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Estado de Minas A ORIGEM DA MORDIDA

Fóssil de peixe ajuda pesquisadores a entender origem da mandíbula

Ao reconstituir a evolução da vida na Terra, especialistas tinham de conviver com uma grande lacuna separando animais com e sem mandíbula. Por isso, um estudo publicado na revista Nature sobre o Entelognathus primordialis, que viveu há 419 milhões de anos, é muito bem recebido


postado em 29/09/2013 08:29 / atualizado em 29/09/2013 08:31

O placodermo do siluriano (Entelognathus primordialis) viveu há 419 milhões de anos(foto: BRIAN CHOO/AFP - 29/12/07)
O placodermo do siluriano (Entelognathus primordialis) viveu há 419 milhões de anos (foto: BRIAN CHOO/AFP - 29/12/07)
Ele media apenas 20cm de comprimento e faz muito, muito tempo que deixou de existir. Mesmo assim, o placodermo do siluriano (Entelognathus primordialis) merece toda a atenção da ciência. Isso porque o peixe, que viveu há 419 milhões de anos, pode ajudar os especialistas a esclarecer como ocorreu o surgimento de animais com mandíbulas, um processo que foi essencial para que os vertebrados, incluindo aí o homem, desenvolvessem a capacidade de morder e mastigar alimentos.


Ao reconstituir a evolução da vida na Terra, os especialistas tinham de conviver com uma grande lacuna separando animais com e sem mandíbula. Por isso, um estudo publicado na revista Nature sobre o E. primordialis é muito bem recebido. O grupo internacional de especialistas responsável pelo artigo analisou um fóssil da espécie achado em 2010 na China e concluiu que ele tinha um conjunto maxilar surpreendentemente desenvolvido, algo não observado até então nos animais de sua classe.

“Esse peixe pertencia aos placodermos, mas possuía ossos da mandíbula que nenhum outro tinha. Esse tipo de estrutura só tinha sido observada em peixes ósseos e vertebrados terrestres”, explica Xiaobo Yu, professor de ciências biológicas da Kean University (EUA) e um dos autores da pesquisa. Yu acrescenta que a descoberta muda totalmente as teorias da evolução marinha. “Em certo sentido, esse achado é equivalente ao de encontrar penas em dinossauros”, compara, lembrando a descoberta, feita há alguns anos, que ajudou a ciência a entender melhor a origem dos pássaros.

Sem as informações reveladas agora, a tendência de grande parte dos estudiosos era apontar animais mais recentes, do gênero dos acantódios, como os ancestrais comuns dos peixes ósseos. “Eles acreditavam que os ossos da mandíbula em peixes ósseos eram relativamente recentes, que não tinham nada a ver com os placodermos”, conta Yu. “Mas nossa descoberta muda isso, mostrando que o ancestral comum é, na verdade, placodermo, e que alguns deles tinham os ossos da mandíbula desenvolvidos.”

Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais sobre o placodermo do siluriano(foto: ARTE: EM/D.A Press)
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais sobre o placodermo do siluriano (foto: ARTE: EM/D.A Press)


Humanidade

O biólogo explica que o estudo dos animais marinhos é essencial para montar o quebra-cabeça que levou ao aparecimento da humanidade. Ele explica que os seres humanos partilham ancestrais comuns com os diferentes organismos em vários níveis. Por exemplo, há um ser a partir do qual todos os primatas se desenvolveram. Ou seja, a partir daquela espécie (o ancestral comum), surgiram outras que foram se transformando, em um longo processo, e dando origem a chimpanzés, gorilas, homens etc.

Assim como há um ancestral comum que faz parte da história de todos os primatas, há outro, ainda mais antigo, que originou os mamíferos; e outro que está na base evolutiva dos vertebrados; e assim sucessivamente. “Nós, seres humanos, compartilhamos um ancestral comum com todos os mamíferos, e, depois, com todos os peixes ósseos em um nível mais geral ou remoto, e, depois, com todos os vertebrados com mandíbula, em um nível ainda mais geral e mais remoto”, descreve o especialista.

“Nesse sentido, essa descoberta muda os conceitos da história remota da evolução humana. A nossa face agora tem uma história evolutiva muito mais antiga do que se pensava”, acrescenta. Matt Friedman, professor da Universidade de Oxford e coautor do estudo, complementa o raciocínio: “Esses novos dados, combinados com uma análise revista, sugerem que há, provavelmente, um elo evolucionário entre os placodermos e os peixes ósseos. Essa descoberta sugere que muitas das principais características do crânio dos peixes ósseos, e do nosso crânio também, surgiram de forma mais profunda na árvore genealógica do que se pensava”, afirma.

Segundo o biólogo Fernando Gibran, professor da Universidade Federal do ABC, que não participou do estudo, o trabalho internacional traz novos dados para a discussão das relações de parentesco evolutivo entre linhagens viventes e já extintas. “Nessa descoberta, esse fóssil ‘diferente’ tem algumas características ósseas maxilares, como pré-maxila, maxila e dentário, que até então eram consideradas como sendo exclusivas dos Osteichthyes (peixes ósseos)”, aponta.

Para Thomaz Lipparelli, especialista em peixes neotropicais e membro da Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI), estudos como o apresentado na Nature são essenciais para que as pesquisas científicas possam ter mais exatidão. “Evolução significa simplesmente modificação. Ela pode ser analisada por abordagens diferentes, relacionadas entre si. Esse é o processo que moldou a história dos vertebrados. A compreensão desses princípios é essencial para apreciar a modificação e formação desses animais, é de extrema importância decifrar as mudanças que originaram a vida”, avalia.

 


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