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Estado de Minas

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Uso de redes sociais como meio de divulgação e mobilização ganha mais fôlego em 2012


postado em 22/12/2011 10:20

Em manifestação marcada pela internet, jovem com máscara do grupo Anonymous mostra indignação contra vereadores que votaram a favor do aumento de 61,8% no próprio salário(foto: Shirley Pacelli/EM/D.A.Press)
Em manifestação marcada pela internet, jovem com máscara do grupo Anonymous mostra indignação contra vereadores que votaram a favor do aumento de 61,8% no próprio salário (foto: Shirley Pacelli/EM/D.A.Press)
Clap, clap, clap... As palmas de 2011 vão todas para “o manifestante”, eleito a personalidade do ano pela revista norte-americana Time. O reconhecimento conceitual é mais que merecido diante de inúmeros protestos que ocorreram em todo o mundo e que culminaram com a queda de ditadores e mobilizações populares em torno de causas econômicas e políticas. Se em 2010 Mark Zuckerberg, criador do Facebook, foi a personalidade da vez, segundo a publicação, este ano o reino das redes sociais continuou em alta. Desta vez, essas ferramentas virtuais tiveram uma função estratégica potencializada. E não são só a Primavera Árabe ou o Occupy Wall Street os exemplos que representaram essas manifestações. Em Belo Horizonte e em todo o Brasil, as marchas tomaram conta das ruas. E o recente Ocupe a Câmara (https://migre.me/7dlDz), movimento criado depois dos vereadores belo-horizontinos aprovarem o aumento de 61,8% nos próprios salários no último dia 16, dá sinais de que em 2012 o ciberativismo será forte.

Segundo Geane Carvalho Alzamora, professora do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), qualquer forma de previsão em relação à inconstante internet seria equivocada. Contudo, ela aposta em um processo de divulgação de informações cada vez mais horizontalizado. “Ainda hoje, poucos emissores distribuem notícias para muitas pessoas. A tendência é de que qualquer um possa produzir mensagens para todos. É a mass self communication, nova forma de comunicação discutida pelo sociólogo Manuel Castells”, explica Alzamora, também pesquisadora do Centro de Convergência de Novas Mídias da UFMG.

Professora da UFMG, Geane Carvalho Alzamora diz que 2011 foi marcado pelo amadurecimento do uso tático das redes sociais (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Professora da UFMG, Geane Carvalho Alzamora diz que 2011 foi marcado pelo amadurecimento do uso tático das redes sociais (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Para ela, o grande destaque de 2011 foi a relação dos sites de relacionamento e o ativismo político. “Foi um amadurecimento do uso tático das redes sociais para o bem e para o mal. Nesse último caso, do ponto de vista empresarial, companhias agora rastreiam os perfis web dos candidatos às vagas”, explica Alzamora.

Oráculo do novo ano
O Gartner, instituto de consultoria web, lançou previsões para 2012 relativas ao uso da internet. De acordo com a empresa, há uma bolha de investimentos prestes a explodir na área das redes sociais. As tendências apontam também o crescimento da computação em nuvem. Até 2016, cerca de 50% das maiores companhias mundiais vão armazenar seus dados na nuvem. “Os usuários vão usar seus próprios aparelhos no ambiente de trabalho”, explica Daryl Plummer, vice-presidente-executivo do Gartner. Os projetos para desenvolvimento de aplicativos em dispositivos móveis serão quatro vezes maiores que os destinados aos PCs. Com esse turbilhão de dados sendo armazenados virtualmente, será preciso investir em segurança. Mesmo porque, ainda segundo o órgão, vulnerabilidades dos sistemas serão descobertas por cibercriminosos e isso trará um impacto financeiro de até 10% ao ano. Além disso, a empresa acredita que por causa desse grande volume de informações as companhias terão um grande desafio para compreendê-las. O sistema big data (grande dado) é o caminho apontado para lidar com a nova realidade. Até 2015, uma sobretaxa global de energia será cobrada para armazenar arquivos na nuvem.

Tempo de reivindicar
Da Praia da Estação ao Ocupe a Câmara. Chegando ao fim de 2011, os manifestantes mineiros descem a Avenida dos Andradas, desde a Praça Rui Barbosa, em direção à Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). A nova mobilização se organizou em poucos dias inteiramente via web. Indignada com a, até então somente, proposta dos vereadores de aumentar os próprios salários em 61,8%, Débora Vieira, 29 anos, educadora e atriz, organizou uma mobilização por meio de uma página de evento do Facebook. “Faço parte de um fórum na internet que discute a sociedade em Belo Horizonte. Divulguei matérias sobre o projeto nesse grupo e entrei em contato com o @criticarbh, perfil no Twitter que reúne demandas da população. Perguntei se animavam acompanhar a votação mais de perto, saber os políticos envolvidos, os que votariam contra ou a favor”, detalha Débora.

Protestos, como Occupy Wall Street, nasceram nas redes de relacionamento e se espalharam rapidamente(foto: Allison Joyce/AFP)
Protestos, como Occupy Wall Street, nasceram nas redes de relacionamento e se espalharam rapidamente (foto: Allison Joyce/AFP)
A adesão à sessão que aprovou a proposta não foi tão grande quanto o número de pessoas que confirmaram a participação no evento virtual (645 usuários). “Mas serve para informar àqueles que sempre ficam sabendo depois que ocorrem as votações. Além disso, durante o ano todo a Câmara fica vazia. Ainda que não esteja lotada, já é uma presença considerável”, argumenta Débora sobre o público de cerca de 100 pessoas que participou da plenária no dia 16. A proposta do Ocupe a Câmara, movimento que surgiu dessa iniciativa, é juntar pessoas interessadas em realizar uma ocupação permanente da CMBH, a fim de incentivá-las a participar da vida pública da cidade. Seria uma escala entre cadastrados para garantir um quorum de cinco, 20, 200 cidadãos no local durante todo o ano.

Débora não é iniciante quando o assunto é mobilização de público pela web. Em junho, ela organizou a Marcha das Vadias junto com Hortência Ribeiro. Detalhe: as duas só se conheceram pessoalmente dias antes do evento. A manifestação, que ocorreu em conjunto com a Marcha da Liberdade, reuniu cerca de 300 pessoas. “Acho que a internet foi responsável por 80% da divulgação. O movimento teve dupla via de propagação, tanto pela questão gráfica dos cartazes criados, que eram irreverentes e de bom humor, quanto pela causa em si”, estima a atriz.

A manifestante, se a brincadeira permite, fez escola com a turma da Praia da Estação. O movimento, que teve seu estopim por meio do blog Vá de branco (https://vadebranco.blogspot.com/), assim como a praça, não tem dono, não tem autoria definida, como é informado na página virtual. Apesar disso, Rafael Barros Gomes, antropólogo e produtor cultural, de 28 anos, encaixa-se perfeitamente na figura de representante da mobilização que surgiu para protestar contra um decreto da Prefeitura de Belo Horizonte, de dezembro de 2009, proibindo a realização de eventos na Praça da Estação. Em setembro, nova lei garantiu o uso do local. As diversas edições da “praia” divulgadas pelo Facebook e Twitter, com seus criativos banhistas em protesto pacífico, foram essenciais para a reconquista do espaço público.

Forma de agregar
Rafael Barros diz ser receoso com o discurso de romantismo que coloca os sites de relacionamento como responsáveis pelas revoluções de 2011. “A ação parte dos agentes. O princípio básico é a indignação, as manifestações estão intimamente relacionadas à vontade de ruptura. As redes sociais serviram enquanto meio, trouxeram a possibilidade de comunicação mais livre”, enfatiza o antropólogo.

Segundo ele, as pessoas teriam só tomado consciência que é possível utilizar essas ferramentas como forma de agregar mais apoiadores às mobilizações que já existiam. “Mesmo assim é preciso pensar nos limites desses recursos. Tem gerações que não se adaptaram bem à tecnologia e também há classes sociais que não tem acesso a isso. A própria dinâmica de trabalho também é relevante: quem chega em casa, cansado do serviço, quer comer e dormir”, argumenta o produtor.

Bom exemplo dessa ressalva é o carnaval de rua da capital mineira, que ganhou notoriedade em 2011, apesar de já existir há três anos. “Foi muito no calor da Praia da Estação e no fôlego do Facebook”, explica o produtor sobre o sucesso dos blocos de nomes peculiares, que convidavam os moradores belo-horizontinos a permanecer na cidade em um período conhecido como desértico na capital.

O movimento Fora Lacerda, por sua vez, não nasceu na rede, mas se espalhou por ela e ganhou mais força. Na primeira marcha de protesto contra o governo atual, em setembro, mais de 2 mil pessoas participaram. “Houve um número muito maior do que as pessoas que confirmaram no evento do Facebook”, destaca Barros, que também apoia essa causa.

Para ele, a internet propicia a difusão de informações obscuras e denúncias, há uma maior liberdade nessa mídia. “Existem pessoas que são pró-ativas, que se deslocam, acionam o movimento, e tem as passivas”, acrescenta Rafael, esclarecendo que mesmo quem se manifesta somente virtualmente já contribui na divulgação da notícia e no incentivo àquelas que sairão de casa para fazer engrossar o coro da massa sedenta por mudanças.


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