Dos 10.568 registros estudados, 1.876 pacientes estavam sob a medicação de um inibidor seletivo de recaptação de serotonina (SSRI, na sigla em inglês) ou de um inibidor seletivo de recaptação de serotonina e noradrenalina (SNRI, na sigla em inglês) antes da admissão na UTI. Seus prontuários foram comparados aos dos pacientes sob tratamento intensivo que não tomavam essas medicações. Após o ajuste de sexo, idade, diagnóstico na classificação internacional de doenças, gravidade da doença e comorbidades, os pesquisadores descobriram que aqueles que tomavam essas classes de antidepressivos tinham 73% mais chances de morrer no hospital. O aumento do risco persistiu por um ano após a internação.
"Nós não fomos capazes de descobrir uma explicação clara para o elevado risco detectado. Outros estudos encontraram efeitos adversos de antidepressivos, mas, ao verificarmos, não pareceu que algumas dessas condições — aumento de sangramento e baixa pressão sanguínea, por exemplo — estavam presentes nos pacientes em nosso estudo", explica Katherine Berg, uma das médicas envolvidas na pesquisa.
Os SSRIs são conhecidos por terem como efeitos colaterais náuseas, inquietação, diarreia, vômitos, ansiedade, insônia, dor de cabeça, disfunção sexual, entre outros sintomas. Esses medicamentos têm sido usados para tratar depressão, transtorno de ansiedade social (timidez) e, algumas vezes, ejaculação precoce e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Já os chamados duais, que agem inibindo a recaptação de serotonina e noradrenalina, são aplicados para regular o humor e as funções cognitivas, tendo como principal efeito colateral a hipertensão arterial e podendo causar náuseas, tonturas, sonolência, disfunção sexual e prisão de ventre.
Ambas as classes de antidepressivos funcionam aumentando os níveis de neurotransmissores no cérebro e são conhecidos por causarem menos efeitos colaterais que as gerações anteriores desses remédios. Estudos recentes, por outro lado, descobriram que o SSRI pode aumentar os riscos de sangramento, tontura, quedas e derrames e hipotensão ortostática.
Pior nos cardíacos Certo grupo de pacientes, especialmente aqueles internados por problemas cardíacos, aparentaram estar sob um risco ainda maior de morte. Para pessoas com síndrome coronária aguda e que se submeteram a uma cirurgia no coração, as chances de morrer no hospital se mostraram maior que o dobro do avaliado em outros pacientes que tomavam essa classe de antidepresssivo. O oposto, no entanto, também foi observado. Não foi registrado, por exemplo, um aumento do risco entre os pacientes admitidos com septicemia. Isso mostra que nem todos os grupos de pacientes sob o efeito dos SSRI e SNRI estavam mais propícios ao óbito.
"Esse é um estudo retrospectivo. Descobrimos uma associação que parece ser mais forte em pacientes no hospital para a cirurgia cardíaca e outras condições cardíacas agudas. No entanto, devido à natureza do estudo, não é possível inferir uma relação casual. O risco elevado também foi encontrado em outros grupos, mas novos estudos são necessários para desenhar futuras conclusões", detalha Berg.
No estudo, não se controlou outros fatores que poderiam levar a um aumento da mortalidade, como o fumo e a depressão. Também não foi feito um cruzamento entre esses resultados e a causa da morte dos pacientes, já que, segundo Berg, a maioria deles veio a falecer após a dispensa do hospital. Os autores reforçam que os resultados atingidos necessitam de validação por estudos similares. Eles afirmam, no entanto, que essa informação destaca a necessidade de maneiras alternativas de monitorar potenciais efeitos adversos das medicações.
Distúrbio mundial
O Transtorno Depressivo Maior (TDM), ou simplesmente depressão, é um distúrbio que atinge mais de 16% dos adultos nos Estados Unidos. Os SSRIs são a classe de medicação mais prescritas para essa doença no país norte-americano. Uma lista divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) neste ano mostrou que os antidepressivos estão entre os remédios controlados mais consumidos pelos brasileiros. Segundo o relatório, a venda legal de antidepressivos aumentou de 29,46 mil caixas em 2007 para 10,59 milhões em 2010. A agência estima que, só em 2010, os brasileiros gastaram pelo menos R$ 92 milhões com esse tipo de medicamento.
Célia Roesler, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, explica que esses antidepressivos têm uma duração relativamente longa — de horas a dias. Se os efeitos persistirem em um paciente que, por algum motivo, foi parar em uma UTI, é possível que eles interfiram na ação dos medicamentos usados. "Pacientes em regime de terapia intensiva geralmente são medicados com antiarrítmicos, anticoagulantes e, muitas vezes, têm a sua função metabólica alterada. Será que esse resquício de antidepressivo que ficou circulando estaria interferindo para que esses pacientes evoluíssem para óbito?", questiona.
Roesler lembra que, na década de 1980, quando descobriram a fluoxetina, o primeiro antidepressivo SSRI, falou-se muito na "droga da felicidade". "E, desde então, surgiram cada vez mais antidepressivos, sempre com muita propaganda ligada à tristeza, à insônia. Mas muitos casos de uso abusivo desses medicamentos foram aparecendo: casos de suicídio, surtos psicóticos e interações com outros medicamentos, levando até a crises convulsivas."
Infecção grave
A septicemia pode se desenvolver a partir de qualquer infecção sistêmica grave. A maioria dos germes responsáveis pela sépsis é bactérias oriundas das infecções como pneumonia comunitária adquirida, infecção alta do trato urinário e meningite. Em caso de pacientes hospitalizados, as causas bacterianas mais comuns são pneumonia por aspiração, pneumonia associada ao respirador, infecção de sutura e abcessos.