(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Pouso em Marte foi milagre da engenharia

Jipe-robô de uma tonelada realizou operação arriscada na tentativa de descobrir se há vida em Marte. Nasa considera feito um desafio para nova era da exploração interplanetária


postado em 08/08/2012 08:47

Cientistas da Nasa consideraram uma vitória o impecável pouso em Marte, na segunda-feira, da sonda Curiosity, que já começou a enviar imagens de uma antiga cratera, como parte da sua missão de descobrir se o Planeta Vermelho já teve condições de abrigar vida.

O jipe-robô, que tem seis rodas e pesa uma tonelada, realizou uma complexa e arriscada operação para entrar na atmosfera marciana e pousar no local escolhido, na madrugada de segunda-feira (hora de Brasília), para alívio e alegria de cientistas e engenheiros da Nasa. "Treinamos durante oito anos para pensar no pior o tempo todo", disse o engenheiro-chefe Miguel San Martín. "Você nunca consegue desligar isso." Essa é a primeira missão de astrobiologia da Nasa desde o envio da sonda Viking, na década de 1970, e é também o primeiro laboratório analítico completo a operar em outro mundo.

Engenheiros da Nasa disseram que esse feito foi um dos mais desafiadores e complexos na história dos voos espaciais robóticos e que abrirá as portas para uma nova era da exploração interplanetária. O presidente norte-americano, Barack Obama, disse que o pouso da Curiosity representa um histórico "ponto de orgulho nacional".

O pouso é também um marco importante para a agência espacial norte-americana, afetada nos últimos anos por cortes orçamentários e pela recente aposentadoria da sua frota de ônibus espaciais. Por causa da demora nas comunicações por rádio entre a Terra e Marte, todo o processo de descida e pouso precisou ser autoguiado, sem a interferência dos técnicos. Depois de uma viagem de oito meses e 566 milhões de quilômetros, a sonda tocou a tênue atmosfera marciana a quase 21 mil quilômetros por hora – 17 vezes a velocidade do som –, antes de iniciar a descida controlada.

Para reduzir sua velocidade, a sonda contou com um paraquedas especial, com uma mochila a jato e com um inédito "guindaste aéreo" que auxiliou no pouso, ocorrido na cratera Gale, no hemisfério sul marciano, perto do equador desse planeta.

Cratera
A Nasa divulgou que o pouso aconteceu às 2h32 de segunda-feira (hora de Brasília). Momentos depois do pouso, a Curiosity enviou suas três primeiras imagens do solo marciano. Numa delas, uma roda do veículo e a sombra do jipe apareciam à frente do terreno pedregoso.

O jipe, do tamanho de um carro esportivo pequeno, está agora no fundo da gigantesca cratera Gale, aberta na superfície de Marte pelo impacto de um corpo celeste, e ao lado da imponente montanha rochosa chamada Monte Sharp.

Três sondas orbitais monitoraram a descida, que foi apelidada pelos técnicos da Nasa como "sete minutos de terror". O sucesso do pouso foi recebido com um misto de comemoração e alívio.

"Quando você vê uma foto da superfície do planeta com a nave espacial nela, esse é o milagre da engenharia", disse o cientista-chefe John Grotzinger a jornalistas na segunda-feira. Com o sol do fim de tarde se pondo atrás da beirada da cratera, a Curiosity ainda enviou outras seis fotos, além do resultado dos testes iniciais dos seus 10 instrumentos científicos. Durante a noite marciana, a sonda é desligada.

Recessão afeta projetos espaciais

A descida do superjipe Curiosity é motivo para júbilo entre os estudiosos do Planeta Vermelho. E talvez seja o último que eles terão em muitos anos. Não há dúvida de que crises econômicas afetam programas espaciais, e a última está batendo forte na Nasa.

Se isso parece incompatível com a etiqueta de preço que a missão carrega – US$ 2,5 bilhões (R$ 5,07 bilhões), a mais cara com destino a Marte já feita –, vale lembrar que a recessão sempre age com efeito retardado em projetos espaciais.

Dada sua complexidade, essas missões são gestadas e pagas ao longo de vários anos. Só assim Neil Armstrong e Buzz Aldrin puderam caminhar sobre a Lua em 1969, durante uma fase de dura recessão econômica nos EUA. Em compensação, o projeto Apollo, que os levou até lá, precisou de uma década para ser substituído pelos ônibus espaciais.

No caso do Curiosity, seu planejamento e financiamento começou há oito anos. Com efeito, ele é o último fruto dos bons tempos da economia. Os problemas para a Nasa estão mais adiante. A agência cancelou suas próximas missões de pequeno porte ao Planeta Vermelho e decidiu não mais cooperar com o jipe europeu ExoMars, que pretende buscar vida naquele planeta do Sistema Solar.

Não é à toa que, em meio aos justos discursos de orgulho nacional pelo sucesso com o pouso, o administrador da Nasa, Charles Bolden, tratou o Curiosity como um precursor do futuro envio de astronautas a Marte. No momento, não há passos intermediários planejados entre o novo jipe e as pegadas humanas, embora essa tão esperada missão tripulada só vá ocorrer, na melhor das hipóteses, no fim da década de 2030.


Portanto, exceto pelo próprio Curiosity, devemos ter o primeiro hiato significativo na exploração marciana desde os anos 1990 – a não ser, é claro, que o novo jipe faça alguma descoberta fantástica que motive governos do mundo todo a pisarem no acelerador rumo a Marte.


Por ora, contudo, a tendência é de que os marcianos possam ter um pouco de sossego na próxima década. Para tristeza dos impetuosos exploradores humanos.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)