A reunião programada para 31 de março em Washington entre as delegações dos Estados Unidos e Cuba será preliminar e servirá para definir o formato das futuras conversações sobre os Direitos Humanos, informou nesta sexta-feira o departamento de Estado.
"Manteremos uma reunião de planejamento para discutir a metodologia e a estrutura das futuras conversas sobre Direitos Humanos", expressou um funcionário da chancelaria americana.
De acordo com a mesma fonte, este encontro preliminar reflete a preocupação dos Estados Unidos em relação aos direitos humanos e princípios democráticos em Cuba.
"Os direitos humanos são e continuarão sendo uma prioridade. Estas discussões foram marcadas de comum acordo", afirmou.
A delegação americana neste encontro, segundo a fonte, será liderada pelo subsecretário para Assuntos de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho do departamento de Estado, Tom Malinowsky.
Na véspera, por iniciativa de Havana, foi acertado que, pela primeira vez, Cuba e Estados Unidos discutirão o tema dos DH.
"Cuba propôs que as conversas sejam realizadas em 31 de março de 2015", o que foi aceito pelas autoridades americanas, disse à imprensa o vice-diretor de Assuntos Multilaterais da Chancelaria cubana, Luis Pedroso.
As conversas sobre o polêmico tema correrão em paralelo às negociações para o restabelecimento de relações.
Três encontros foram realizados, em fevereiro e março, desde o histórico anúncio dos presidentes Barack Obama e Raúl Castro, em 17 de dezembro passado, de estabelecer os laços após meio século de ruptura e antagonismo.
O restabelecimento de relações é um objetivo imediato para ambos, mas sua normalização é de longo prazo e inclui a anulação do embargo.
Cuba espera que esse diálogo sobre direitos humanos "se desenvolva em um encontro construtivo sobre bases recíprocas, sem condicionamentos, nem tratamento discriminatório e em pleno respeito à vontade soberana, à independência e à não ingerência nos assuntos internos dos países", disse Luis Pedroso.
"Essas conversas sobre direitos humanos são uma amostra da posição de Cuba a abordar com os Estados Unidos qualquer tema, apesar de nossas diferenças, com bases de igualdade e reciprocidade", completou.
As declarações da Chancelaria cubana coincidem com o último dia de permanência em Havana de uma delegação americana, liderada pelo vice-secretário de Estado adjunto Daniel Sepúlveda, que visita Cuba para tratar de "telecomunicações" com as autoridades cubanas.
Será a primeira vez que os dois países, sem relações bilaterais desde 1961, sentam juntos para abordar o delicado tema.
"Abordaremos as preocupações que temos sobre os direitos humanos nos Estados Unidos e em outros locais, nos quais esse país tem incidência", declarou o funcionário cubano.
Washington criticou historicamente o que considera como falta de liberdades civis e políticas na Ilha, a concepção cubana de monopartidarismo (Partido Comunista) e o sistema eleitoral em vigor.
Pedroso disse que Cuba não se considera perfeita nesse tema. "Reconhecemos que temos importantes metas para alcançar ainda, como todos os países", afirmou.
Ele esclareceu, porém, que "nós partimos da concepção de que há diferentes modelos políticos e de democracia, ou seja, Cuba não admite - não é nada novo - que haja um único modelo de democracia, razão pela qual vamos com uma percepção diferente sobre estes temas".
O diálogo sobre direitos humanos entre Havana e Washington se soma ao que já acontece entre Cuba e União Europeia (UE), no âmbito das discussões para normalizar as relações.
O tema com a UE foi iniciado este mês entre as equipes negociadoras e conduzido pela chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, durante sua visita terça-feira a Havana.
Perguntado a respeito, Pedroso disse que "não necessariamente tem de ser uma agenda igual, porque os interesses são diferentes".