Os procuradores da Lava Jato, que investiga a rede de corrupção na Petrobras, ameaçaram renunciar nesta quarta-feira se o Congresso aprovar um projeto de lei que permitiria acusá-los de abuso de autoridade, que aos seus olhos pretende deter o avanço das investigações sobre a classe política.
"Nossa proposta é a de renunciar coletivamente caso esta proposta seja sancionada pelo presidente", disse o procurador do Ministério Público Federal Carlos dos Santos Lima em uma coletiva de imprensa em Curitiba.
A reação drástica ocorre depois de a Câmara dos Deputados realizar grandes mudanças antes de aprovar, na madrugada de quarta-feira, um projeto de lei contra a corrupção, elaborado pelos próprios procuradores encarregados da Lava Jato, que teve o apoio de mais de dois milhões de assinaturas.
Mas os legisladores acrescentaram uma emenda que permitiria acusar procuradores e juízes de "abuso de autoridade".
Os procuradores consideraram que se trata de uma "lei de intimidação", elaborada por um corpo que tem, entre seus membros, dezenas de suspeitos de corrupção e muitos deles sob o foco da Lava Jato.
"O avanço de propostas como a lei da intimidação instaura uma ditadura da corrupção, um estado de tirania em que o novo poder é exercido fora dos limites transferidos pelo povo", declarou o chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol.
A ameaça de renúncia é um novo capítulo na guerra travada entre o Legislativo e o Judiciário pelas revelações do monumental esquema de corrupção na Petrobras, que desviou mais de 2 bilhões de dólares.
Ocorre, ainda, às vésperas da assinatura de um acordo de delação premiada entre a Justiça e dezenas de executivos da Odebrecht, empreiteira chave neste escândalo.
"A aprovação da lei de intimidação ocorre em um momento em que a Lava Jato está cada vez mais perto de crimes de corrupção praticados por um número significativo de legisladores influentes. O mesmo espírito que moveu a proposta de auto-anistia, moveu a intimidação de procuradores e juízes", disse Deltan Dallagnol, chefe da equipe que examina os processos em Curitiba.
Na semana passada, as bancadas governistas tinham articulado uma tentativa de anistiar os crimes de "Caixa 2".
Mas a indignação provocada pela tentativa levou o presidente Michel Temer a advertir que vetaria esta lei.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, divulgou uma nota afirmando que o projeto "não existe mais".