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Estado de Minas

Entenda a dor tardia da catapora

Herpes-zoster surge na fase adulta, geralmente em pessoas que tiveram na infância o vírus da varicela. Doença caminha pelo nervo e provoca lesões cutâneas


postado em 16/03/2012 09:52

Ele pode ficar anos e anos adormecido no corpo, mas basta uma queda de imunidade para o varicela-zoster acordar. Agente causador da catapora, que normalmente se manifesta durante a infância, o vírus tem o poder de provocar outra infecção na fase adulta, o herpes-zoster. A doença, que faz surgir na pele lesões com aspecto linear, também é conhecida como cobreiro, pois acreditava-se que as marcas eram provocadas pela passagem de um bicho peçonhento no corpo. Quando acomete idosos, o grande temor é de que a dor persista por longos períodos, mesmo depois de a ferida cicatrizar.


Em geral, o herpes-zoster se manifesta em indivíduos que tiveram catapora quando eram crianças. O infectologista Estevão Urbano Silva, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, em Belo Horizonte, explica que o vírus fica em vida latente na raiz nervosa, bem próxima da medula, e quando encontra condições favoráveis para agir ele se multiplica. Rapidamente, o varicela-zoster caminha pelo nervo e se aproxima da pele até provocar as lesões cutâneas – que podem ser vistas a olho nu –, motivo pelo qual muitos pacientes relatam ter a sensação de que um bicho está andando pelo corpo. Urbano diz que, na maioria dos casos, o vírus se reativa em pessoas com mais de 60 anos. “Isso se dá porque a partir dessa idade a imunidade tende a cair, o que é normal da senilidade (processo natural de envelhecimento)”, destaca.


Coceira, formigamento e febre baixa podem acometer uma pessoa com herpes-zoster, mas a principal queixa nos consultórios é a dor. O problema é que ela pode aparecer de 10 a 14 dias antes de as lesões surgirem na pele, já que o vírus vai inflamando as terminações nervosas por onde passa. Isso retarda o diagnóstico e até levanta a suspeita de uma doença mais grave, pois o médico só pode apontar o varicela-zoster como o responsável pelos sintomas depois que as pequenas bolhas aparecem na epiderme. “A dor no peito pode ser tão intensa, por exemplo, que alguns acreditam em infarto. O paciente vem ao hospital, faz exames e ninguém acha nada”, afirma o infectologista.


O mais comum é o herpes-zoster se manifestar na região do tronco e pescoço, mas qualquer parte do corpo pode ser afetada. O dermatologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Carlos Martins Guedes ressalta que, em algumas áreas, a infecção pode ter consequências mais graves. No rosto, o vírus pode gerar dor intensa quando atinge ouvido, nariz e olhos e também é capaz de provocar paralisia se percorrer o nervo facial. “Mesmo em pacientes mais jovens, é preciso tratar precocemente para que evitar que a doença acometa o nervo ótico e agrida os olhos, pois ela pode gerar úlcera de córnea e levar à cegueira”, alerta.


Passado o susto da filha, que quase ficou cega por causa de um herpes-zoster no olho, foi a vez de a cabeleireira Noeme Muniz Gonzaga, de 78 anos, ser afetada pelo vírus. Há um mês, ela começou a sentir uma dor forte que ia do umbigo até as costas. Noeme resistiu ao incômodo – que só aumentava – por três dias, à base de analgésicos e sem conseguir dormir direito. Até as vesículas surgirem na pele e receber o diagnóstico de um médico, ela chegou a suspeitar de problema no estômago. “Além da coceira, ardia igual pimenta e parecia que tinha fogo no lugar”, descreve. “Não desejo isso para ninguém.” A cabeleireira lembra de ter tido catapora na infância, mas não sabe explicar por que adquiriu o herpes-zoster. “Estresse tudo mundo tem. Às vezes, a gente não sabe se vai conseguir pagar as contas”, reconhece.


De acordo com Martins Guedes, que já teve herpes-zoster e até hoje sente uma coceira na região escapular, não há com o que se preocupar quando a doença surge antes dos 40 anos. Em geral, ela desaparece espontaneamente, sem deixar nenhuma sequela. “Com médico ou sem médico, com benzedor ou sem benzedor, com remédio ou sem remédio, a doença some em três ou quatro semanas”, garante. Nos pacientes idosos, porém, a preocupação é com neuralgia pós-herpética, caracterizada por uma dor que pode persistir por meses ou anos, mesmo depois que o vírus é controlado. Quanto mais velho o paciente, mais comum é o problema.


Nesses casos, o mais importante é o diagnóstico precoce para que o tratamento seja iniciado antes que as sequelas apareçam, pois a dor aguda pode se tornar crônica e difícil de ser controlada. Alguns pacientes são obrigados a tomar remédios bem complexos para controlar a dor, como o bloqueio anestésico, que é injetado diretamente no nervo afetado pelo herpes-zoster.

Há vacina, mas a dose é cara

A quem antes só restava esperar para ver se o herpes-zoster se manifestaria, agora é possível se prevenir com uma vacina. Desenvolvida por um laboratório norte-americano, a zostavax é composta de vírus vivo, mas enfraquecido, e diminui em 50% a possibilidade de um paciente ter um episódio de herpes. Basta tomar uma única dose. O problema é que a vacina não está disponível no serviço público, apenas em clínicas de vacinação, e chega a custar mais de R$ 200.


Estevão Urbano diz que a eficácia da zostavax é comprovada apenas em pacientes com mais de 60 anos, praticamente sem nenhum efeito colateral. Ela é contraindicada para pessoas que tenham alergia grave aos seus componentes (gelatina e o antibiótico neomicina), mas isso é raríssimo. Outro grupo que não pode tomar a vacina é o de quem tem imunidade baixa, pois o vírus pode causar herpes-zoster ou catapora nos pacientes muito debilitados.

Tire suas dúvidas
Qualquer pessoa pode ter?
Sim, mas geralmente a doença se manifesta em indivíduos que tiveram catapora na infância. Pacientes com idade avançada, estresse exagerado e imunodeprimidos, entre eles HIV positivo em tratamento contra câncer, transplantados, que usam drogas imunosupressoras, como corticoide, também ficam com baixa resistência e têm mais facilidade para adquirir a infecção.

Como a doença é transmitida?
No herpes-zoster localizado, a única forma de transmissão é o contato direto com as lesões. Por isso, é importante usar luvas para tratar as feridas, o que também evita a proliferação de bactérias e o consequente surgimento de infecção secundária. Quem tem herpes-zoster disseminada por todo o corpo, a forma mais comum de transmissão é pelo ar. Então, a pessoa precisa ser isolada. A precaução não vale para quem já teve catapora e, portanto, está com o vírus adormecido no organismo. A única exceção são as mulheres grávidas, que, em contato com o varicela-zoster, podem transmitir o vírus para o feto. Nesses casos, o bebê tem a catapora dentro do útero e o herpes-zoster vai aparecer logo nos primeiros anos de vida.

Qual é a melhor maneira de tratar o herpes-zoster?

O tratamento é simples e varia de 7 a 14 dias. Utiliza-se medicamento antiviral à base de comprimido, que inibe a multiplicação do varicela-zoster. Para ter melhor ação, ele deve ser ingerido nas primeiras 72 horas depois que as feridas aparecem na pele. O remédio diminui a duração da dor, o tempo de cicatrização das lesões e pode diminuir a chance de o paciente ter neuralgia pós-herpética, mas não atua na dor aguda, que existe enquanto as feridas estão aparentes. Para essa dor, é necessário tomar analgésicos, dos simples aos mais complexos, dependendo dos sintomas.

Mesmo depois do tratamento, o vírus pode voltar?
Embora não seja comum, uma pessoa pode ter mais de um episódio de herpes-zoster ao longo da vida. Isso ocorre com mais frequência em pacientes com doenças que baixam a imunidade.

Herpes-zoster mata?
A doença pode, sim, levar à morte. O risco é para indivíduos com males que geram baixa de imunidade. O vírus pode se espalhar pelo corpo inteiro e provocar meningite (quando atinge a cabeça), pneumonia (no pulmão), hepatite (se for para o fígado). Quanto mais demorar o diagnóstico, maior é a chance de haver complicações e possível óbito. Para a população saudável, a preocupação é com o herpes-zoster nos olhos.

É verdade que a doença só se manifesta em um lado do corpo?

É verdade. O herpes-zoster sempre respeita a linha média do corpo, pois a ramificação nervosa de um lado não é dependente do outro. Pode ultrapassar a metade do corpo em casos especiais, que são os pacientes imunodeprimidos, o que torna relativamente real o ditado popular pela população mais antiga: o cobreiro quando junta o rabo indica que o paciente vai morrer.

É possível ter herpes-zoster sem ter tido catapora?
Em raros casos, a catapora pode não se manifestar antes do herpes-zoster. Mas, mesmo que a pessoa não tenha tido a doença da infância, o vírus pode estar escondido em alguma parte do corpo. Na maioria dos casos, porém, ocorre a evolução da catapora para o herpes-zoster.

A vacina da catapora protege contra o herpes-zoster?

Não. O vírus enfraquecido é o mesmo, mas as doses são diferentes. Como a da catapora, que deve ser dada na infância, tem metade de varicela-zoster, ela não oferece o benefício de evitar o herpes-zoster. A vacina é indicada para pacientes com mais de 60 anos que já tiveram um episódio da doença ou mesmo para aqueles que nunca sofreram com as feridas lineares.

 


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