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Estado de Minas

Símbolo da divisão franco-alemã, euro já não é irreversível


postado em 13/07/2015 17:22

As últimas reuniões em Bruxelas não conseguiram colocar um ponto final à crise grega, mas as instituições europeias deixaram claro que pertencer à moeda única deixou de ser um caminho sem volta, expondo um racha profundo entre França e Alemanha.

"Achar que a zona do euro pode se desmembrar é desconhecer o capital político que nossos dirigentes investiram nessa união e o apoio dos europeus. O euro é irreversível". De 2012, a frase é do então presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.

Três anos depois, mesmo sem a adesão de todos os participantes, estava sobre a mesa na reunião do Eurogrupo: "Caso não se consiga chegar a um acordo, vai-se propor à Grécia uma saída temporária da zona do euro".

Finalmente, após dois dias de maratônicas reuniões, os chefes de Estado retiraram essa frase de seu comunicado final, celebrando sua unidade. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, chegou a afirmar que "o 'Grexit' despareceu".

"Mas a ameaça está aí", disse o analista do Saxo Bank Christopher Dembik.

Se a Grécia não se recuperar, em algum momento - avaliou -, a pressão para uma saída desse país do euro vai-se intensificar.

"Não há outra opção, e teremos instaurado um mecanismo punitivo. É uma verdadeira vontade política de alguns países, sobretudo, da Alemanha", completou.

No domingo, o economista-chefe do UniCredit, Erik Nielsen apontou que "a Alemanha cruzou a linha vermelha pela primeira vez, afirmando que, se não for possível confiar em um governo, ele terá de deixar a zona do euro (mesmo que provisoriamente)".

"É difícil saber se era uma estratégia, ou se tratava-se realmente de forçar a Grécia a sair do euro", comentou o analista Pawel Tokarski, da Fundação de Ciência e Política (SWP), em Berlim.

Embora não tenha mudado radical e imediatamente a zona do euro, este longo fim de semana de negociação destacou uma ampla divergência conceitual entre França e Alemanha sobre o que deve ser a união monetária.

"A Grécia é um peão no jogo entre França e Alemanha", declarou Tokarski, explicando que "o que está em jogo é a direção que a zona do euro deve tomar".

Nas últimas 48 horas, travou-se um combate para determinar "o tipo de Europa que teremos no futuro", descreveu Erik Nielsen, avaliando que "isso se resume a um confronto entre Alemanha e França".

Estes dois países têm, claramente, concepções opostas do que deve ser a moeda única.

Diferentes concepções de Europa

Segundo Tokarski, "a França quer flexibilidade, um papel-chave dos Estados-membros e de instituições frágeis, enquanto a visão alemã é de uma Comissão forte, apolítica, de regras claras, pouco de flexibilidade".

"É uma visão compartilhada esquematicamente pelos países do norte da Europa, entre eles os ministros 'falcões' que se somaram ao coro da Alemanha sobre a Grécia", completou.

As leituras também são diferentes.

"A França integra na análise considerações geoestratégicas e o efeito dominó. A Alemanha faz isso também, mas é uma questão de ponderação", comentou a professora Agnès Benassy-Quéré, da Universidade Paris 1, destacando a importância do conceito de "moral" na Alemanha.

Trata-se da ideia de que um compromisso deve ser respeitado para não estabelecer precedentes, que levem a novos descumprimentos, explicou Agnès.

Além da unidade demonstrada diante das câmeras, "o confronto é inevitável", reforçou Dembik, advertindo que, "se evoluir, pode levar a um cisma entre o norte e o sul da Europa".


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