editorial

A marcha da mulher negra

Não há como construir um caminho de desenvolvimento social e implementar ações que reduzam tanto as perspectivas de milhões de brasileiras

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Na próxima terça-feira, Brasília e outras cidades de 26 estados serão palco de uma mobilização nacional. Após 10 anos de intervalo, ocorrerá a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver, movimento que busca trazer visibilidade às demandas desse grupo que corresponde a 28% da população brasileira. Em 2015, a manifestação reuniu mais de 100 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. Este ano, além do ato em praça pública, haverá sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados em homenagem à iniciativa e outros eventos oficiais.

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Em um país com praticamente quatro séculos de escravidão institucionalizada, a Marcha das Mulheres Negras constitui um dos diversos movimentos sociais que reivindicam ações públicas do Estado e conscientização da sociedade a respeito da condição do negro no Brasil. Diferentes dados estatísticos indicam que a condição da mulher negra é ainda mais difícil. Elas têm menor acesso ao mercado de trabalho; estão em proporção muito inferior à das mulheres brancas no ensino superior; são mais vítimas da violência doméstica; contribuem menos para a seguridade social e têm a menor cobertura de benefícios previdenciários.


Em apoio irrestrito ao movimento, os Diários Associados promoveram, na última quarta-feira, em Brasília, o debate Histórias de Consciência: Mulheres em Movimento. Com a presença de autoridades como a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a vice-governadora do DF, Celina Leão, o encontro reuniu um mosaico de visões e testemunhos sobre a resistência e a luta das brasileiras que enfrentam toda sorte de adversidades – na família, na educação, na saúde, na segurança pública.


Um dos pontos centrais na valorização das mulheres negras é por meio da educação. Convidada para o evento, a professora e linguista Gina Vieira, idealizadora do Programa Mulheres Inspiradoras, relatou um modelo que se perpetua nas salas de aula do Brasil. “Nos materiais escolares, as mulheres não apareciam como heroínas ou protagonistas. Como esperar que meninas sonhem grande se, desde a infância, aprendem conteúdos que reduzem mulheres a coadjuvantes ou a objetos?”, questionou. Para a docente, a escola atual reproduz um modelo racista e sexista, subordinado a uma lógica que, por séculos, violentou e silenciou pessoas negras.


Esse é apenas um dos diversos aspectos levantados pelos movimentos que orbitam ao redor da Marcha das Mulheres Negras. Nesse contexto, são de enorme relevância as duas ideias-forças que mobilizam o movimento: reparação e bem-viver. “A escolha de unir esses dois conceitos reforça o entendimento do movimento de mulheres negras de que não é possível alcançar o bem-viver sem que o Estado e a sociedade reconheçam e paguem a dívida histórica, política e econômica com a população negra, em especial com as mulheres negras, tornando a reparação a base para a construção de uma vida plena e justa”, sintetiza a conselheira nacional de saúde e coordenadora da Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher (Cismu/CNS), Rosa Anacleto.


Efetivamente, o Brasil tem um acerto de contas a fazer após um longevo histórico de exploração, preconceito e desigualdade. Não há como construir um caminho de pleno desenvolvimento social, político e econômico sem elaborar e implementar ações que reduzam tanto as perspectivas de milhões de brasileiras. É dever do poder público e obrigação moral da sociedade envidarem esforços para reconhecer e estimular o valor das mulheres que, desde tempos imemoriais, têm dado a própria vida para servir os outros. Chegou a hora de o Brasil retribuir essa contribuição histórica com mais justiça social e oportunidade, em nome de todas as negras.

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