CARGAS DE RISCO

Para marcar no GPS: as rodovias mais perigosas no caminho dos caminhoneiros

BR-381 em Minas foi a que concentrou mais desastres (3.137), mortos (116) e feridos (1.492) no país envolvendo caminhões e carretas desde 2022, indica PRF

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Montes Claros, Francisco Sá, Grão Mogol, Brumadinho, Itatiaiuçu e Rio Manso – Nascido em Camanducaia (MG), no Sul do estado, o caminhoneiro Fábio Augusto Camargo, de 39 anos, enfrenta a tensão de percorrer os segmentos mais perigosos para ocupantes de carretas e caminhões do Brasil durante a metade dos dias a cada mês. “Mesmo quem já conhece cada curva da rodovia, cada ponto de freio não pode vacilar. A armadilha não é a pista, mas como os outros dirigem nela. Então, quem não conhece te acerta na curva, te obriga a frear de uma vez e a sair da pista. Eu mesmo já fui vítima de acidentes. Tem de ficar atento, vivo, livre de sono, livre de cansaço, tem de dirigir absolutamente ligado”, recomenda.

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Só o Km 525 da BR-381, na Serra de Igarapé, em Brumadinho (MG), Grande BH, registrou seis mortes de pessoas que ocupavam caminhões no período de 2022 a julho deste ano, em 34 sinistros que resultaram em outras 36 pessoas feridas. É o mesmo local onde morreram sete torcedores do Corinthians em um ônibus, em 20 de agosto de 2023. Um trecho de curvas fechadas em descidas fortes no sentido São Paulo, sem áreas de escape. Atualmente, a concessionária Arteris Fernão Dias tem obras na área para alargamento e construção de áreas de escape, mas que também têm sido criticadas.

“Essa obra que estão fazendo tem causado muitos acidentes. Toda semana temos notícia de mais batidas, saídas de pista... É para melhorar, mas vai piorar por enquanto? Está muito complicado e perigoso subir e depois descer a serra. O que mais ocorre é o motorista que não conhece o trecho, às vezes porque é duplicado, se empolga e depois não segura mais o caminhão pesado”, afirma o borracheiro Hélio Marques de Morais, de 46 anos. 


Ameaça e surpresa na temida BR-381

A BR-381 em Minas Gerais foi a que concentrou mais sinistros (3.137), mortos (116) e feridos (1.492) no país envolvendo veículos pesados de transporte de carga, de acordo com dados da PRF. Nela, o trecho sul, denominado Rodovia Fernão Dias, entre os municípios de Contagem e Extrema, na divisa com São Paulo, concentra 62% dos desastres, 58% dos óbitos e 61% dos feridos, superando assim o trecho norte, de Belo Horizonte a Governador Valadares, que tem a fama de abrigar a “Rodovia da Morte”.

Os desastres envolvendo veículos de carga na BR-381 indicam ser o erro humano o principal obstáculo à segurança, com velocidade incompatível (19,45%) e falhas de reação (27,03%, somando “ausência de reação” e “reação tardia”) liderando as causas. Contudo, quando se observa o perfil dos casos fatais, a situação é mais grave: a velocidade incompatível salta como associada a 33,62% das mortes e a fadiga (“condutor dormindo”) surge como fator letal em 12,93% das ocorrências.

A rodovia com segundo maior índice de mortes de ocupantes de veículos de carga de 2022 a julho deste ano é a BR-116, também em Minas Gerais, com 71 mortos. Também é a que registrou o sinistro com mais mortes do Brasil, em Teófilo Otoni (MG), quando o semirreboque de uma carreta tombou com um bloco de granito que foi atingido por um ônibus, matando 39 pessoas, em 21 de dezembro de 2024. Uma estrada de pistas simples com tráfego intenso, sinuoso e neblina.

A BR-364 (MT) é a terceira rodovia mais mortal para caminhoneiros no país, somando 68 mortes. Nela, a “reação tardia” foi a principal causa fatal no período de 2022 a julho deste ano, segundo as ocorrências da PRF. Falha que levou a tombamentos (12% das mortes) e a saídas de pista (7%). Na sequência, a BR-251 (MG) registra 67 óbitos, seguida de perto pela BR-277 (PR), com 66.

O ponto mais letal da BR-364 (MT) é a sequência entre o Km 340 e o Km 349 (Santo Antônio do Lerverger), responsável por 31% de todas as mortes da rodovia (21). Os cenários fatais são agravados pela geometria de curvas, excesso de velocidade e ultrapassagens indevidas em trechos de pista simples, resultando em tombamentos e saídas de pista, segundo o cruzamento dos dados da PRF.

Pesadelo na Serra de Francisco Sá

A BR-251 é a quarta com mais mortes de ocupantes de veículos de carga, com 67 mortes, sendo que, no Norte de Minas, o trecho entre os Kms 470 e 479 (Francisco Sá, Grão Mogol e Montes Claros) concentra 19% das mortes da estrada (13). A análise revela a falha humana – “velocidade incompatível” e “reação tardia” – como o principal fator de risco, responsável por 21,37% dos acidentes.

“Sempre peço proteção a Deus”, diz o caminhoneiro Mário César da Silva, de 45 anos, contando o que faz toda vez que percorre a BR-251, uma das rodovias federais mais perigosas de Minas e do país. Com estimativa de tráfego de 10 mil veículos de cargas por dia, a estrada virou um pesadelo para caminhoneiros e carreteiros que precisam passar pelos 300 quilômetros que ligam Montes Claros (MG) à BR-116 (Rio-Bahia).

Pista simples, descidas e curvas perigosas, somadas ao intenso trânsito de caminhões e carretas fazem do medo uma constante para quem precisa viajar pela estrada. A equipe do Estado de Minas constatou o clima de tensão ao percorrer a rodovia, passando pelo perigoso trecho da Serra de Francisco Sá, uma sequência de curvas sinuosas em terreno acidentado, entre os municípios de Francisco Sá (MG) e Grão Mogol (MG), que soma seis quilômetros, do Km 468 ao 474, em que acidentes são rotineiros. 


Carreta com cabine semidestruída no acostamento da perigosa br-251 no norte de minas: segmento é temido até por caminhoneiros experientes, que reconhecem abusos praticados pela própria categoria
Carreta com cabine semidestruída no acostamento da perigosa br-251 no norte de minas: segmento é temido até por caminhoneiros experientes, que reconhecem abusos praticados pela própria categoria corpo de bombeiros de minas gerais/divulgação

  

Fadiga, abusos e falhas na rotina de desastres

Quando se considera apenas a quantidade de ocorrências, no período pesquisado a segunda via com mais sinistros do transporte de cargas brasileiro foi a BR-116 (SP), com 3.060 ocorrências. A principal causa é a colisão traseira em retas de pista dupla e céu claro, um padrão de falha humana por reação tardia (18% em SP) também visto na BR-101 (SC), a terceira com mais sinistros (2.719).

O trecho urbano da BR-116 (SP) entre o Km 220 e o Km 229 (Guarulhos a São Paulo) concentra 7% dos sinistros, dominados por colisões traseiras em retas de pista múltipla, principalmente por reação tardia. Um cenário similar de falha humana e tráfego urbano intenso ocorre na BR-101 (SC), onde o trecho do Km 200 ao Km 209 (São José a Florianópolis) responde por 8% das ocorrências (222). A diferença crítica da BR-116 (SP) surge em trechos rurais, como no segmento do Km 510 a Km 519 (Barra do Turvo a Cajati), onde o tombamento em curvas de pista simples responde por 5% dos sinistros.

A análise das ocorrências com veículos de carga no período avaliado pelo Estado de Minas evidencia que falhas humanas, como reação tardia a algum evento ou situação de tráfego, é o principal vetor de acidentes, resultando em 27% de colisões traseiras na BR-101 (SC) e 7% dos sinistros em apenas 10 quilômetros da BR-116 (SP). Comportamentos como excesso de velocidade em curvas e fadiga em trechos de serra agravam a letalidade, o que leva a crer que a maioria das tragédias seria evitada com fiscalização rigorosa da jornada de trabalho e de velocidade, melhorias de infraestrutura, como duplicação e barreiras, e a direção defensiva focada em distância segura entre veículos.


O que diz quem cuida das BRs

A Arteris Fernão Dias, concessionária que administra o trecho mais mortal para caminhoneiros em uma rodovia federal brasileira, a BR-381 (Rodovia Fernão Dias), em Minas, não repassou informações sobre obras na estrada. Informou que “além dos investimentos já realizados na engenharia de tráfego, atua na conscientização dos usuários, com o Programa Viva, representando seu compromisso com a valorização da vida e a segurança viária, levando conscientização e cuidado a todos os que circulam pelas rodovias”. “Por meio de campanhas educativas e ações de saúde, cidadania e prevenção, os programas promovem atitudes responsáveis, reduzem sinistros e fortalecem o vínculo entre a concessionária e as comunidades lindeiras”, acrescentou, em nota.

Em 2025, as ações teriam somado mais de 180 iniciativas voltadas para a prevenção de acidentes nos municípios da área de influência da Fernão Dias. “Cada iniciativa traduz o propósito de humanizar o trânsito, salvar vidas e construir estradas mais seguras, solidárias e sustentáveis”, informou, anunciando que fará novos investimentos na rodovia.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que o segmento da BR-381 entre Belo Horizonte e Caeté, na Grande BH, tem previsão de obras de duplicação até o fim de 2025, enquanto intervenções no trecho até Ravena (MG) estão em revisão. Sobre essa e as demais rodovias, afirma que “todo o segmento sob responsabilidade do departamento está coberto por contratos de manutenção, garantindo que a rodovia ofereça aos usuários condições adequadas de trafegabilidade”.

“Em relação à BR-251/MG, todo o trecho entre a BR-116/MG e a cidade de Montes Claros está coberto por contratos de manutenção e recebe serviços rotineiramente, garantindo que a pista esteja em condições adequadas de trafegabilidade. Esse segmento está inserido no programa de concessões rodoviárias do governo federal, previsto para o primeiro semestre do próximo ano”, acrescentou o Dnit.

A Nova Rota do Oeste, responsável pelas rodovias BR-163 e trecho coincidente com a BR-364 informa que entre o Km 340 e o Km 349, na região da Serra de São Vicente, em Santo Antônio de Leverger (MT), não foi registrado acidente com mortes em 2025. “A queda é reflexo de um pacote de ações, incluindo infraestrutura, fiscalização, educação e conscientização”, informou.

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A Autopista Regis Bittencourt (BR-116 São Paulo/Curitiba) e a Autopista Litoral Sul (BR-101/SC, BR-116/PR e BR-376/PR – Curitiba/Palhoça) informam que as ações das concessionárias estão voltadas para a redução do número e gravidade de acidentes, por meio da identificação dos pontos críticos do trecho concessionado. “A partir disso, são realizadas a revitalização da sinalização vertical e horizontal, manutenção do pavimento, implantação de barreiras e defensas, sistemas de iluminação, equipamentos de controle de velocidade, além de ações educativas de conscientização dos motoristas”.

“Em 2025, até o mês de setembro, foram realizadas 104 ações educativas pela Autopista Régis Bittencourt, em 11 municípios, abordando 9.407 pessoas. Já pela Autopista Litoral Sul foram realizadas 176 ações educativas, em 15 municípios, abrangendo 11.655 pessoas”, informam as concessionárias.

As empresas informam ainda que no trecho da BR-116 (SP) foram implantados radares, feita a revitalização dos equipamentos existentes e intervenções no pavimento. Na BR-101 (SC), ocorreu a inauguração do Contorno Viário de Florianópolis em agosto de 2024, para contornar por 50 quilômetros a Grande Florianópolis, o que reduziu 17,81% das colisões traseiras, 21,47% das colisões laterais e 18,45% dos engavetamentos, segundo as concessionárias. Na BR-101 foram também implantados equipamentos de controle de velocidade e feitas as revitalizações do pavimento e da sinalização horizontal.

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