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Estado de Minas

Contar carboidratos da dieta ajuda a controlar o diabetes

Contagem de carboidratos consumidos em cada refeição para o controle do diabetes tipo 1 é o principal avanço para enfrentar as dificuldades de equilibrar a dieta no dia a dia


postado em 27/06/2012 08:11 / atualizado em 27/06/2012 09:13

É preciso superar o medo de injeção. O diagnóstico do diabetes tipo 1, o mais comum entre crianças e adolescentes, vem com uma surprezinha desagradável: a aplicação de insulina acompanhará esse paciente para sempre, várias vezes ao dia. É uma descoberta difícil, principalmente quando se é tão jovem. Doença autoimune que ataca o pâncreas, interrompendo ou comprometendo a produção de insulina, o diabetes tipo 1 manifesta-se principalmente antes dos 18 anos e vem de uma hora para outra. Ao contrário do tipo 2 da doença, não há uma causa esclarecida e muito menos como se prevenir.

Segundo a endocrinologista Janice Sepúlveda Reis, coordenadora do ambulatório de diabetes tipo 1 da Santa Casa de Belo Horizonte, o organismo simplesmente para de reconhecer as células produtoras de insulina, as ilhotas pancreáticas, e começa a destruí-las. É preciso, então, repor o hormônio. Na prática, será necessário se afastar dos carboidratos, medir os níveis de glicose no sangue e aplicar insulina várias vezes ao dia: um cuidado e tanto para pessoas de qualquer idade. As crianças e os adolescentes necessariamente terão que manter os glicosímetros – aparelhos que medem a glicemia – em mãos, assim como as seringas de aplicação da insulina.

Mas a dificuldade ganha ainda outros contornos. As crianças menores, muitas vezes, se sentem diferentes dos colegas e muitos adolescentes se revoltam com tantas restrições. “Os pequenos que dependem dos pais para as medições e aplicações vão precisar da ajuda dos professores. Os que têm melhores condições acabam conseguindo equilibrar as refeições, mas quem estuda em escola pública e depende da merenda enfrenta um problema ainda maior.” É aqui que ganha destaque a terapia de contagem de carboidratos, que colaborou para a melhoria do tratamento do diabetes tipo 1.

O carboidrato afeta a glicemia, pois quase 100% dele é convertido em glicose no período de 15 minutos a duas horas depois da sua ingestão. Por isso, saber quantos gramas de carboidrato estão sendo ingeridos dá uma ideia do impacto na glicemia. A terapia consiste em quantificar quantos gramas estão sendo consumidos em cada refeição para se calcular a dose correta de insulina de ação rápida a ser aplicada. “Para crianças, e também para os adultos, é um avanço. Trinta anos atrás, o diabético não podia comer um pedaço de bolo”, comemora Janice. Mas a notícia de que se tem a doença continua sendo difícil para os jovens pacientes e seus familiares.

“Muitas crianças ainda lidam com a vergonha de ter que aplicar a insulina, de explicar o que tudo aquilo significa para os colegas. Na adolescência, chegam a omitir o tratamento. Vem a bebida alcoólica e, por vergonha ou raiva, alguns não aplicam a insulina.” Instrumentos de aplicação, como as canetas, facilitam a vida dessa faixa etária de pacientes, que não precisam ficar restritos às seringas. Mas nem sempre a dificuldade é de ordem prática. Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Sônia Maria do Carmo Maulais, especialista em psicologia hospitalar e em educação em diabetes, os menores de 12 anos ficam assustados no início, um sentimento passado pelos próprios pais.

APOIO AOS PAIS
“Em um primeiro momento, são os pais que precisam ser acolhidos. Eles é que sofrem um choque, passam pela fase da negação, chegam a procurar outros especialistas. Muitos ficam revoltados. O diabetes muda a rotina da família e na infância, o tratamento é de responsabilidade dos pais. É preciso, então, conhecer mais sobre a doença, o controle e seus desdobramentos. Uma criança diabética que adota cuidados com a alimentação e monitoramento da glicose faz tudo que outra criança faz. Ela pode ter dificuldades na escola quando os coleguinhas veem o aparelho e começam a perguntar se pega, se dói. É importante muita conversa dos pais com os filhos nessa hora”, diz Maulais.
No caso de adolescentes que assumem o tratamento, sob o olhar dos pais, é muito importante a forma como encaram a doença. “Se ele acha o tratamento muito difícil, é essa imagem que passará para os amigos. E os colegas mais próximos precisam saber da doença, pois ele pode precisar de ajuda”, alerta a psicóloga, que defende não só um maior conhecimento sobre a doença para enfrentá-la melhor, como uma postura positiva. “É bom procurar entender e não reprimir os sentimentos. Esses pacientes devem aprender a gostar e a cuidar de si mesmos, respeitando suas características.”

Coordenadora do Departamento de Psicologia da Sociedade Brasileira de Diabetes, Graça Câmara acredita que a forma como a criança e o adolescente encaram a doença tem muito da sua dinâmica familiar. “Algumas lidam bem com o imprevisto, outras se desestruturam. Mas a criança precisa entender que o diabetes veio para ficar. É uma disfunção, assim como a do colega que usa óculos. Os pais precisam dar tranquilidade para as crianças entenderem isso”. Para os adolescentes, que já vivem uma fase de questionamento, o diabetes pode ser mais um motivo para revolta. Para eles, Câmara recomenda as atividades em grupo, para que possam ver como outros lidam com a doença.

QUALIFICAÇÃO
Juiz de Fora receberá a 19ª edição do curso de qualificação para profissionais de saúde em educação em diabetes, iniciativa da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ Brasil) e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Profissionais de saúde das áreas pública e privada, associações e ONGs da área terão a oportunidade de se qualificar nas posturas e ações educativas em diabetes, para lidar com pacientes, familiares e cuidadores em geral. O curso, que oferece certificação pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), começa hoje (Dia Intenacional do Diabético) e vai até dia 1º de julho, na Associação de Diabéticos de Juiz de Fora.


Segundo Graça Câmara, também coordenadora operacional do Educando Educadores, a ideia é preparar esses profissionais para ajudar pacientes e familiares com os cuidados demandados. A qualidade de vida dos pais, por exemplo, pode melhorar quando se sabe lidar melhor com a doença. “Os profissionais de saúde são veículo de educação para o paciente, que precisa gerir a doença para o resto da vida. A educação para o diabetes é um conjunto de informações que geram uma mudança no comportamento, mostrando ao paciente como ele fica melhor quando se adapta dentro de sua realidade.” Informações: www.educandoeducadores.com.br.

 


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