismo de Bolsonaro e uma resposta política da oposição.

É o que estamos vendo agora, com manifestações de protestos se sucedendo com força: panelaços nas janelas e memes nas redes sociais; e as carreatas, como as de ontem e de hoje, pedindo “vacinas já” e o impeachment do presidente da República, que desabou nas pesquisas.

Quaisquer que sejam os resultados das eleições das Mesas da Câmara e do Senado, mesmo que vençam os candidatos apoiados por Bolsonaro — Arthur Lira (PP-AL), na Câmara, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no Senado –, os políticos governistas também sentiram o cheiro de animal ferido na floresta.

Nos casos de vitória de Baleia Rossi (MDB-SP) e/ou Simone Tebet (MDB-MS), principalmente a do primeiro, a agenda de costumes e institucional de Bolsonaro estará definitivamente interditada.

A pauta do Congresso será a crise sanitária, a recessão e a inflação, o desemprego e a renda,  e o fracasso do governo.
 
O Brasil já viu esse filme duas vezes, nos governos Collor e Dilma, o primeiro por causa da inflação, o segundo em decorrência da recessão, ambos temperados por escândalos de corrupção. Nos dois casos, as insatisfações desaguaram no impeachment.

No de Collor, o clamor das ruas foi liderado pelo PT, mas o realinhamento das forças políticas resultou na eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No de Dilma, o PSDB trabalhou para apeá-la desde o primeiro dia no cargo. Quando chegou nas eleições, deu Bolsonaro. As circunstâncias do impeachment são crime de responsabilidade e grande insatisfação popular, além da vontade da oposição de atalhar o processo de alternância de poder.

Entretanto, o perfil do vice-presidente é dado pelas alianças que viabilizaram a eleição do presidente defenestrado. Itamar era aliado de Collor; Michel Temer, de Dilma. O primeiro não podia se candidatar, o segundo foi inviabilizado por denúncias quando ensaiava a reeleição.
 
A eventual vitória de Bolsonaro na disputa pelas Mesas do Congresso lhe dará fôlego para salvar o mandato, mas não será o bastante, caso sua popularidade continue desabando.

Sua força no Congresso resulta da ação de uma espécie de “subgoverno”, que sempre manteve boas relações no Senado e na Câmara, formado por alguns ministros e o grupo de militares que hoje controla o Palácio do Planalto.

São aliados que também podem derivar para o impeachment se perceberem uma debacle iminente, pois estariam melhor servidos com o vice Hamilton Mourão, um general de quatro estrelas, uma “salvador da pátria” embalado nas casernas e pelo povo nas ruas.  E o que viria depois? Ninguém sabe, 2022 já está em aberto.

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