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Estado de Minas

Papiro que fala de esposa de Jesus não é uma farsa

Depois de questionado pelo Vaticano em 2012, documento escrito entre os séculos 6 e 9 é analisado por especialistas de Harvard, MIT e Columbia, que garantem que ele não é uma farsa


postado em 11/04/2014 10:20 / atualizado em 11/04/2014 10:43

 

O papiro seria egípcio e foi escrito na língua copta, indicando declarações de Jesus sobre uma figura feminina em sua vida(foto: Harvard Divinity School/AFP )
O papiro seria egípcio e foi escrito na língua copta, indicando declarações de Jesus sobre uma figura feminina em sua vida (foto: Harvard Divinity School/AFP )

Washington – Um pedaço de papiro antigo que contém uma menção à esposa de Jesus não é uma falsificação, de acordo com uma análise científica do controverso texto, declararam ontem pesquisadores norte-americanos. Acredita-se que o fragmento seja proveniente do Egito e contenha escritos na língua copta, que afirmam: “Jesus disse-lhes: ‘Minha esposa…’”. Outra parte diz ainda: “Ela poderá ser meu discípulo”. A descoberta do papiro, em 2012, provocou um rebuliço. Pelo fato de a tradição cristã afirmar que Jesus não era casado, o documento atiçou os debates sobre o celibato e o papel das mulheres na Igreja.

O jornal do Vaticano declarou que o papiro era uma farsa, juntamente a outros estudiosos, que duvidaram de sua autenticidade baseados em sua gramática pobre, texto borrado e origem incerta. Nunca antes um evangelho se referiu a Jesus como casado, ou tendo mulheres como discípulos. Mas uma nova análise científica do papiro e da tinta, bem como da escrita e da gramática, mostrou que o documento é antigo. “Nenhuma evidência de fabricação moderna (falsificação) foi encontrada”, declarou a Escola de Divindade de Harvard, em um comunicado.

Karen King, que recebeu o papiro de um colecionador, há dois anos: ''A questão principal é afirmar que mulheres poder ser discípulos de Jesus''(foto: REUTERS/Rose Lincoln/Harvard University/Handout)
Karen King, que recebeu o papiro de um colecionador, há dois anos: ''A questão principal é afirmar que mulheres poder ser discípulos de Jesus'' (foto: REUTERS/Rose Lincoln/Harvard University/Handout)
O fragmento provavelmente remonta a uma data entre os séculos 6 e 9, mas poderia ter sido escrito até mesmo no segundo século da Era Comum, segundo os resultados do estudo publicados na Harvard Theological Review. A datação por radiocarbono do papiro e uma análise da tinta utilizando espectroscopia micro-raman foram realizadas por especialistas e professores de engenharia elétrica, química e biologia das universidades de Columbia e Harvard, e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

“A equipe concluiu que a composição química do papiro e os padrões de oxidação são consistentes com papiros antigos, ao comparar o fragmento do Evangelho da Esposa de Jesus (Gospel of Jesus’ Wife, GJW, em inglês) com um fragmento do Evangelho de João”, declarou o estudo. “O teste atual suporta, assim, a conclusão de que o papiro e a tinta do GJW são antigos”, esclareceu.

Origem desconhecida

A origem do papiro é desconhecida. Karen King, historiadora da Escola de Divindade de Harvard, o recebeu de um colecionador – que pediu para permanecer anônimo – em 2012. Karen, que estuda o cristianismo primitivo, declarou que a ciência mostrar que o papiro é antigo não prova que Jesus era casado. “A questão principal do fragmento é afirmar que as mulheres que são mães e esposas podem ser discípulas de Jesus – um tema que foi muito debatido no início do cristianismo, num momento em que a virgindade celibatária se tornou cada vez mais valorizada”, explicou ela em um comunicado.

“Este fragmento do evangelho fornece uma razão para reconsiderarmos o que pensávamos que sabíamos, ao nos perguntarmos o papel que as declarações sobre o estado civil de Jesus desempenharam historicamente nas controvérsias cristãs sobre casamento, celibato e família.” O fragmento mede quatro por oito centímetros. Karen King declarou que a data do documento – escrito séculos depois da morte de Jesus – significa que o autor não conhecia Jesus pessoalmente. “Sua aparência bruta e os erros gramaticais sugerem que o escritor tinha apenas uma educação elementar”, acrescentou.

Crítico

Leo Depuydt, professor de Egiptologia da Universidade Brown, escreveu um artigo, também publicado na Harvard Theological Review, descrevendo por que acredita que o documento é falso. “O fragmento do papiro parece perfeito para um esquete do Monty Python (famoso grupo de comediantes britânicos)”, declarou. Ele apontou erros gramaticais e o fato de as palavras “minha esposa” parecerem ter sido enfatizadas em negrito, o que não é utilizado em outros textos em copta antigo. “Como um estudante de copta convencido de que o fragmento é uma criação moderna, sou incapaz de fugir à impressão de que existe algo quase engraçado no uso das letras em negrito”, escreveu. Karen King publicou uma refutação às críticas de Depuydt, dizendo que o fato de a tinta estar borrada era comum e que as letras abaixo de “minha esposa” são ainda mais escuras.

 


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