Sustentabilidade social na arquitetura
Ao incorporar o termo sustentável, se oficializa a ideia de desenvolvimento humano numa ótica integral, visando todas as esferas da vida: econômica, social, política e ambiental
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Siga noKaren Niccoli Ramirez
Especialista em Sustentabilidade das Edificações e docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Asustentabilidade no campo da arquitetura modifica a visão de projetar e construir em concordância com as características físico-naturais de cada ambiente, na tentativa de ser socialmente justa, pelo uso racional do capital natural do planeta, incorporando mecanismos de eficiência energética, reúso da água e reciclagem dos materiais, adaptando-se à topografia local, oferecendo conforto e qualidade de vida aos usuários.
Uma arquitetura sustentável concebe um projeto e sua construção de forma responsável, buscando otimizar os recursos naturais e sistemas de edificação que minimizem o impacto das edificações sobre o meio ambiente e seus usuários. Essa concepção faz referência a uma construção comprometida com a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida dos seres humanos e demais seres vivos.
Somando-se a essa ideia, o termo “construção verde” alude ao desenvolvimento sustentável, conceito utilizado no relatório de Brundtland de 1987 da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento de Nações Unidas – Nosso Futuro Comum –, que afirma que é aquele que satisfaz as necessidades das gerações presentes sem comprometer as possibilidades do futuro para atender suas próprias necessidades.
Ao incorporar o termo sustentável, se oficializa a ideia de desenvolvimento humano numa ótica integral, visando todas as esferas da vida: econômica, social, política e ambiental, cuja referência se solidifica nos princípios de equidade, participação, segurança, sustentabilidade e governabilidade.
Assim, os edifícios projetados pela arquitetura sustentável utilizam materiais e técnicas de construção ditas ecológicas e sistemas de construção verde, ou seja, buscam pela utilização de recursos renováveis e materiais de menor impacto ambiental como madeira reciclada ou reutilizada; madeira fabricada com PET – Polietileno Tereftalato – reciclado; corantes vegetais; bioconcreto a base de cana-de-açúcar e demais resíduos provenientes da agroindústria; tijolos solo-cimento; argamassa de argila; bambu; pedra; cal; palha de feno; aço reciclado e materiais recuperados, que são menos nocivos ao meio ambiente.
Os materiais de construção de menor impacto ambiental promovem a conservação dos recursos naturais, protegem o meio ambiente, melhoram a qualidade de vida das pessoas, recuperam os espaços urbanos e criam empregos na indústria da construção sustentável.
Em relação à busca pela eficiência energética, destacam-se os sistemas de energia renovável mediante uso de painéis solares e turbinas eólicas; os sistemas de coleta e reúso de águas pluviais para irrigação e as opções por materiais locais de menor impacto ambiental, seja pela redução da emissão de gases decorrentes do transporte, seja pelo potencial uso de mão de obra local.
O desenho bioclimático, neste contexto, considera as condições do entorno dos edifícios otimizando o desenho em função das variações de temperatura, exposição solar e velocidade dos ventos relacionados à topografia do lugar. Para tanto, as ferramentas que se utilizam da metodologia BIM – Building Information Modeling – viabilizam um trabalho colaborativo apoiado em tecnologias da quarta revolução industrial; pela modelagem digital é possível simular variáveis climáticas e ambientais subsidiando a tomada de decisão sobre o uso de materiais e detalhes construtivos.
A sustentabilidade social também se manifesta na qualidade do espaço interior ao proporcionar espaços cômodos, saudáveis e de fácil acesso para os usuários; ventilação natural e soluções que reduzam a poluição sonora e forneçam conforto acústico e térmico mediante materiais isolantes. Vale ressaltar que a sustentabilidade social melhora a qualidade de vida dos usuários também ao criar espaços públicos que fomentem a interação social, fortaleçam a liderança comunitária e promovam a segurança e a participação cidadã.
Os desafios para sua implementação se relacionam com a adaptação às condições locais, à disponibilidade de materiais de menor impacto ambiental e à resistência às mudanças nas práticas construtivas tradicionais.