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Estado de Minas

Linguagem descompromissada pela internet pode até acabar com relacionamentos


postado em 29/06/2011 17:18

Quanto pode custar uma frase dita sem pensar? E quando o que for dito se espalhar pelo mundo virtual? Falar demais pode ser sinônimo de problema, principalmente quando isso é feito na internet. Perder o emprego, o namorado ou uma amizade pelo que fica registrado na rede pode ser mais fácil do que se imagina. Como as pessoas conversam cada vez mais por torpedos de celular e mensagens instantâneas no computador, a comunicação fica mais rápida, mas nem sempre tão precisa quanto a feita cara a cara — marcada pela entonação de voz e pela linguagem corporal. Confusões e mal-entendidos tornam-se frequentes.

Um deles aconteceu com o servidor público Marcio Luiz Cabral Alexandre de Moraes, 28 anos, adepto das conversas por comunicadores instantâneos, como MSN e GTalk. Em uma ocasião, a caixa de diálogo pulou na tela com a mensagem “Vem cá”. Em seguida, o status do interlocutor passou de on-line para off-line. Mesmo sem entender muito bem, Marcio obedeceu e foi. Bateu na casa da pessoa. A moça atendeu e explicou que a conexão caiu e não deu para continuar a conversa. A frase era apenas um convite para iniciar o papo na internet. O servidor público tem outros casos para contar, e depois de vivê-los já conclui que a rede mundial de computadores é espaço propício para desentendimentos. “Nem sempre é possível perceber de que forma a pessoa fala”, diz.

As palavras na web podem até servir de faísca para brigas. “É muito comum confundir ironia com grosseria”, exemplifica Marcio. O estudante de psicologia Ivo Reinehr, 21 anos, que o diga. Durante as quatro horas que passa conectado diariamente, pode dizer que em algumas situações a linguagem na internet é ambígua pela falta do contato visual com o outro. “Sem querer, a pessoa pode causar incômodos”, afirma.

O estudante conta que, quando conversava com dois amigos ao mesmo tempo no programa Messenger, houve tumulto. Confundiu as janelas e mandou para um deles a mensagem venenosa que, na verdade, deveria seguir para o outro. “O mal-estar não ocorreu porque transformei o que tinha escrito em uma brincadeira. Por sorte, ele não percebeu a confusão.” Também teve problemas com trabalhos de faculdade. Em um deles, pediu para uma colega fazer uma tarefa e isso foi entendido como uma ordem. A questão só foi resolvida depois de uma explicação pessoalmente.

Significados
“Em qualquer situação, pode existir má compreensão. Não há como controlar como o outro lerá”, diz a professora de linguística Wânia Aragão, da Universidade de Brasília (UnB). A professora lembra que recursos como fontes, cores, desenhos e emoticons (veja quadro) ajudam na identificação de significados que muitas vezes a comunicação textual não consegue transmitir sozinha. Mesmo com eles, entretanto, ainda é difícil passar na mensagem sentimentos como a ironia.

A especialista não ousa falar de consequências do uso do internetês e acredita que este seja um momento de reflexão. “É hora de mudar a atitude da escola e encarar a internet como um gênero a ser estudado.”

Tópicos sobre como escrever adequadamente um e-mail de trabalho e dosar a formalidade (ou informalidade) nas mensagens trocadas on-line precisam ser discutidos entre as futuras gerações de internautas. Um motivo importante para fazê-lo, segundo a professora, é porque o leitor — receptor das mensagens — também mudou: há muito tempo deixou de ser passivo.

 


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