Estações mais quentes exigem cuidados especiais com os bovinos
O estresse térmico pode resultar em perda de peso do gado de 10% a 20% no ganho médio diário, gerando grande prejuízo para produtores
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A chegada das estações mais quentes no Brasil, já a partir do mês de novembro, demanda algumas mudanças no manejo dos animais de produção. O estresse térmico pode reduzir o consumo de ração, alterar o metabolismo e comprometer diretamente o ganho de peso dos animais. Um estudo de 2024, realizado pela Phibro Saúde Animal nos Estados Unidos, mostrou que bovinos submetidos ao calor intenso podem apresentar queda de 10% a 20% no ganho médio diário (GMD) de peso.
De acordo com Márcio Vassalo, engenheiro agrônomo e nutricionista responsável da Master Nutrição, os mesmos percentuais de perda de peso associados ao estresse climático também são observados no Brasil. Ele cita uma análise atualizada de mercado (referente a 2025) da Scot Consultoria, confirmando que a queda no ganho de peso em períodos de calor pode elevar o custo por arroba produzida e prolongar o tempo de terminação (o período de engorda do gado).
Na prática, um bovino que ganha menos peso por dia vai precisar de mais dias de ração para atingir o mesmo acabamento de carcaça. Com base nas perdas médias apontadas pelo estudo da Phibro Saúde Animal, considerando uma redução de 15% no GMD, Márcio Vassalo calcula um prejuízo superior a R$ 180 por animal a cada ciclo, considerando o aumento de tempo e o custo alimentar acumulado.
De acordo com o nutricionista, quando tratado com ração balanceada e conforto térmico, um bovino de corte ganha entre 1,5kg e 1,8kg por dia em massa. Nessas condições, os bovinos atingem o peso de abate em 90 dias a partir do momento em que é levado para a engorda. “É a partir desses parâmetros que consideramos a perda do GMD e o atraso da terminação. Pode parecer pouco aumentar R$ 180 no custo de produção para uma cabeça, mas, imagine o impacto para quem tem de 3 mil a 4 mil animais, o que seria um grande produtor em Minas Gerais e médio no Centro-Oeste do Brasil?”, analisou o engenheiro agrônomo.
"Com a formulação certa para o verão, a dieta vira uma estratégia para encurtar o tempo de terminação e proteger a margem por arroba, mesmo em calor extremo”
José Loschi
Fundador da SRX Holdings
PROTOCOLOS CORRETOS
Mas, o nutricionista garante que, ao adotar os protocolos corretos, é possível manter o ganho de peso e equilibrar custos de produção no período mais quente do ano, cuidados que devem durar até março. A primeira ação deve ser o ajuste da formulação da dieta do gado, seja de leite ou de corte. Assim, a ideia é aumentar a densidade energética com o uso de gorduras protegidas, que é um suplemento de lipídios que passa por um processamento para resistir à degradação no rúmen (o maior compartimento do estômago dos ruminantes) para que seja absorvido no intestino do animal.
Ao mesmo tempo, é recomendável reduzir as fibras na dieta dos bovinos, dar preferência a carboidratos menos fermentáveis (como o milho), ajustar o balanço de aminoácidos e incluir aditivos que estimulem o consumo e reduzam a produção de calor metabólico. "Com a formulação certa para o verão, o produtor recupera parte da conversão perdida. A dieta vira uma estratégia para encurtar o tempo de terminação e proteger a margem por arroba, mesmo em calor extremo”, completou José Loschi, fundador da SRX Holdings, que controla a Master Nutrição Animal.
As propriedades com mais recursos costumam ter uma fábrica de ração própria, comprando os insumos, incluindo vitaminas, para produzir o composto. Para os produtores menores costuma ser mais vantajoso comprar a ração pronta, existindo no mercado formulações específicas para o “verão”.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o horário de oferecer alimento aos bovinos neste período de calor. A ração deve ser colocada nas horas mais frescas do dia – especialmente no início da manhã, por volta das 6h, e no fim da tarde, perto das 17h –, e nunca às 12h. Esta estratégia melhora a ingestão e sustenta a eficiência de conversão, já que o animal não precisa gastar energia adicional para dissipar calor durante o pico de temperatura.
Como o controle térmico do bovino está atrelado à sua hidratação, é preciso ter água fresca e limpa à disposição dos animais. A assepsia dos cochos, tanto de água quanto de ração, é importante. De acordo com Márcio Vassalo, o gado não bebe água suja, muito menos de um recipiente que tenha acúmulo de lodo. A temperatura da água também é importante, já que, se for fria, o animal vai gastar energia para manter a temperatura ideal do sistema digestivo, uma energia que poderia ser usada para produzir leite ou carne.
Quanto às instalações, no período mais quente do ano é importante manter sombrites à disposição nas áreas de pastagem, caso não haja sombra natural. “Além de melhorar o conforto, essa combinação aumenta o tempo de alimentação e reduz a queda de desempenho nas horas mais quentes”, explica José Loschi. No caso das instalações fechadas, mais comum na produção de leite, a recomendação é manter uma cama seca, com maravalha, além de ventiladores e aspersores de água para aliviar o calor.
“É preciso monitorar se o animal está ofegante ou com salivação excessiva, para saber se o organismo está conseguindo fazer a troca de temperatura com o ambiente. As vacas leiteiras são mais suscetíveis ao calor, já que o processo de produção de leite gera alto calor metabólico”, pontuou o nutricionista responsável da Master Nutrição.
“Pode parecer pouco aumentar R$ 180 no custo de produção para uma cabeça, mas, imagine o impacto para quem tem de 3 mil a 4 mil animais”
Márcio Vassalo
Engenheiro agrônomo e nutricionista da Master Nutrição