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Estado de Minas DIÁRIO DA QUARENTENA

'Talvez tudo isso tenha vindo para nos alertar sobre algo maior'

A opinião é da atriz Fafá Rennó, a convidada deste domingo da série 'Diário da quarentena', da Coluna Hit


postado em 05/04/2020 04:00 / atualizado em 05/04/2020 08:57

Eu preciso deesperança. Estou ficando triste e não gosto disso. Preciso de gente%u201D

Fafá Rennó atriz

São Paulo. Agora são 9h09 da manhã. Tem muito pouco barulho na rua. Não ouvi ainda o barulho de helicópteros no céu. Moro numa região muito movimentada, e a esta hora era pra ter muita vida gritando lá fora. Tá estranho. Tá estranho, sim. Acordei faz pouco tempo... Ontem, fui dormir às 2h30. Tenho dormido tarde. Não gosto. Mas o sono está demorando a vir. Hoje é quarta-feira, quarto dia, e estou aqui no apartamento de 40 metros quadrados, em São Paulo. Daqui, ouço constantemente o barulho da porta abrindo e fechando na entrada do prédio. É um prédio com muitos, muitos apartamentos. São muitas, muitas pessoas. A porta da portaria não tem aberto e fechado com a mesma frequência. Estamos em nossos apartamentos de 40 ou 42 metros quadrados em São Paulo. Estamos de quarentena.

Esta semana, fiquei sabendo pela produção da peça Neblina que o CCBB-SP suspendeu ou cancelou – ainda não entendi direito – a nossa temporada, que iria de abril a maio. Não teremos trabalho. Desde o fim da temporada em BH, em fevereiro, estou de “férias”. Sempre falo que ator não tira férias... está sem projeto, está sem trabalho. Ele fala que é férias pra ficar mais calmo, ter a sensação de que vai passar logo. Acho que me colocaram de “férias” forçadas. Longas férias forçadas.
Não gosto de “férias” longas desse jeito. Vai fazer tudo sair do lugar, muito em breve. Tenho contado os dias. Pelas redes sociais, acompanho amigos, colegas, companheiros de profissão entrando em “férias” forçadas. Trabalhamos com o contato direto com o outro, com o público, para o público. Não podemos arriscar. Tá certo. Respiro. É preciso agora. Temos que pensar no coletivo. E nós precisamos do coletivo. Precisamos uns dos outros. Sempre soube disso. Teatro sem plateia não existe. Simplesmente não existe!
Tento fazer alguma rotina aqui nestes meus 40 metros quadrados. Acordo, arrumo a cama, troco de roupa, escovo os dentes. Ontem, peguei umas coisas que tenho pra fazer ginástica. Preciso começar a fazer. Meu corpo não pode ficar parado tanto tempo. Logo a peça Neblina volta e devo estar em condições de fazer as quedas.

Faço minhas refeições todas aqui – há um tempo, aliás. É mais em conta e estou em tempos de economia. Vejo TV, preciso ler mais. Já escolhi os livros. Minha lista de séries na Netflix cresceu muito depois que fiz uma enquete no stories pedindo sugestões a meus “amigos” virtuais. Eles estão lá. Os amigos... Converso com todos que posso pelo celular. Ainda não fiz vídeo, mas hoje vou fazer. Preciso ver gente da minha gente. Talvez, hoje dê uma faxina novamente. Já faço isso normalmente, mas acho que vou fazer mais vezes nesse tempo. Preciso me mexer.

Preciso voltar a meditar logo. Respiro. Olh o as plantas, converso com elas, rego mais à noite pra elas ficarem fresquinhas. Parece que o verão resolveu chegar ao final. Neste apartamento bate muito sol, é quente. Ando com o ventilador me seguindo. Abro o computador, mando uns e-mails, estou disponível. Não gosto de “férias” longas assim.

Daqui a pouco, vou entrar na reserva. Mas tenho esperança de que logo tudo volte ao normal. Preciso dessa esperança. Estou ficando triste. Não vou negar. Penso nas outras pessoas. Nas que estão em situação de rua. Penso nas pessoas que vi na foto da Estação da Sé. Penso nos trabalhadores que não podem parar nem por um dia. Penso nas necessidades. Penso nas ganâncias do homem. Penso na sua fragilidade. Penso nas pessoas que têm muito medo, nas que entram em pânico. Penso no que está acontecendo e no que está por vir.

Somos um sopro. E precisamos começar a entender o que estamos fazendo aqui. Talvez tudo isso tenha vindo para nos alertar sobre algo maior. Todos nós, do planeta Terra, estamos com medo de algo invisível que pode nos matar em questão de dias. Para deter esse invisível, precisamos nos afastar e respeitar o outro a distância. Dizem que se consegue entender melhor um problema quando se toma distância. É preciso que algo nos modifique. Eu preciso pensar assim. Eu preciso de esperança. Estou ficando triste e não gosto disso. Preciso de gente. Gente viva e bem de saúde. Preciso do outro pra rir, chorar e conversar. Preciso de você vivo! Se cuida.
10h10. Hora de cuidar de mim, pra você.
Bom dia!
 

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