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Estado de Minas

Descoberto papiro com referência à esposa de Jesus Cristo

Para cientista, o documento mostra que cristãos acreditavam que Jesus foi casado


postado em 19/09/2012 10:01 / atualizado em 19/09/2012 10:24

Veja o que estava escrito em cada linha do papiro
Veja o que estava escrito em cada linha do papiro

Um pequeno pedaço de papiro, de apenas 8cm de comprimento, promete trazer novas discussões sobre a vida de Jesus Cristo. Karen King, pesquisadora da Universidade de Harvard e especialista em primórdios do cristianismo, apresentou ontem, durante um congresso em Roma, um fragmento datado do século 4 em linguagem cóptica antiga (utilizada no Egito na época do Império Romano) que mostra uma frase nunca vista das escrituras sagradas. “Jesus disse para eles: ‘Minha mulher”.

O material, rasgado, não mostra o resto da frase, escrita com tinta preta e letras pequenas. No entanto, logo abaixo da linha que menciona uma possível mulher de Jesus, o papiro inclui outra frase: “Ela será capaz de ser minha discípula”. Na frente e no verso do documento há outras nove linhas legíveis, que trazem sentenças soltas como “Quanto a mim, eu vivo com ela” e “Maria é merecedora”, o que pode fazer referência a Maria Madalena, personagem citada no Novo testamento.

Apesar de King deixar claro que o documento não pode ser considerada uma prova de que Jesus foi casado, a descoberta tem o poder de reacender a discussão sobre se Jesus e Maria Madalena mantiveram um relacionamento, como já foi defendido por alguns estudiosos do cristianismo.

“A tradição cristã afirma que Jesus não foi casado, mesmo não havendo evidência histórica confiável para dar suporte a essa afirmação”, diz Karen King em um vídeo feito para divulgar o achado. “Esse novo texto não prova que Jesus foi casado, mas nos mostra que alguns cristãos acreditavam que ele foi”, complementa.

As análises feitas pela historiadora indicam que o texto é provavelmente uma cópia feita no século 4 de um texto escrito originalmente dois séculos antes, supostamente em grego. Nesse caso, o evangelho da mulher de Jesus, como tem sido chamado o documento (leia Três perguntas para), mostraria que o debate sobre se Jesus foi ou não casado ganhou força justamente no momento em que os cristãos debatiam casamento e celibato.

Segundo a historiadora de Harvard, somente por volta do ano 200 é que foi afirmado, em texto registrado pelo teólogo Clemente de Alexandria, que Jesus não se casou. Na época, havia uma discussão sobre se os cristãos deveriam se casar ou viver no celibato. Segundo Clemente, cristãos da época afirmavam que o casamento havia sido instituído pelo demônio. “Os cristãos discordavam sobre se era melhor se casar. No entanto, esse debate aconteceu apenas um século depois da morte de Jesus. Os fiéis, apelaram, então, para o estado conjugal de Jesus para suportar suas posições”, afirma King.

Autenticidade
Especialistas em história, como Roger Bagnall, diretor do Instituto de Estudo do Mundo Antigo, afirmaram acreditar na autenticidade do documento depois de analisá-lo. Segundo Bagnall, os exames realizados no material e na caligrafia comprovam que o papiro não é uma fraude. “Seria impossível forjar (o documento)”, reforça Anne Marie Luijendijk, professora de religião da Universidade de Princeton, em artigo publicado na Harvard Magazine. Mesmo assim, o objeto ainda vai passar por mais testes, inclusive para comprovar a composição química da tinta.

O fragmento faz parte da coleção particular de uma pessoa que pediu aos pesquisadores para não ser identificada. Ela procurou a Universidade de Harvard para que o texto fosse traduzido e, assim, acabou revelando o primeiro manuscrito histórico que levanta a possibilidade de Jesus ter sido casado. “A descoberta desse fragmento nos oferece uma razão para repensar o que achávamos saber e nos faz questionar o papel que o status conjugal de Jesus teve historicamente nas controvérsias dos cristãos antigos sobre casamento, celibato e família”, defende King. “O evangelho da mulher de Jesus mostra que é possível dizer, com certeza, que alguns cristãos acreditaram que Jesus foi casado. Essa potencial conclusão traz implicações importantes que mostram como os antigos cristãos olhavam para o casamento, para a sexualidade e para a reprodução”, completa.

 

 


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