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Estado de Minas

Primeiro cruzeiro entre EUA e Cuba em meio século chega a Havana

Com 700 passageiros a bordo, o navio Adonia de Fathom, filial da empresa americana Carnival, atraca no porto de Havana


postado em 02/05/2016 18:27 / atualizado em 02/05/2016 18:48

(foto: AFP/Jorge Beltran)
(foto: AFP/Jorge Beltran)
Depois de mais de meio século, Havana voltou a receber um cruzeiro procedente dos Estados Unidos, que trouxe à ilha passageiros emocionados, entre os quais um pequeno grupo de cubanos que choraram ao retornar ao país de onde foram levados ainda crianças, após a vitória da revolução.

Com 700 passageiros a bordo, o navio Adonia de Fathom, filial da empresa americana Carnival, atracou no porto de Havana às 14H30 GMT (11H30 de Brasília), depois de partir de Miami na tarde de domingo. "Estou chorando desde que amanheceu. Não posso acreditar que estou aqui", disse Maria Eugenia Peña, com os olhos um pouco inchados.

Esta advogada de 47 anos nasceu em Miami. Seus pais e irmãos saíram de Cuba pouco após a revolução liderada pelos irmãos Fidel e Raúl Castro. "Tinha muita vontade de ver a terra onde nasceram meus pais, onde nasceram meus primos que nunca conheci", disse à AFP pouco depois de desembarcar.

A viagem deste primeiro cruzeiro que faz a rota entre os Estados Unidos e Cuba, interrompida desde 1959, soma mais um símbolo à reconciliação política entre os antigos inimigos da Guerra Fria. O som da buzina provocou gritos de emoção entre os cubanos e as dezenas de turistas estrangeiros que acompanhavam em terra firme a lenta chegada do navio neste dia ensolarado e de feriado em Cuba.

Vicky Rey, uma cubana de 54 anos, tinha apenas cinco quando seus pais a levaram de Cuba. Pouco a pouco, sua família foi deixando a ilha e hoje quase não tem mais parentes ali. Às vezes sente dificuldade para formular frases em espanhol. "O coração quase pulou. Foi muito emocionante quando entramos e vimos o Malecón [nr: a avenida à beira-mar em Havana]... Lembro de tantas histórias que a minha mãe me contava", disse Rey, que é vice-presidente dos serviços de hóspedes da Carnival.

Ainda que o embargo americano sobre a ilha imposto em 1962 permaneça em vigor, os dois países restabeleceram relações diplomáticas em 2015.Por sua vez, o governo de Barack Obama - que pediu em vão o fim do embargo ao Congresso de maioria republicana - flexibilizou algumas das restrições econômicas e acordou com Havana a retomada dos voos comerciais, do correio e dos cruzeiros.

"TRAIDOR!"
Por causa do embargo, os americanos não podem fazer turismo livremente na ilha comunista, mas podem visitá-la com fins culturais, acadêmicos, esportivos ou religiosos. "Visitar Cuba é realizar um sonho. A emoção toma conta de mim", disse a americana Diana Liotta que, assim como a maioria de seus compatriotas, desceu do navio acenando bandeirinhas dos dois países.


Entre as pessoas reunidas no Malecón para observar a chegada do Adonia, havia um homem de 40 anos, enrolado em uma bandeira dos Estados Unidos, que foi insultado enquanto falava com a imprensa.

Sob gritos de "Traidor!", o homem, que discutia em voz alta com as pessoas que o atacavam, foi retirado do lugar pela polícia sob uma salva de palmas, observou uma equipe da AFP. De fato, a presença de policiais superava nesta segunda-feira à mobilizada habitualmente para a chegada de um navio de cruzeiro.

A partida do primeiro cruzeiro nesta nova era de relações esteve perto de naufragar devido às proibições em vigor há décadas para as viagens marítimas dos cubanos. Por causa disso, a Carnival se negou a princípio a aceitar reservas de cubano-americanos, uma discriminação que gerou muitas críticas.

A empresa chegou a condicionar a saída de seus barcos à autorização do governo comunista para que permitisse a entrada de cubanos pelo mar. Apenas na semana passada o governo de Raúl Castro levantou as restrições para as viagens marítimas dos cubanos partindo e chegando aos Estados Unidos, impostas desde a Guerra Fria para evitar o desembarque de anticastristas.

Devido a isso, em sua primeira viagem o Adonia transportou apenas uns vinte cubano-americanos, em sua maioria representantes da Carnival. Antes de embarcar rumo a Havana, Isabel Buznego, nascida em Cuba há 61 anos, contou à imprensa que seu pai morreu sem poder viajar à ilha. "Venho em seu nome, por isso tenho tantos sentimentos conflitantes, mas estou sobretudo feliz", disse Buznego. Ela e o marido deixaram a ilha quando eram crianças, há mais de meio século, e retornam pela primeira vez.

A Carnival, que reserva camarotes entre 1.800 e 7.000 dólares, viajará a Cuba duas vezes por mês em cruzeiros de uma semana com o objetivo de promover o intercâmbio cultural entre os dois países.


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