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Estado de Minas

Gravidez cinematográfica

Tecnologia permite maior acompanhamento da fecundação e do desenvolvimento dos embriões, proporcionando melhorias na seleção dos que serão implantados e o sucesso dos tratamentos de fertilização in vitro


postado em 30/09/2011 06:00 / atualizado em 30/09/2011 13:01


O primeiro ultrassom ninguém esquece. Tudo bem que o embrião é do tamanho de um grão de arroz, quase imperceptível para os futuros papais e mamães. Mas o coração faz um tum-tum-tum inesquecível. Imagine, então, a emoção de assistir a um verdadeiro filme da vida: o momento exato em que o embrião começa a se dividir depois do encontro do óvulo com o espermatozóide. Para os médicos, isso chama-se clivagem. Para os pais, está ali o seu filho. Essa gravidez cinematográfica já é possível com o embrioscópio, que chega ao Brasil para aumentar o sucesso das fertilizações in vitro (FIV).

Segundo Bruno Scheffer, especialista e diretor do Instituto Brasileiro de Reprodução Assistida (IBRA), trata-se de um aparelho automático, colocado dentro da incubadora e programado para fazer imagens do embrião durante 24 horas. "É como se fosse uma filmadora que permite coletar dados mais exatos da fecundação e do desenvolvimento do embrião, além de quantificar os momentos exatos da clivagem (divisão e formação) de cada um. Esse acompanhamento de perto do exato momento da fertilização e do desenvolvimento embrionário proporciona a melhora na seleção dos embriões e o aumento das taxas de sucesso nos tratamentos".

Um estudo do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI), na Espanha, referência mundial para tratamento de reprodução humana, revelou que o sucesso da gravidez evolutiva (aquela com pouca chance de ser interrompida) aumenta para até 55%, contra 49% sem o uso da técnica. Segundo Scheffer, essa maior chance de engravidar é decorrente da melhora na seleção dos embriões que serão transferidos, possível pela avaliação da velocidade e das características da divisão embrionária, informações obtidas por meio das imagens. A análise auxilia o médico a escolher o embrião mais saudável e também identificar o melhor dia para transferir o embrião.

Apesar de disponível há cerca de 10 anos, o embrioscópio só começou a ser adotado na Espanha nos últimos três, após aperfeiçoamento do aparelho e de trabalhos científicos sobre sua aplicabilidade clínica. "Sua utilização com resultados positivos na medicina reprodutiva  é recente. Mas não foi comprovado nenhum malefício do aparelho em relação aos gametas, embriões e bebês gerados pela técnica.". Para o especialista, a possibilidade de avaliar todo o processo de fecundação e desenvolvimento dará aos médicos melhores parâmetros de escolha do embrião a transferir.

Não é, contudo, um tratamento barato. A fertilização in vitro custa cerca de R$ 10 mil, mas o valor não foi alterado com a adoção do embrioscópio. A técnica é indicada para todos os casais que precisam da reprodução assistida para engravidar, como aqueles com a qualidade de gameta feminino e/ou masculina prejudicada, obstrução de tuba uterina, necessidade de doação de gametas, endometriose, síndrome do ovário policístico e mesmo problemas genéticos em que é necessário selecionar geneticamente os melhores embriões.

A administradora S.M., de 39 anos, primeira paciente do IBRA a recorrer ao embrioscópio, está grávida de um mês e meio. Depois de perder o primeiro filho, que nasceu prematuro, dois anos atrás, ela recebeu da ginecologista a indicação de recorrer à reprodução assistida a partir dos exames que revelaram uma baixa contagem de hormônios. "Ela avaliou a minha pressa e vontade de ter filhos e me apresentou essa solução para eu ter um acompanhamento mais de perto de todo o processo. Já na primeira consulta veio a notícia, para ela surpreendente, de poder assistir ao desenvolvimento do embrião. "Nunca tinha ouvido falar nisso, mas adorei a oportunidade".

Dois dias depois da coleta dos óvulos e dos espermatozoides, S. voltou à clínica para ver os embriões. "Foi maravilhoso. Vi os cinco óvulos fecundados, a multiplicação das células, o crescimento deles. Estavam ali os meus filhinhos, era o início de tudo". Pela idade, ela podia implantar até três óvulos e congelar os demais, que estavam também em boas condições, e, após ser consultada pelo especialista, fez a escolha. Cinco dias depois ocorreu a transferência. "É lindo e inexplicável. Vi o momento exato em que o líquido com os embriões foi colocado no meu útero. Naquele momento soube que o meu bebê já estava dentro de mim". Com a gravidez única confirmada na semana passada, agora ela pensa no futuro. "Daqui a um ano e meio volto lá e implanto os outros".


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