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Estado de Minas

Diversos países mantêm bases científicas na Antártida

Região é considerada crucial para entender o ecossistema terrestre


postado em 20/03/2012 09:00

Isolada, distante, desabitada e sem vida são algumas expressões comumente associadas à Antártida, continente gelado no Polo Sul da Terra. Contudo, o que pouca gente imagina é que a região, na verdade, funciona como um grande laboratório a céu aberto. Quase 50 bases científicas permanentes estudam a terra gelada, cuja temperatura média varia entre -30°C e -60°C. Vilas, aeroportos e laboratórios autônomos espalham-se pela área, considerada de enorme importância ambiental para o mundo. O frio que volta e meia toma conta do Brasil vem de lá. As baleias que passeiam pela costa nacional durante o verão passam boa parte do ano naquelas águas geladas. E o buraco de ozônio — uma das principais preocupações dos ambientalistas — cobre o céu antártico, fazendo da região uma das mais cruciais para o equilíbrio do planeta.

Para evitar que o interesse das nações acabasse por prejudicar a região, em 1959, países de todo o mundo assinaram o Tratado da Antártida (veja Saiba mais). Pelo documento, a zona seria desmilitarizada e todos os países que pretendem reivindicar parte do território do continente deveriam suspender qualquer atividade nesse sentido até 1991. “É em virtude do Tratado da Antártida que a região se tornou um lugar dedicado à paz e à ciência. Há fortes exigências para abertura de informações e cooperação na Antártida, incluindo na ciência”, diz ao Estado de Minas Cath Wallace, pesquisadora da Universidade de Wellington, na Nova Zelândia. Quando o tratado chegou ao fim, a comunidade internacional decidiu prorrogá-lo por 50 anos. Assim, pelo menos até 2041 o local será um patrimônio ambiental mundial.

O continente é uma espécie de open data científico. Tudo que for produzido ali deve estar disponível gratuitamente para outros pesquisadores ao redor do mundo. Da mesma forma, qualquer projeto de pesquisa — ou problema — que ocorra na região deve ser comunicado aos demais países signatários do tratado. Além disso, mais do que uma possibilidade, a pesquisa científica é uma obrigação dos signatários do acordo. “O regime jurídico internacional para toda a área do planeta ao sul de 60° é o Tratado da Antártida, que tem a peculiaridade de exigir das partes signatárias um substancial programa científico”, explica Jefferson Simões, diretor do Centro Polar e Climático (CPC).

Mudanças climáticas

A preocupação internacional para proteger a região está ligada à sua singularidade ambiental. Ao mesmo tempo que preserva algumas das características tradicionais da Terra — há camadas de solo intocadas há milhares de anos sob o gelo —, o local é um dos primeiros a sofrer com as mazelas das mudanças climáticas e do aquecimento global. Um prato cheio para pesquisadores de diversas áreas. “A pesquisa científica é a principal forma de engajamento na Antártida. Há uma série de benefícios a partir de pesquisas antárticas, incluindo o aumento do nosso conhecimento sobre todo o mundo”, dizem Claire Christian e Ricardo Roura, da Coalizão para a Antártica e o Oceano do Sul, organização internacional que trabalha na promoção da pesquisa e preservação no continente antártico. “Uma melhor compreensão das questões sobre mudanças climáticas que afetam todo o planeta, depende da Antártida”, completa a especialista.

Assim, como um sistema integrado, as geleiras da Antártida derretem graças à fumaça emitida pelos carros de metrópoles como São Paulo ou Pequim. Os peixes que preenchem as redes dos pescadores de Santa Catarina se reproduzem nas baías da região gelada. “A Antártida é parte integrante do sistema ambiental terrestre, um dos principais controladores do clima do Brasil”, afirma Simões, do CPC. O grupo do especialista mantém o módulo Criosfera-1, um laboratório autônomo que envia informações climáticas e ambientais de bem perto do Polo Sul para análise de pesquisadores no Brasil. “Modificações que lá ocorrem afetam diretamente o nosso cotidiano”, completa ele, também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Países reivindicam parte do território

Os países signatários do Tratado da Antártida se dividem em três grupos. No primeiro, composto pelos que mantêm reivindicação territorial no continente, estão Reino Unido, Argentina, França, Chile, Noruega, Austrália e Nova Zelândia. Rússia e Estados Unidos estão no grupo com “reserva de direito de reivindicação territorial”. Isso significa que, embora não tenham declarado formalmente o interesse em um território, podem fazê-lo. Outros países são apenas signatários: África do Sul, Alemanha, Bélgica, Bulgária, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Finlândia, Índia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Portugal, Suécia, Turquia, Ucrânia e Uruguai são, por enquanto, apenas signatários.

Brasil e Peru também já demonstraram interesse em reivindicar partes do continente gelado. O Brasil reservou uma parcela dentro da porção ocidental — disputada também por Chile, Argentina e Reino Unido — como “área de interesse”, uma classificação que demonstra que o país pode, no futuro, reivindicar a região. O Peru já iniciou o processo de requisição de outra fatia do continente, não concluindo o pedido formal. Além dos dois, os Estados Unidos iniciaram estudos para solicitar parte da Terra de Mary Byrd, região mais isolada do continente ainda não reivindicada por nenhum país, como parte integrante de seu território.

 


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