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Estado de Minas COLUNA HIT

Aceitação e fé, as palavras de ordem de Júlia Tizumba

No 'Diário da quarentena,' a cantora e atriz revela como atravessa este momento de crise sob a proteção de Oxum


postado em 21/06/2020 04:00

Diário da quarentena

Bem-vindo à luta

Júlia Tizumba
Cantora e atriz
 As palavras do momento têm sido aceitação e fé. Experimento ser como as águas doces dos rios, que seguem o fluxo, entregues. Passam por rochas, pedras, galhos, folhas, quedas fortes de cachoeira e seguem fluidas, sem se deter por nada, sem controlar, na certeza de que seu destino é o mar. Assim atravesso este momento: ancorada na espiritualidade e sob a guiança de minha mãe Oxum.

Em casa, na roça, com o companheiro Belisario, nossa primogênita Iara Mãe D’água e a caçula Serena na barriga. Grávida, prenha, carregando a esperança no ventre.

Para quem sabe, desde muito criança, que vidas negras importam, que a história deste país foi construída de forma cruel, desigual, e que sofremos os reflexos de tudo isso até hoje, não há novidade.

Os acontecimentos nos EUA, o isolamento social e as tecnologias que nos permitem filmar e viralizar uma cena cruel de assassinato podem colocar uma lupa ou direcionar os holofotes para Joãos, Miguéis, Amarildos e Cláudias que morrem em grande quantidade, todos os dias, desde sempre e invisibilizados pelo sistema brasileiro racista, machista e elitista.

Mas não há novidade. Ao assistir a noticiários e analisar a realidade, me visitam sentimentos como tristeza, raiva, indignação, medo, impotência. Isso também não é de agora, vem desde que me entendo por gente.

E desde que me entendo por gente, fiz duas escolhas: lutar por um mundo mais justo e ser feliz. Por isso, em honra aos que vieram antes de mim e preparando o terreno para os que chegam, esses sentimentos passam. O que fica, como sempre ficou, é a esperança, a missão de alma de contribuir para a transformação da realidade, o desejo revolucionário de contrariar as estatísticas impostas pelo sistema e estar bem.

Também entendi, bem antes da quarentena, que apesar da minha vontade, não vou conseguir mudar o mundo inteiro. Decidi, então, mudar o que posso, transformar o que for possível no meu entorno, colocar o meu grão de areia para a construção de um mundo mais justo a partir das minhas escolhas e ações diárias, dos lugares que ocupo, da criação das minhas filhas, do meu trabalho, do que está ao meu alcance.

Por ora, tenho repousado meu olhar e esquentado meu coração nas alegrias simples da vida, como fazer uma horta, sentir o sol batendo no rosto junto da família, olhar os pássaros e os macaquinhos nas árvores, aprender com a sabedoria da natureza.

Quero acreditar que sairemos melhores lá na frente. Para quem acordou agora, bem-vindo à luta! Escolha sua arma, há muitas: papel e caneta, livros, tambores, microfone, embate assertivo, diplomacia, cessão de privilégios, ocupação de espaços de poder. Nesse time, você pode escolher a posição e o estilo de jogo: ataque, defesa, meio-campo, jogar por fora, por dentro.

O importante é fazer gol. Ganhar este jogo contra a desigualdade, o preconceito, o desrespeito à diversidade, a má distribuição, a falta de estrutura e contra tudo que viola os nossos direitos humanos.

Que as águas não faltem e nos levem, nos lavem, nos curem, abençoando nossa saúde mental, física e espiritual.

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