Para analistas da área de tecnologia, a intenção da fabricante dos iPhones e iPads, mais do que atacar a criadora da linha Galaxy, é diminuir o poderio da Google, que com seu sistema operacional para dispositivos móveis, o Android, vem dominando e ampliando cada vez mais sua participação no mercado, superando muito o iOS, que equipa os aparelhos da maçã. Assim, a batalha contra a Samsung seria apenas um caminho para isso. O próprio Steve Jobs, segundo revelou em sua biografia, escrita por Walter Isaacson, estaria disposto a iniciar uma “guerra nuclear contra a Google”, o que demonstra que esse desejo de atingir a gigante das buscas não é novo.
Olho por olho... A empreitada da Apple contra a Google, entretanto, não é nada fácil. Primeiro porque seria dificílimo para ela provar que a Google estaria se beneficiando financeiramente da infração de patentes. E em segundo lugar porque seus produtos também poderiam ser prejudicados. O iPhone, por exemplo, conta com uma barra de buscas do Google no navegador Safari. Além disso, a empresa das letras coloridas oferece vários aplicativos populares na App Store, como o Gmail. Ou seja, um bombardeio direto poderia ter retaliações e fazer com que a Google removesse determinadas funcionalidades importantes, tornando os dispositivos Apple menos atrativos para os consumidores. Portanto, atacar uma das principais parceiras da Google seria o melhor caminho para a maçã brecar o avanço do robozinho verde.
“Não é novidade que o mercado de tecnologia se utiliza de vários artifícios para ganhar espaço. Praticamente vale tudo para conquistar usuários, mas nessa guerra comercial aberta pela Apple fica claro que o que incomoda mesmo a empresa é o Android”, afirma o consultor de TI e desenvolvedor de softwares Cesar Bremer Pinheiro. “Vale tudo mesmo”, concorda o engenheiro elétrico Erik de Britto e Silva, informando que a Samsung é dona de uma patente UMTS (de Universal Mobile Telecommunications System), utilizando chips Intel e Infineon, que equipa os modelos iPhone 3G, 3GS e 4 e está presente também nos iPad 1 e 2. “Ao usar esses chips sem pagar licença, a Apple também prejudica a Samsung e abre possibilidade de novas batalhas judiciais”, completa.
Novela das patentes
Desde abril de 2011, Apple e Samsung duelam nos tribunais norte-americanos depois que a empresa da maçã acusou a coreana de violar suas licenças. Na sexta-feira, dia 1º, a Apple apresentou novo recurso no tribunal de San José, Califórnia (EUA), que inclui o Galaxy SIII e o tablet Galaxy Note 10.1 na lista de aparelhos copiados. Ao todo, somam-se oito patentes violadas, de acordo com a Apple.
Em nota, a Samsung afirmou que o veredicto da multa não deve ser visto como uma vitória da Apple, mas como uma perda para o consumidor americano: “A decisão levará a menos opções, menos inovação e, potencialmente, preços mais altos. É lamentável que a lei de patentes possa ser manipulada para dar a uma empresa o monopólio sobre retângulos com cantos arredondados ou sobre a tecnologia que está sendo melhorada a cada dia pela Samsung e outras companhias”.
A empresa ainda afirmou que os consumidores têm o direito de escolha e que a decisão judicial não é a última palavra no caso. “Batalhas estão sendo travadas nos tribunais em todo o mundo, alguns dos quais já rejeitaram muitas das reivindicações da Apple”, destacou. Ela afirmou que recorrerá da sentença.
A Apple, em contrapartida, disse ser grata ao júri por seu serviço e por investir tempo para ouvir a história da empresa. Segundo a companhia, a quantidade de provas apresentadas durante o julgamento mostrou que a cópia da concorrente foi muito mais profunda do que eles sabiam. “Na Apple, nós valorizamos originalidade e inovação e dedicamos nossas vidas a fazer os melhores produtos da Terra. Nós fazemos esses produtos para encantar nossos clientes, não para que nossos concorrentes os copiem escancaradamente.” A empresa ainda disse aplaudir o tribunal por mostrar que o comportamento da Samsung foi intencional e por enviar uma mensagem forte e clara de que roubar não é certo.
Apesar de o Google ser inteiramente afetado com as decisões negativas para a Samsung, que utiliza o sistema operacional Android, a empresa não comenta o caso, alegando que o processo não a envolve diretamente. Segundo informações da Agência Reuters, os presidentes executivos da Google, Larry Page, e da Apple, Tim Cook, têm negociado nos bastidores sobre uma série de questões relacionadas a propriedade intelectual. O Android, sistema operacional do Google, tornou-se um dos maiores e mais completos para smartphones. Nos últimos meses, a Apple adotou medidas para reduzir a dependência dos produtos da gigante das buscas. Lançou seu próprio programa de mapeamento, fazendo frente ao Google Maps, e não oferecerá o YouTube embarcado em seus produtos.
Queda nas bolsas
Críticos da área de tecnologia dizem que a Apple tem como único objetivo manter o controle sob sua rival, líder no mercado de telefones celulares, além de frear o crescimento de dispositivos Android. Enquanto a batalha judicial se desenrola, o mercado financeiro sente o impacto de cada decisão. As ações da Samsung sofreram a pior queda (7,5%) em quase quatro anos. Simultaneamente, o título da Apple subiu 2,5% na Bolsa de Frankfurt e alcançou recordes em Nova York (Estados Unidos). A LG e a HTC, que utilizam Android, também registraram quedas.
Acusações da Apple
Cópia de:
» Tecnologia de zoom tátil do iPad e iPhone
» Formato retangular
» Combinação de botões na parte superior e lateral
» Design da tela
Modelos “plágios” da Samsung:
» Galaxy S 4G, Galaxy S2 (AT & T), Galaxy S2 (Skyrocket), Galaxy S2 (T-Mobile), Galaxy
S2 Epic 4G, Showcase Galaxy S,
Droid Charge e Galaxy Prevail
Apple tem telhado de vidro
A Apple também é acusada de seguir o estilo do famoso designer alemão Dieter Rams, responsável por diversos projetos, entre os anos 1950 e 1960, para a Braun, empresa famosa por seus aparelhos de som. O designer trabalhava com o princípio de “quanto menos melhor” e a comparação entre os produtos é inevitável. Jonathan Ive, projetista da empresa da maçã, teria se inspirado no trabalho dele.