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Estado de Minas

Sono desregulado aumenta as chances de desenvolver obesidade e diabetes

Desequilíbrio afeta mesmo em quem mantém dieta balanceada e faz exercício físico


postado em 12/04/2012 08:53 / atualizado em 12/04/2012 09:10

Clique e conheça o estudo feito por pesquisadores da Universidade de Harvard
Clique e conheça o estudo feito por pesquisadores da Universidade de Harvard
Os três pilares para uma vida saudável consistem em ter boas noites de sono, alimentar-se adequadamente e praticar atividades físicas. Infelizmente, há pessoas que, por mais que consigam ter uma dieta balanceada e se exercitar, acabam dormindo pouco ou não conseguem conciliar a hora de descanso com o relógio biológico – caso de quem faz viagens internacionais constantes ou têm rotinas muito diversificadas. Essa falta de descanso, como constataram pesquisadores dos Estados Unidos, pode trazer problemas sérios ao organismo: além de aumentar as chances de a pessoa ficar obesa, o sono deficiente pode levar ao desenvolvimento do diabetes.

Dormir bem está diretamente ligado à regulação do metabolismo. É durante o momento de repouso que o corpo produz determinados hormônios e repara as células danificadas, e o cérebro fixa as informações importantes na memória. Assim, a deficiência de uma noite bem dormida reduz a velocidade do metabolismo, o que prejudica o emagrecimento. "Além disso, o indivíduo passa a ter menos energia para se exercitar e desenvolve preferência por alimentos pouco saudáveis, e em quantidades maiores que o habitual", explica ao Estado de Minas o líder da pesquisa publicada hoje na revista científica Science Translational Medicine, Orfeu Buxton, professor da Divisão de Medicina do Sono da Escola de Medicina de Harvard. "Em um ano, pode-se engordar 4,5 quilos com essa rotina desregrada", adverte o pesquisador, que também é neurocientista do Brigham and Women’s Hospital.

Os 21 participantes da análise, que não alteraram a intensidade de suas atividades físicas nem a qualidade da alimentação, tiveram o horário em que iam para a cama, bem como o tempo que passavam dormindo, controlado pelos cientistas durante seis semanas. Inicialmente, eles dormiram por cerca de 10 horas todas nas noites. Depois, por três semanas, tinham pouco mais que cinco horas e meia de descanso diário e com a ida para o quarto ocorrendo em horários distintos do dia e da noite, para confundir o relógio biológico.

No estudo, o resultado mais curioso foi em relação ao diabetes. Os indivíduos tiveram a concentração de glicose no sangue aumentada depois das refeições, devido à pouca produção de insulina pelo pâncreas. A insulina é o hormônio responsável por manter a taxa de glicose em níveis adequados nas células. "Em poucos anos, essa situação pode resultar no desenvolvimento do diabetes em quem tem predisposição à doença. Cada organismo reage de uma maneira diferente à falta de sono e aos ciclos instáveis, mas os pré-diabéticos precisam tomar muito cuidado", alerta Buxton.

"Quando a pessoa é privada de dormir adequadamente, há o aumento da produção do hormônio cortisol, que intensifica a resistência à insulina. Isso também é um fator de risco", complementa o neurologista e especialista em medicina do sono Hudson Mourão Mesquita, que não participou da pesquisa.

Organismo recuperado

O consenso de que é necessário dormir por aproximadamente oito horas a fim de manter uma rotina saudável é confirmado pelo endocrinologista Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Ele afirma que adultos precisam desse tempo para que o organismo se restabeleça dos danos sofridos ao longo do dia e adquira energia para funcionar adequadamente. "Ao dormir menos de oito horas por noite, aumenta-se a liberação do neuropeptídeo Y no corpo, que é o hormônio da fome. Ocorre, ainda, a redução do hormônio que ajuda a emagrecer, a liptina, características que, como apresentado no estudo, fazem com que os indivíduos que não dormem bem tenham mais riscos de ficar obesos”, explica.

A obesidade, por sua vez, é um dos fatores que influenciam o surgimento do diabetes tipo 2, o mais comum entre a população mundial. Desse modo, o corpo entra em um círculo vicioso que afeta a saúde do indivíduo. "Além da resistência à insulina, o cortisol estimula as células a reterem mais energia e induz a pessoa a ter mais apetite", comenta Hudson Mesquita. A combinação hormonal de acúmulo de gordura e carboidratos bem como o estímulo comportamental à má alimentação, favorecem o ganho de peso, o diabetes e mesmo problemas cardiovasculares.

Poucas horas de sono ou dormir fora do ciclo estabelecido pelo corpo promovem, ainda, outros danos ao organismo. "O sono do obeso é mais perturbado, pois a pessoa pode desenvolver apneia (momentos em que ela para de respirar por alguns segundos ao longo da noite), fazendo com que seja produzido ainda mais cortisol e a pressão arterial suba", explica o neurologista. "Esses distúrbios afetam principalmente os trabalhadores noturnos, que geralmente apresentam dificuldade para pegar no sono e mantê-lo durante o dia", completa Orfeu Buxton. "Tais profissionais, quando são pré-diabéticos, têm mais chances de progredir para o doença do que quem trabalha nos turnos da manhã e da tarde, pois enfrentam a interrupção do ciclo do relógio biológico intensamente", esclarece.

Mesquita pondera, no entanto, que tudo depende da adaptação de cada um à rotina de trabalho. "Há pessoas que afirmam ter melhor desempenho profissional à noite do que de dia. Por outro lado, alguns precisam ficar acordados no horário que costumavam dormir e começam a engordar e a apresentar problemas de saúde, incluindo depressão", exemplifica. E quem sofre mais, destaca, são os indivíduos com rotina desregrada, como pilotos de avião transcontinental.

"O piloto sai de um país durante o dia e, depois de longas horas de voo, ainda é dia na outra nação. Ao voltar, também continua claro, o que faz o corpo ficar confuso, pois os receptores químicos que recebem claridade e escuridão funcionam fora do ciclo tradicional", descreve Buxton. A solução para essas questões é procurar um especialista assim que notar algo errado na rotina de dormir.

Insulina
O diabetes tipo 2, que é cerca de oito vezes mais comum entre a população do que o tipo 1, ocorre devido à produção contínua de insulina pelo pâncreas. O problema é que as células musculares e adiposas não conseguem metabolizar a glicose presente na corrente sanguínea, embora haja a presença de insulina no organismo. Estima-se que entre 60% e 90% dos portadores da doença, geralmente tratada com dieta e exercícios, sejam obesos. Em casos mais graves, o paciente precisa tomar remédios por via oral ou aplicar injeção de insulina para controlar o nível de açúcar no sangue. Já no diabetes tipo 1 – doença autoimune –, as células produtoras de insulina são destruídas, uma vez que o sistema imunológico as reconhece como corpos estranhos.

 


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