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Estado de Minas

Trump completa um mês de governo com rejeição inédita nos EUA

O presidente Donald Trump se vê enredado nos labirintos de Washington


postado em 19/02/2017 10:15 / atualizado em 19/02/2017 10:35

Com menos de quatro semanas no poder, o presidente sofreu limites impostos pela corte à sua autoridade(foto: San Rayford/AFP)
Com menos de quatro semanas no poder, o presidente sofreu limites impostos pela corte à sua autoridade (foto: San Rayford/AFP)

Há exatos 30 dias, Donald Trump prometeu tirar o governo dos Estados Unidos das mãos do establishment político e entregá-lo ao povo americano. Um mês depois de o magnata ser empossado presidente da maior potência econômica e bélica do mundo, a Casa Branca não se tornou exatamente uma instituição dirigida pela vontade popular. Enquanto o republicano colocava em prática algumas das propostas de campanha mais polêmicas, por decreto, a aprovação de seu governo experimenta os mais baixos índices para um mandatário que mal esquentou a cadeira. A turbulência é considerada sem precedentes em um momento no qual os presidentes recém-eleitos costumam experimentar uma espécie de lua de mel com a opinião pública.

Nesse sábado (18), o presidente faria comício na Flórida e depois terá reuniões em sua propriedade em Mar-a-Lago. "Muitas reuniões este fim de semana na Casa Branca do Sul", afirmou nesse sábado (18) o republicano em sua conta no Twitter, acrescentando que faria um "grande" discurso em seu comício na cidade de Melbourne. "Muito a falar!" Trump tenta reconquistar apoio depois da série de crises que tem ameaçado seu recém- iniciado governo.


Em meio a protestos de rua e à pressão da bancada oposicionista, que atrasou ao máximo a aprovação de alguns dos indicados para o gabinete, Trump exercitou os músculos da presidência com uma série de ordens executivas (decretos). O novo chefe de Estado, porém, não contava com a suspensão judicial da medida que pretendia barrar a entrada de estrangeiros de sete países específicos, todos de maioria muçulmana. Com limites impostos à sua autoridade antes de completar quatro semanas no cargo, Trump ainda viu o primeiro membro da alta cúpula da Casa Branca – Michael Flynn, conselheiro de Segurança Nacional – cair por causa de envolvimento mal explicado com autoridades russas.


Para Anthony Gaughan, especialista em eleições e professor de direito da Drake University, em Iowa, o intenso início de governo mostrou “uma desorganização nunca vista antes”. O estudioso observa que as divisões precoces entre membros da equipe têm enfraquecido a gestão republicana. “Parece que Steve Bannon, conselheiro do presidente, e Reince Priebus, chefe de Gabinete, têm bases de poder rivais”, ressalta. “Mas o próprio presidente desempenhou papel-chave para dividir o governo e criar essa atmosfera de desorganização.”


As constantes mudanças de opinião e contradições do bilionário que se tornou presidente são vistas pelo analista como uma das causas da crise. Kellyanne Conway, outra conselheira de primeiro escalão, tenta agir como apagadora de incêndios. Faz aparições quase diárias na imprensa americana, mas ela mesma tem dificuldade para não causar polêmica. Dewey Clayton, professor de ciência política da Universidade de Louisville, no Kentucky, atribui o “alto nível de tumulto” à inexperiência da equipe e ao fato de o governo ter iniciado as atividades sem a maioria dos ministros aprovada pelo Senado. “Trump e a equipe estão descobrindo agora que governar é diferente de fazer campanha. Então, há um processo de aprendizado em curso”, pondera.


Clayton considera que a implementação das ordens executivas, especialmente o bloqueio à entrada de refugiados e visitantes oriundos de sete países de maioria muçulmana, foi “mal planejado”. “Isso criou caos ao redor do país e do mundo.

OPORTUNIDADE O cientista político, porém, vê sinais de esforços para contornar as incertezas e promover a estabilidade na gestão republicana. Ele nota que o presidente tem atenuado, em algumas ocasiões, a retórica agressiva usada na campanha. Foi o que se observou, por exemplo, quando Trump recebeu as primeiras visitas de líderes estrangeiros à Casa Branca. Assim como os republicanos se reuniram ao redor do grupo ultraconservador Tea Party para recuperar o controle do Senado, em 2010, ganham força especulações sobre a formação de um grupo similar do outro lado do espectro político.

“Há um movimento espontâneo das bases que vai contra algumas das medidas que o presidente tenta implementar”, nota Clayton. “Os cidadãos americanos estão dizendo para alguns líderes democratas que querem vê-los agir e servir como verificadores, como um elemento que garanta o equilíbrio entre os poderes.”ocratas que querem vê-los agir e servir como verificadores, como um elemento que garanta o equilíbrio entre os poderes.”

Crise Constitucional


Embora avalie que os democratas têm a seu favor o apoio das minorias demográficas, em plena expansão, e que o engajamento visto nos protestos tem energizado pessoas que não participaram da eleição de novembro, Gaughan pondera que a nova oposição ainda está em posição de fragilidade, por não deter o controle de nenhuma das câmaras do Congresso e ser minoria no comando dos governos estaduais. Até então, o mercado financeiro americano tem reagido favoravelmente à nova gestão na Casa Branca. “Consequentemente, pelo menos por agora, o maior obstáculo que Trump enfrenta são os tribunais federais”, ressalta. “Como mostrou o caso do bloqueio de imigração, as Cortes não hesitaram em barrar Trump, quando entenderam que ele excedeu a autoridade constitucional.”

Somado às críticas feitas pelo indicado por Trump para preencher uma vaga na Suprema Corte, Niel Gorsuch, sobre os comentários do presidente acerca da atuação do Judiciário, o cenário alimenta debates sobre a possibilidade de os EUA enfrentarem em breve uma crise constitucional.

Tuitadas

Donald Trump (@RealDonaldTrump)

Vi os protestos ontem, mas fiquei com a impressão de que acabamos de ter uma eleição!
Por que essas pessoas não votaram? Celebridades ferem a causa gravemente.

O México tirou vantagem dos EUA por tempo demais. Grande déficit comercial e pouca ajuda na fronteira muito fraca precisam mudar AGORA!

Não conheço Putin, não tenho nenhum acordo na Rússia e os haters estão indo à loucura – ainda assim, Obama pode fazer um acordo com o Irã, nº 1 em terror, sem problemas!

Vocês acreditam nisso? O governo Obama concordou em receber milhares de imigrantes ilegais da Austrália. Por quê? Eu vou estudar esse acordo estúpido!

Sim, Arnold Schwazenegger fez realmente um trabalho ruim como governador da Califórnia e ainda pior no “Aprendiz”... Mas, pelo menos, ele tentou!

A opinião desse tal juiz, que essencialmente tira o cumprimento da lei de nosso país, é ridícula e será derrubada!

Não acredito que um juiz colocaria nosso país em tal perigo. Se algo acontecer, culpem-no e ao sistema de cortes. Pessoas entrando. Ruim!

Qualquer pesquisa negativa é notícia falsa, assim como as da CNN, ABC, NBC durante as
eleições. Desculpe, as pessoas querem segurança na fronteira e veto extremo.

 Acabei de deixar a Flórida. Grande multidão e apoiadores entusiasmados nas ruas, mas a mídia das notícias falsas se recusa a mencionar. Muito desonestos!

A repressão sobre criminosos ilegais é meramente manter uma de minhas promessas de campanha. Membros de gangues, traficantes de drogas e outros estão sendo removidos!

Palavra de especialista

Luiz Felipe de Seixas Corrêa, Conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri)

Política não é para amadores

As previsões que se podem fazer em relação ao que está ocorrendo nos Estados Unidos não são boas. Há um aspecto da personalidade do presidente, que é muito voluntarioso e acostumado a um mundo de negócios, onde ele fazia as próprias regras.

Ao tentar adaptar sua estrutura governativa, ele enfrenta dificuldades institucionais fortes, ainda mais em se tratando de um presidente eleito com a minoria dos votos populares – dentro do sistema americano, foi uma eleição perfeitamente legal e correta, mas não deixa de ser uma indicação de que a maioria dos eleitores não optou por ele.

Tudo o que ele fez, ele prometeu que faria. Talvez por não ser político ele tenha levado muito ao pé da letra as promessas de campanha. Acho que implementou muitas coisas ao mesmo tempo e medidas que provocam reações fortes. As medidas de imigração são uma atitude, teoricamente, em benefício de uma classe baixa branca, que se sente prejudicada pela imigração.

O muro na fronteira com o México é uma ideia inviável, e uma desmoralização enorme para os EUA, um dos países que mais se levantaram contra o muro de Berlim. Os EUA têm uma estrutura institucional extraordinária, mas têm à sua frente um homem acostumado a não ter travas. Fazer política externa, e política em geral, não é coisa para amador.

Não é porque uma pessoa é um empresário de sucesso que será um governante de sucesso — isso é raríssimo. Ele está agindo como um homem de negócios que quer buscar com mais ousadia romper as barreiras. Mas, em um governo institucional, você encontra barreiras mais fortes. De jeito nenhum ele poderá manter esse nível de contestação que está desempenhando na administração do país.

 

 


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