Brasília – Casa de Santa Marta, anexo ao Palácio Apostólico, 7h30 (4h30 em Brasília) de 15 de setembro. O papa Francisco recebe das mãos do teólogo e jornalista espanhol José Manuel Vidal um dossiê com denúncias contra a Comunidade Missionária de São Paulo Apóstolo e de Maria Mãe da Igreja (MCSPA, pela sigla em inglês). “Publique-o, publique-o”, reagiu o pontífice. “Ele mudou de semblante, ficou possesso. Antes de ler os títulos das reportagens que elaboramos, estava sorridente. Depois, olhou-me fixamente e parecia indignado. Tive a sensação de que ele conhecia algo sobre o caso”, contou Vidal à reportagem, por telefone, de Madri.
Nos documentos, o ex-missionário Paulino (nome fictício), de 36 anos, relata ter sido submetido a trabalhos forçados e a escravidão sexual entre 1997 e 2002. Segundo ele, tudo ocorria com a anuência e a participação de Francisco “Paco” Andreo, o fundador da organização de eclesiásticos e laicos que estendeu seus tentáculos de Barcelona para vários países e realizou obras de infraestrutura na África. Paco morreu de câncer há dois anos. “Não se trata de algumas maçãs podres. Estamos falando de uma organização sectária dentro do seio da Igreja”, disse Vidal.
O escândalo, que acaba de ser divulgado, é mais um que envolve o Vaticano. As finanças da Santa Sé, marcadas pelo desperdício e má gestão de doações para a caridade, são alvo do novo Vatileaks, com as revelações sobre a estagnação das reformas impulsionadas pelo papa Francisco. Dois livros, com documentos reservados, aportados pelo padre espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e pela laica italiana Francesca Chaouqui, acusados e detidos pelo Vaticano no fim de semana por roubo de textos confidenciais, denunciam os males da Cúria Romana.
Os livros, que serão publicados nesta semana, são Avaricia, de Emiliano Fittipaldi, da revista L’Espresso, e Via Crucis, de Gianluigi Nuzzi, jornalista do grupo de televisão Mediaset. Segundo Fittipaldi, o Vaticano emprega os recursos de doações para os pobres em sua administração central.
Francesca Chaouqui, de 33 anos, era uma espécie de agente duplo, que após sua prisão por ordem da procuradoria do Vaticano decidiu confessar o que sabia sobre o Vatileaks. “Eu não traí o papa”, escreveu, ontem, em um tuíte, após ser libertada por colaborar com a Justiça. As investigações estão em curso. (Com agências)