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Estado de Minas INFORMÁTIC@

Tem Suruí no Google

TEDx de Belo Horizonte compartilha experiências como a união de tecnologia e cultura indígena


17/05/2012 09:54

Além das 400 pessoas que participaram do evento, internautas acompanharam transmissão via streaming
Além das 400 pessoas que participaram do evento, internautas acompanharam transmissão via streaming (foto: Shirley Pacelli/EM/D.A Press)
Meu pai é careca. Eu sei jogar truco. Prefiro cachoeira a praia. Eu cresci na periferia de BH... Esses são alguns dos perfis que deveriam ser encontrados com a brincadeira do Bingo Humano, durante o TEDx Belo Horizonte, evento realizado no sábado, dia 12, no Cento e Quatro. Por trás da proposta de encher uma cartela com assinaturas de participantes com essas características, está uma das premissas do TED: conectar pessoas. O chefe indígena Almir Narayamoga Suruí não conhecia o indiano Satyabrata Dam, que por sua vez foi apresentado a Rebecca Moore, líder do projeto Google Earth Outreach, que já era parceira de Almir e sua tribo em Rondônia.

“Normalmente, quanto mais você se especializa em um tema, menos contato você tem com pessoas de outras áreas. No TED acontece o contrário: quanto mais envolvido no universo do evento, mais diversidade você encontra”, explica o TED fellow J. Adam Huggins, espécie de representante da organização, responsável por licenciar o evento na capital mineira. Ele explica que qualquer indivíduo pode realizar um TEDx com até 100 pessoas. Quando o público é maior, é preciso ter uma licença para usar a marca. Como TED fellow, Huggins tem conhecimento das técnicas e serve como ponte entre o escritório central e os realizadores locais.

Para mirar
As TEDTalks (palestras) foram divididas em três sessões: Aqui, Perto e Longe, com média de cinco apresentações em cada uma delas. Com suas saias rodadas, tambores a tiracolo e alegria em forma de cantigas de roda, o grupo Meninas de Sinhá (www.myspace.com/meninasdesinha) deu início à programação. Valdete da Silva Cordeiro, a fundadora, contou como conseguiu resgatar a alegria de viver de 50 mulheres do Aglomerado Alto Vera Cruz, na Região Leste de Belo Horizonte. Se antes as senhoras estavam dopadas por remédios antidepressivos, um encontro semanal entre elas mudou sua história. A ideia inicial de trabalhos artesanais deu lugar a atividades lúdicas, como chicotinho queimado, coelhinho na toca e brincadeiras de roda, disparado a preferida. Valdete arrancou risos da plateia ao avisar que iria quebrar as regras: “Gente, eu sei que tem tempo, mas se eu não contar toda a história não vou ficar feliz”.

Rebecca Moore e o chefe Almir Suruí fizeram inusitada parceria de sucesso entre o Google e uma tribo de Rondônia
Rebecca Moore e o chefe Almir Suruí fizeram inusitada parceria de sucesso entre o Google e uma tribo de Rondônia (foto: Shirley Pacelli/EM/D.A Press)
Em seguida, Rebecca Moore, cientista de computação e ativista ambiental, se apresentou. Com os braços pintados como na tribo dos suruís, a executiva do Google explicou como os índios rondonienses usam a tecnologia da empresa para defender seu território, registrar e difundir sua cultura para o mundo. “Tem uma frase que diz que os ambientalistas sentavam em frente a uma árvore para que ela não fosse derrubada. Agora eles sentam em frente a um computador e monitoram pelo Google Earth”, brinca Moore.

A executiva conta que, em 2007, Almir Suruí buscou uma parceria com o projeto para ajudar seu povo. O primeiro e maior desafio foi o da língua. Os suruís não falavam inglês, claro, e nem mesmo português. Então, era preciso traduzir tudo do inglês para o português e depois para o tupi. “A melhor coisa foi quando começamos a usar o Google Translate para facilitar as conversas. Não era perfeito, mas ajudava bem”, relembra. Para treinar os índios foi preciso fazer muitas adaptações nas ferramentas. Três deles, que se destacaram, viraram multiplicadores do conhecimento na tribo.

Rebecca conta que o engraçado foi que o prefeito de Cacoal pediu para que a equipe do Google treinasse também os moradores da cidade. “Como iríamos voltar à cidade só após alguns anos, demos a ideia: por que os suruís não treinam vocês?” E o prefeito aceitou. Os índios ensinaram os homens brancos a utilizar a tecnologia da plataforma.
Almir Narayamoga Suruí, de 37 anos, conta que aos 17 se transformou em líder da tribo e decidiu conversar com os outros chefes para buscar uma solução para a ameaça à existência do seu povo. Desse encontro, surgiu o plano de 50 anos dos suruís que estabelece como preservar o meio ambiente trazendo retorno econômico para eles. “Precisamos criar um novo sistema econômico, muitas pessoas acham que a floresta é um entrave para o desenvolvimento”, afirma Almir.

Anita Doron e J. Adam Huggins são TED fellows, representantes da organização, responsáveis por licenciar os eventos locais
Anita Doron e J. Adam Huggins são TED fellows, representantes da organização, responsáveis por licenciar os eventos locais (foto: Shirley Pacelli/EM/D.A Press)
O grupo chegou à conclusão de que era preciso que o mundo conhecesse a tribo. “A população ainda tem preconceito com os povos indígenas. Com a comunicação, as pessoas vão saber da nossa história e assim dar valor”, complementa o líder. A melhor maneira encontrada para fazer isso foi por meio da tecnologia. Câmeras digitais, GPS e celulares com formulários de denúncias que vão diretamente para o governo ou polícia são algumas das ferramentas utilizadas por eles. “Os próprios suruís colocam informações no Google, mas tem que ter responsabilidade, porque é público”, ressalta o chefe. Ele acredita que o contato da tecnologia com a cultura indígena é positivo, pois eles podem gravar músicas, festas e outras manifestações culturais para que as próximas gerações conheçam. Dessa forma, fortalecem a cultura indígena.

Dedo na ferida
Cada TEDTalk toca as pessoas da plateia de uma forma diferente, mas é consenso do público do TEDx Belo Horizonte que o psicólogo Fernando Braga foi o mais polêmico. Para começar, ele apareceu no palco vestido de gari e com uma vassoura nas mãos. Mas isso não é mera performance. O palestrante é responsável por uma tese sobre invisibilidade pública que resultou no livro Homens invisíveis – Relatos de uma humilhação social. No conteúdo, a constatação de que alguns profissionais, a exemplo dos garis, são vistos pela sociedade como uma função e não como pessoas.

Grupo criado por Valdete Cordeiro (primeira à esquerda) mudou a vida de senhoras do Alto Vera Cruz
Grupo criado por Valdete Cordeiro (primeira à esquerda) mudou a vida de senhoras do Alto Vera Cruz (foto: Shirley Pacelli/EM/D.A Press)
Braga pediu a todos que levantassem e de pé batessem palmas para os funcionários que trabalhavam no local, servindo a todos. Depois disso, contou como passou um dia como gari na Universidade de São Paulo (USP), onde estudava, e da surpresa de não ter sido reconhecido pelos colegas ao atravessar as áreas de convivência trajando o uniforme. “Se negligência não fosse uma forma de violência, omissão de socorro em acidentes de trânsito não seria crime”, ressaltou. Para fechar sua palestra ele inovou mais uma vez e cantou o rap Negro drama, dos Racionais, encerrando com o verso “De onde vem o diamante? Da lama”.
l www.tedxbelohorizonte.com

O que é
Sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design, em português. É uma organização sem fins lucrativos dedicada a espalhar boas ideias. Começou há 26 anos, como uma conferência de quatro dias na Califórnia (Estados Unidos) e cresceu para apoiar múltiplas iniciativas. Em 18 minutos, os palestrantes são convidados a contar sobre sua experiência ou pensamento. Personalidades como Bill Gates e Gordon Brown, ex-primeiro ministro britânico, já foram palestrantes do TED. Há dois grande eventos anuais e os TEDx, eventos locais e auto-organizados em todo o mundo. As palestras são divulgadas no site (TED.com).

Vestido de gari, Fernando Braga falou sobre invisibilidade pública
Vestido de gari, Fernando Braga falou sobre invisibilidade pública (foto: Shirley Pacelli/EM/D.A Press)
Desvende o mundo

O Google Earth é uma plataforma desenvolvida pelo Google que apresenta um modelo tridimensional do globo. O modelo é construído a partir de um mosaico de imagens de satélite e permite que o usuário identifique lugares e construções. É como um Google Maps bem mais complexo. Já o Google Earth Outreach é um programa que disponibiliza essa tecnologia para que entidades a utilizem como meio de proteção ambiental. Foi utilizado com sucesso durante o furacão Katrine em Nova Orleans (Estados Unidos), em 2005.
earth.google.com/intl/pt-BR/


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