Milhares de civis fugiram da zona rebelde de Aleppo com destino às áreas controladas pelo governo sírio, depois que o Exército reconquistou o maior bairro insurgente da segunda mais importante cidade do país.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), neste domingo (27), quase dez mil pessoas fugiram do leste de Aleppo rumo às zonas ocupadas pelas forças pró-governo e rumo ao bairro curdo de Sheikh Maqsud.
"Cerca de dez mil civis fugiram de Aleppo Oriental entre o sábado à noite e domingo. Pelo menos seis mil deles foram para o bairro [controlado pelas forças curdas] de Sheikh Maqsud. O restante foi para as zonas governamentais de Aleppo", completou o OSDH.
A captura do distrito de Masaken Hanano no sábado (26) é o maior êxito militar do Exército sírio desde o início da ofensiva lançada em 15 de novembro para retomar a parte oriental da cidade, nas mãos dos rebeldes desde 2012.
Estimulado por esse avanço, o governo mostrou sua intenção de expulsar os rebeldes, que denunciam a inação da comunidade internacional frente à política "de fome e de submissão" implementada por Damasco.
Masaken Hanano foi o primeiro bairro conquistado pelos insurgentes em 2012. O conflito dividiu a cidade em duas partes: o leste, controlado pelos rebeldes, e o oeste, em poder do Exército.
As forças do regime assediam a zona oriental de Aleppo, onde vivem cerca de 250.000 pessoas, há quatro meses.
No sábado à noite, pela primeira vez desde 2012, cerca de 500 civis abandonaram o leste da cidade, segundo o OSDH.
'Aniquilar a revolução'
Esses civis viviam em sua maioria nos distritos de Haydariye e Chaar, vizinhos de Masaken Hanano.
"Eles se dirigiram para Masaken Hanano, onde o Exército os levou para áreas governamentais" do norte e do oeste da cidade, segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Neste domingo o Exército continuava seu avanço para Sajur, outro reduto rebelde, com violentos bombardeios. A tomada desse bairro pode permitir ao regime partir o setor rebelde em dois, isolando o norte e o sul.
"A aviação destrói tudo de forma metódica, zona por zona", disse Yaser al-Yusef, representante de um dos principais grupos rebeldes de Aleppo, Nuredin al-Zinki.
Yusef acusou o regime e seus aliados russo e iraniano de "aniquilar a revolução (...) e de aplicar a política da fome e da submissão, diante da ONU, sem nenhum respeito ao Direito Internacional".
As escolas continuavam fechadas neste domingo no leste de Aleppo por causa dos bombardeios que atingiam a cidade pelo 13º dia consecutivo.
Ataque químico do EI
"O Exército sírio teve seu maior êxito em Aleppo Oriental" e "abre o caminho para um novo avanço", escreveu neste domingo o jornal pró-governo Al-Watan.
"Está determinado a continuar seus esforços, primeiro nos bairros adjacentes a Masaken Hanano, e depois limpando completamente os bairros do leste", acrescentou o jornal.
Neste domingo, o número de civis mortos pela ofensiva do governo chegava a 225, incluindo 27 crianças no leste de Aleppo, onde a população precisa de tudo por culpa do cerco, segundo o OSDH.
Os rebeldes intensificaram, por sua vez, os disparos de foguetes em direção aos bairros do oeste no sábado à noite, matando pelo menos quatro civis e ferindo dezenas, segundo a mesma fonte. No total, 27 civis, incluindo 11 crianças morreram desde o início da operação.
Na frente norte, o Exército turco anunciou que 22 rebeldes pró-turcos foram feridos em um ataque químico executado pelo Estado Islâmico (EI). É a primeira vez que a Turquia, cujas tropas combatem desde agosto o EI e os rebeldes curdo-sírios no norte da Síria, acusa os radicais de recorrer a esse tipo de arma.
A guerra síria, que começou em 2011 quando o regime reprimiu manifestações pacíficas, deixou mais de 300.000 mortos e se transformou em um conflito cada vez mais complexo, onde estão envolvidas forças regionais, internacionais e grupos extremistas.