Jornal Estado de Minas

RACISMO ESTRUTURAL

'Não sou racista, até tenho amigos negros': você já ouviu essa frase?



"Não sou racista, até tenho amigos negros". Já perdi as contas de vezes que escutei essa frase. Vamos lá, repita comigo: ter proximidade com pessoas negras não faz com que alguém deixe de ser racista! 
 
No dia a dia, essa pessoa pode ter várias falas, atitudes e comportamentos racistas. Isso inclui também as pessoas que praticam o racismo e são casadas com pessoas negras ou têm filhos negros. Esse parentesco não é um carimbo para demonstrar que essa pessoa não é racista. 




 
Outro caminho muito comum que algumas pessoas usam para fugir da responsabilidade quando são acusadas de racismo é o “humor”. Ou seja, dizem que foi apenas uma “brincadeira”, uma “piada” e que não tiveram a intenção de ofender.

Tá aí outra coisa para repetir comigo e nunca mais esquecer: toda “piada” racista ofende! Toda  “brincadeira” racista  tenta diminuir a dignidade e a humanidade de pessoas negras! Repita também comigo:a existência, a identidade e a essência de uma pessoa não podem ser motivos de “piadas”.
 
Além disso, essa “brincadeira” racista também é uma das ações que determinam o tratamento que pessoas negras recebem em diferentes contextos, reforçam o imaginário popular que pessoas negras não merecem ser respeitadas, que são cidadãos de segunda classe. 




 
Tudo que falei acima são legados da escravidão. É muito importante ressaltar que  o racismo estrutural foi fomentado e fortalecido durante  mais de 300 anos. Ou seja, por mais de 300 anos pessoas negras foram arrancadas de suas terras, tiveram suas culturas supridas, separaram e destruíram suas famílias e, também como uma forma de dominação, nem mesmo seus nomes foram respeitados. Pelo contrário, essas pessoas foram coisificadas e desumanizadas de todas as formas possíveis. 
 
Por mais de 300 anos “piadas”, “brincadeiras ”, “apelidos” e palavras racistas foram criados e fortalecidos. Por mais de 300 anos, essas pessoas negras foram torturadas psicologicamente e fisicamente. 
 
E esse legado infelizmente ainda vive. E mesmo depois de 134 anos do fim da escravidão, o Brasil ainda não escolheu enfrentar esse legado. Quer saber uma consequência disso? 
 

As manifestações do  racismo estrutural também passaram a ser ainda mais cínicas e sofisticadas. De acordo com a filósofa e escritora Djamila Ribeiro, o racismo é o crime perfeito, porque sua manifestação gera desigualdades, dor e também a desumanização de milhões de pessoas, mas ainda assim, muitos negam sua existência.




 
“Você entendeu errado”, “não foi racismo da minha parte, você que se ofende fácil", frases assim são muito comuns entre as pessoas que praticam racismo e tentam colocar a pessoa alvo do racismo com uma pessoa desequilibrada ou como uma pessoa “mimizenta”. 
 
Entenda, o racismo pode se manifestar de forma escancarada nas diferentes estruturas do Brasil, ou seja, de forma escancarada no judiciário, na economia, na educação, no acesso à saúde, no acesso à moradia, entre outras estruturas. Mas não se esqueça: ele também se manifesta de maneiras cínicas e sofisticadas.