(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Idade do pai é mais determinante que a da mãe na geraçãode filhos com problemas


postado em 23/08/2012 08:10 / atualizado em 23/08/2012 10:09

Clique e entenda melhor
Clique e entenda melhor
Quando se trata de doenças genéticas, a culpa, geralmente, recai sobre a mãe. Mulheres mais velhas correm um risco maior de gerar crianças portadoras das síndrome de Down, de Edwards e de Klinefelter, por exemplo. Já os homens, capazes de reproduzir até o resto da vida, parecem não contribuir em nada para o surgimento de variantes associadas a doenças. Novas pesquisas, porém, começam a desfazer o mito, indicando que a idade do pai tem uma influência ainda maior do que a materna, principalmente em relação a distúrbios psiquiátricos e cognitivos, como esquizofrenia, transtorno bipolar, autismo e déficit intelectual.

Um artigo publicado na edição de hoje da revista Nature reforça descobertas de estudos epidemiológicos anteriores, aprofundando a investigação da genética por trás dessa relação. A equipe de Augustine Kong, pesquisador do instituto deCODE Genetics, sequenciou completamente o genoma de 78 famílias compostas por pai, mãe e um filho e constatou que as crianças, normalmente, nascem com 60 novas mutações de pequena escala, ou seja, que afetam apenas um gene ou um cromossomo. Ainda assim, elas podem ser suficientes para provocar danos funcionais no indivíduo, embora, na maioria das vezes, as variantes genéticas não sejam maléficas. A descoberta de Kong está de acordo com outros estudos, mas revelou um dado ainda desconhecido: enquanto um pai de 20 anos transmite em média 25 mutações, no caso de um homem de 40 anos, esse número passa para 65.

Isso significa que cada ano adicional na idade do pai resulta em média em duas mutações extras na descendência. Em contraste, os autores descobriram que o número de mutações de novo (veja arte) transmitidas pelas mães fica em 15, independentemente do avanço da idade. “Naturalmente, as mulheres mais velhas começam a transmitir mais mutações. Mas essa taxa não vai aumentando proporcionalmente, com o passar dos anos, ao contrário do que acontece entre os homens”, diz Kong.

De acordo com Alexey Kondrashov, professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Unidade de Michigan, o estudo é o “mais preciso e definitivo até agora” no que se refere à estimativa da diferença entre a contribuição materna e a paterna na transmissão de mutações genéticas. “Com base nesses resultados e no conhecimento de outros estudos, acredito que nosso artigo dá suporte à noção de que o aumento nas mutações manifesta-se principalmente, se não totalmente, no cromossomo herdado pelo pai”, afirma Augustine Kong.

Divisão celular

Segundo Alexey Kondrashov, a herança paterna nas anomalias genéticas pode estar relacionada à taxa de divisão celular do espermatozoide. “As mulheres nascem com todos os óvulos que vão carregar ao longo da vida. Com os homens, é diferente. Na puberdade, o espermatozoide divide-se a cada duas semanas”, diz. Assim, aos 40 e 50 anos, terão ocorrido, respectivamente, 660 e 800 divisões celulares. “Nesse processo, pode haver erros na cópia do DNA, o que aumenta os riscos de surgirem mutações”, afirma.

Para Emma M. Fransliten, pesquisadora do Instituto Karolinska, na Suécia, o trabalho islandês vai ampliar os estudos sobre a relação entre a idade do pai e o risco de distúrbios psiquiátricos associados a mutações genéticas. Ela conta que, na prática, isso já é observado pelos médicos. “Mas havia uma cultura de se dizer que a personalidade dos pais mais velhos, talvez mais rígidos e austeros, poderia explicar alterações comportamentais nos filhos. Isso justificaria os distúrbios mentais. Para nós, é muito lógico que exista um componente genético.”

Há quatro anos, Fransliten liderou uma equipe de médicos que analisou os dados de 13.428 pacientes com transtorno bipolar. Os cientistas constataram que, quanto mais velho o pai, maior o risco de o filho ter o comportamento bipolar, algo que já se manifesta quando o homem gera a criança aos 29 anos.

Foram feitos ajustes para equiparar os grupos, o de pacientes e o de controle, levando em conta fatores como idade materna, status socioeconômico e antecedentes familiares de distúrbios psicóticos. Depois disso, verificou-se que os descendentes de homens com mais de 55 anos tinham 37,1% mais riscos de serem diagnosticados com transtorno bipolar do que filhos de pais entre 20 e 24 anos. Assim como no estudo de Kong, os pesquisadores suecos constataram que a idade avançada das mães também interfere no aumento desse risco, mas em grau bem menor. “Não há, portanto, como descartar um forte componente genético”, diz Fransliten.

O pesquisador Abraham Reichenberg, da Escola de Medicina Monte Sinai de Nova York e do Instituto de Psiquiatria do King’s College de Londres, investigou a relação entre a idade paterna e transtornos do espectro do autismo e chegou a uma conclusão semelhante à de Fransliten. Em um artigo publicado no jornal especializado Archives of General Psychiatry, ele relatou que filhos de homens com mais de 40 anos estão mais sujeitos a nascerem com alguma das condições classificadas no grupo do distúrbio. Dentro do grupo de 110 pessoas estudadas, os casos de autismo variaram de um na faixa etária paterna de 15 a 29 anos a 62 ocorrências, quando os pais tinham mais de 50 anos.

Também na base de pesquisas epidemiológicas, um artigo da Universidade de Queensland constatou que filhos de pais mais velhos apresentam maior déficit cognitivo. O estudo analisou informações de 33 mil australianos que passaram por testes de neurocognição e habilidades diversas em períodos que variaram de oito meses a sete anos. O desempenho dessas crianças geradas por homens com mais de 40 anos foi pior do que o dos filhos de indivíduos de faixas etárias inferiores.

No artigo publicado hoje na revista Nature, os cientistas detectaram alterações genéticas associadas ao autismo e à esquizofrenia, algo que Augustine Kong descarta como mera coincidência. Ainda não há certeza sobre o motivo de as mutações herdadas pelos pais estarem tão associadas a problemas psiquiátricos ou cognitivos. Para Alexey Kondrashov, provavelmente a explicação está no fato de a maior parte dos genes se expressarem no cérebro. “Isso significa que novas mutações vão afetar mais as funções cerebrais”, acredita.

Mais gerações podem ser afetadas

“Estamos começando a ter mais evidências sobre o link entre a idade do pai e a esquizofrenia, o autismo e problemas de cognição. Até há pouco tempo, acreditava-se que a idade da mãe era mais importante, mas isso está mudando. O que nos preocupa é que, como homens mais velhos acumulam mais mutações no desenvolvimento dos espermatozoides, esses erros podem aumentar o risco de problemas nos filhos, que podem herdar as mutações para as próximas gerações. Mais pesquisas precisam ser feitas para aprofundarmos o conhecimento sobre esse assunto.”
John McGrath - esquisador

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)