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Estado de Minas

Pais se dividem entre controlar acesso às redes ou só orientar os filhos sobre perigos na internet

Mesmo proibido pelo site, vida no Facebook pode começar aos 10 anos ou menos.


postado em 28/02/2013 08:55 / atualizado em 28/02/2013 11:41

Shirley Pacelli

"Se eu não gostar de um comentário, excluo a marcação do meu perfil. No fim de semana só uso o computador uma hora por dia.", Lauro Araújo, de 9 anos (foto: shirley pacelli/EM/D.A Press)
“No fim de semana, eu só posso usar o computador uma hora por dia”. Lauro Araújo, de 9 anos, já dá indícios de como são as regras em casa. Estudante da escola SEB Efigênia Vidigal, do Bairro Buritis, o garoto tem o uso da internet acompanhado tanto pelos pais quanto pela escola. Há pouco tempo, ele enfim conseguiu autorização dos pais para ter Facebook, apesar de os termos de uso do site serem claros quanto à proibição da criação da conta por menores de 13 anos. O pai tem a senha e login do perfil de Lauro. No site, como grande parte das crianças, ele gasta seu tempo com joguinhos. Mas também gosta de comentar e curtir fotos em que é marcado, como no álbum do registro de um colega do recente festival de dança na escola. “Se eu não gostar, excluo a marcação no meu perfil”, explica, comprovando que está por dentro dos recursos de privacidade oferecidos pela rede. Lauro conta ainda que não adiciona quem não conhece, porque “pode ser um ladrão querendo roubar informações”.

O amigo dele, Rodrigo Coelho Garcia, de 10, também tem limites para o acesso à internet em casa – só pode usar aos sábados, domingos e feriados. “Estou no 5º ano e preciso estudar para as provas”, justifica. O garoto também é usuário do Face e diz que a mãe nunca bisbilhotou sua conta, porque confia nele. “Por segurança, o acesso ao meu perfil é fechado. Só brinco com os amigos no site”, conta. Na mesma turma de Rodrigo, Letícia Sales, de 10, conta que usa a rede social especialmente para conversar com os familiares de outros estados, como Paraná e São Paulo. “Minha mãe nem sabe mexer no Face. Ela só consegue entrar no iPad que já fica logado. Meu pai fala que confia em mim e por isso não entra no meu perfil”, conta.

Lucas Cifuentes Dutra, de 8, conta que ainda não tem Facebook, mas que depois da entrevista vai convencer o pai a criar a conta. “Vou explicar para ele que tem como fazer um perfil fechado, que dá para ter segurança”, argumenta. Por enquanto, ele tem que se contentar com uma conta no e-mail pela qual conversa com o melhor amigo, que mora longe. No iPhone da mãe o único interesse dele são os games. Sua nova mania é o jogo Plantas Vs Zumbis.

"Quando eu vejo alguma coisa estranha eu saio da página ou chamo minha mãe'', Maria Luiza Borges do Santos, de 8 anos (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)

CONSCIENTIZAÇÃO

Preocupado com a segurança dos alunos, Vinícius Rocha, diretor de comunicação on-line do SEB Efigênia Vidigal, criou um ciclo de palestras acadêmicas sobre temas ligados à internet. Segundo ele, a sensação de anonimato no ambiente virtual é uma das suas principais preocupações. “Mostro a eles que a vida on-line não exige menos responsabilidade do que na vida real. Reforço que as ações vão repercutir, até mesmo no aspecto legal”, destaca. Intolerância religiosa, preconceito racial ou sexual, roubar a senha de alguém – tudo isso vira tema de debate entre os estudantes. “Sempre recomendo às crianças e adolescentes que eles devem chamar o pai ou o professor, caso ocorra algo estranho na rede”, ressalta.

A diretora da instituição, Helen Cristina Paes, explica que a escola tenta fazer também a alfabetização tecnológica. No Efigênia Vidigal, os gadgets fazem parte da rotina escolar. As turmas a partir do 6º ano estudam com notebooks – um para cada aluno – e levam o equipamento para casa. Os alunos do ensino médio têm tablets. Fora isso, desde o maternal os estudantes têm aulas nos laboratórios de informática. Segundo ela, a tradição das aulas em módulos de 50 minutos foi criada com base em um estudo que comprovava que os estudantes têm só 30 minutos de atenção focada; os outros minutos seriam divididos entre a abertura da disciplina e a conclusão do raciocínio. Hoje, a meia hora se reduziu a apenas 12 minutos de atenção. “Esse módulo de aula caiu por terra com a geração Y. Por isso precisamos do aparato tecnológico para manter o foco do aluno na matéria”, explica.

Paes acredita que o caminho não é cercar e resguardar os jovens, criando mecanismos de bloqueios a conteúdos na internet, mas despertar o bom senso e a consciência crítica neles. “Por mais que você filtre os resultados de uma pesquisa, não dá para imaginar quando palavras inocentes, como moranguinho ou piu-piu, vão apresentar resultados inadequados”, ressalta.

 

Rédeas curtas

Enquanto em algumas escolas a rede é aberta e os educadores confiam no bom senso e a cooperação dos alunos, no Colégio Nossa Senhora das Dores (CNSD), no Bairro Floresta, Região Leste da capital, o sistema adotado foi o inverso. O colégio tem um portal educacional interno como ferramenta única de trabalho. Neste ano, para atrair ainda mais a atenção dos estudantes, a página ganhou similaridade com o Facebook, rede social mais popular entre as crianças e os adolescentes.

Segundo a coordenadora pedagógica Rúbia Germano Lopes, de 34 anos, o portal dá todo o suporte às pesquisas necessárias em sala de aula, mas há um controle do conteúdo. “Se eu jogar o termo melancia no Google, um dos primeiros resultados é  ‘mulher melancia’. No portal, as informações são filtradas para evitar esse tipo de situação”, explica.

Vander Marques, responsável técnico pela página, conta que a equipe usa firewall (dispositivo de segurança) em camada 7, a maior delas. O laboratório não fica à disposição dos alunos fora dos horários das aulas, mas há computadores de apoio na biblioteca para pesquisas acadêmicas. Todo o acesso é monitorado e gerados relatórios do uso da rede pelos estudantes. “Só não utilizamos softwares que permitem visualizar a tela dos computadores porque acho invasivo. Educar é melhor que proibir.”

A coordenadora pedagógica diz que a formação humana e ética é uma das preocupações do colégio. Por isso, até os pais são convidados para um ciclo de palestras sobre assuntos diversos: de drogas a bullying. No ano passado, a Polícia Militar conversou com os pais sobre segurança digital, uma forma de eles darem a “liberdade vigiada” para os filhos e ficarem de olho nos passos deles na rede.

OFENSAS

Leonardo Augusto Taranto Costa, de 11, é um dos alunos que têm a liberdade de navegação vigiada pelos pais. A contragosto, a mãe criou uma conta no Facebook, há dois anos, para o filho. “Ela não queria que eu tivesse Orkut, achava menos seguro porque ela não tinha perfil”, lembra Leonardo. O garoto acessa sozinho seu perfil, mas a mãe sempre entra na conta dele e confere suas ações. Chega a verificar até se os jogos on-line no site não são perigosos. Leonardo tem cerca de 80 amigos e afirma só compartilhar postagens com seus contatos. Além disso, garante que clica no “Agora não” toda vez que um desconhecido tenta adicioná-lo como amigo.

No site, Leonardo já foi alvo de ofensas por um colega de classe. “Ele falou palavrão comigo”, conta. Depois da confusão, o menino excluiu a pessoa d0e seus contatos. Ele conta com desenvoltura, como a própria mãe já foi alvo de tentativa de roubo de dinheiro no Facebook. “Alguém postou na rede social que estavam aplicando golpe”, conta Leo, explicando como ela se desvencilhou do criminoso.

Enquanto Leonardo tem os passos controlados pelos pais, Flávio Ferreira Lins, de 7 anos, conta que criou uma conta no Facebook este ano sem o acompanhamento dos responsáveis. Normalmente, ele usa a rede para jogar com os amigos, mas admite que adiciona desconhecidos como contato. O garoto tem foto no perfil, mas não colocou os outros dados, como cidade de origem e onde estuda, por preguiça de completar o cadastro. O que, felizmente, acaba sendo um ponto positivo para a sua segurança.

Ao contrário dos colegas do CNSD, Maria Luiza Borges do Santos, de 8, é avessa à rede de Zuckerberg. Prefere mesmo o esquecido Orkut. Uma prima de 14 anos é quem confere as atividades da menina no site. Ela conta que pessoas desconhecidas já tentaram adicioná-la e que a foto do seu perfil é antiga, de quando tinha apenas 4 anos de idade. “Quando eu vejo alguma coisa estranha eu saio da página ou chamo minha mãe”, confessa.

ANÁLISE DA NOTÍCIA
Indiscrição e violência verbal

Apesar de todo o discurso consciente dos alunos, em uma rápida pesquisa no Facebook foi possível verificar que nem tudo é realmente colocado em prática. Alguns deles postam fotos de perfis – que sempre são públicas – com roupas de banho. Há postagens entre amigos, com cerca de 80 comentários de uma discussão que inclui ofensas como “gay” e ameaças de brigas corporais. Uma professora chegou a comentar no post cobrando uma postura mais adequada de seus alunos. Nenhum pai interferiu na publicação, que rendeu respostas até dois meses depois de ir ao ar. Muitas fotos com a família das crianças estão abertas para todos os membros da rede social. Sem adicionar como contato, meninos e meninas seguem perfis na rede e curtem páginas sem nenhuma restrição, logo, todo conteúdo inapropriado pode ser visualizado por eles. O ideal seria a criação da conta somente quando a criança atingir um nível de maturidade suficiente para lidar com as informações da rede. Que tal seguir o termo de uso do próprio Facebook?

 

"Por segurança, o acesso ao meu perfil é fechado. Só brinco com os amigos no site'', Rodrigo Coelho Garcia, de 10 anos

 


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