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Estado de Minas

Vírus comum em jovens causa diabetes na velhice

Presente em quase todos os adolescentes, micro-organismo do grupo herpes aumenta em três vezes risco de resistência à insulina na terceira idade e pode contribuir para hipertensão


postado em 04/09/2012 06:00 / atualizado em 04/09/2012 09:14


Obesidade, hipertensão e sedentarismo são os mais conhecidos fatores de risco associados à diabetes melito, doença que se manifesta principalmente a partir dos 40 anos. À medida que a idade avança, porém, mesmo quem não se enquadra nesse perfil pode desenvolver o problema. Um estudo publicado no jornal especializado Immunity and Ageing mostrou que um vírus muito comum, da família do herpes, triplica em idosos a probabilidade de se tornar diabético.

De acordo com os autores, a “diabetes viral” é desencadeada pelo citomegalovírus (CMV), um micro-organismo tão comum que praticamente toda a população é infectada já na adolescência. Normalmente, ele não se manifesta nem provoca danos ao organismo. Contudo, assim como o herpes simples, quando o sistema imunológico está debilitado, o vírus pode sair do estado de latência e começar a agir. Os sintomas não são graves: ínguas, mal-estar e erupções cutâneas estão entre os mais comuns (veja arte). O problema é que as manifestações constantes ao longo da vida podem fazer com que, na velhice, surjam danos maiores, incluindo a diabetes tipo 2.

Estima-se que 346 milhões de pessoas no mundo sejam portadoras da doença, e de acordo com a Organização Mundial da Saúde, as mortes relacionadas à diabetes melito deverão dobrar em 2030, comparando com o número de 2005. Mais de 80% dos óbitos ocorrem em países de baixa renda e em desenvolvimento. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil há 12 milhões de pessoas sofrendo do mal.

No estudo do Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda, e da Faculdade de Medicina da Universidade de Tuingen, na Alemanha, cientistas compararam os exames de 549 indivíduos com mais de 85 anos. Eles investigaram se havia anticorpos do CMV na corrente sanguínea, o percentual de participantes com diabetes e indicadores da regulação da glicose, pois a não absorção dessa substância caracteriza a doença. No total, 435 idosos haviam sido infectados pelo vírus, sendo que 17,2% tinham diabetes 2, contra 7,9% do grupo sem sinais de CMV.

Para fazer uma associação mais exata entre o CVM e o risco de desenvolver o mal, os cientistas realizaram ajustes, levando em conta fatores como índice de massa corporal, tabagismo, comorbidades e medicamentos usados. No fim,  constataram que, em relação a idosos com perfis semelhantes, o risco de ter diabetes é três vezes maior entre aqueles infectados pelo vírus.

“Na velhice, ser portador de citomegalovírus está associado à diabetes 2, a índices mais altos de hemoglobina glicada e da glicemia de jejum. Isso sugere que a infecção por CMV desempenha um papel na patogenia dessa doença nos idosos”, conta Sijia Chen, pesquisadora do Departamento de Gerontologia e Geriatria da Universidade de Leiden e coautora do estudo.
A médica afirma que ainda não se sabe exatamente o que faz com que o CMV desencadeie a diabetes 2 na velhice, mas há alguns indicativos. De acordo com Sijia, diversos estudos sugerem que inflamações crônicas podem estar ligadas à doença e já foi identificado que os portadores do mal têm níveis elevados da proteína c-reativa, uma substância produzida no fígado em resposta a estímulos como infecções.

Citosina acumulada

Steven E. Shoelson, pesquisador da Divisão de Pesquisas sobre Diabetes do Departamento de Medicina da Universidade de Harvard (EUA), conta que componentes do sistema imunológico são alterados em pacientes obesos e com diabetes 2. “As mudanças mais aparentes ocorrem no tecido adiposo, no fígado, nos leucócitos e nas ilhotas pancreáticas, células que produzem, entre outras substâncias, a insulina”, diz Shoelson, autor de um artigo sobre o tema publicado no ano passado na revista Nature Immunology. “Essas alterações sugerem que realmente o processo inflamatório participa da patogênese da diabetes”, afirma.

A recorrência nas infecções pelo CMV pode desencadear o acúmulo de citocinas, secreções liberadas pelas células para combater o vírus. “Sabe-se que essas substâncias em excesso têm efeitos maléficos sobre as células do pâncreas, o que pode levar a uma resposta insuficiente à resistência à insulina, resultando na diabetes 2”, diz Sijia Chen. Ela explica que em apenas um terço dos indivíduos com resistência à insulina o quadro evolui para o mal porque, nessas pessoas, as células B do pâncreas respondem adequadamente ao aumento da demanda pela substância. “A razão para essa heterogeneidade não é completamente compreendida. É provável que a infecção por CMV seja um dos fatores que levam algumas pessoas com resistência à insulina à diabetes”, afirma.

Influência na pressão
O vírus também pode estar por trás de um dos fatores de risco da doença, a hipertensão. Em um estudo realizado com ratos, cientistas do Centro Médico Diaconisa Beth Israel, em Boston, constataram que o processo inflamatório desencadeado pelo CMV afeta células vasculares e aumentam a expressão da enzima renina e da proteína angiostensina 11, que estão envolvidas no aumento da pressão arterial.

“Realizamos diversos testes e a conclusão foi que a infecção por citomegalovírus em ratos adultos aumenta a pressão independentemente de outros fatores, como o colesterol alto. A hipertensão está associada a diversas doenças, principalmente às cardiovasculares. Então, precisamos desenvolver uma terapia antirretroviral ou mesmo uma vacina para lutar contra esse vírus”, observa Clyde Crumpacker, autor de um  artigo publicado na revista PLoS Pathogens.

A pesquisadora Sijia Chen destaca que a necessidade do desenvolvimento de estratégias preventivas também é uma das principais conclusões do estudo que associa o CMV à diabetes 2. “Nossa análise se concentrou em uma população bastante idosa,  mas a ideia é que,se a diabetes 2 pode ser uma consequência de infecções recorrentes ao longo da vida, podemos de alguma forma prevenir isso na população em geral. Lutar contra o vírus mais cedo é uma forma de evitar, na velhice, o desenvolvimento de doenças como a diabetes.”


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