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Estado de Minas DIREITOS HUMANOS

Clínicas tratam gays na China com choques

Preconceito contra orientação sexual se mantém forte, apesar de mudanças sociais


postado em 02/02/2014 06:00 / atualizado em 02/02/2014 07:53

Ativistas do Centro LGTB de Pequim protestam em frente à clínica que oferece
Ativistas do Centro LGTB de Pequim protestam em frente à clínica que oferece "orientação sexual" (foto: Mark RALSTON/afp - 10/12/13)

Pequim
– Zang se submeteu a choques elétricos nos genitais, enquanto assistia a filmes pornográficos. O procedimento é um dos mais extremos adotados na China para “corrigir” a orientação sexual. “Achava que tinha que tentar para ver se havia possibilidade de me tornar uma pessoa normal”, declarou o jovem de 25 anos, que preferiu revelar apenas o sobrenome. Ele escolheu recorrer a esse método para “não decepcionar sua família”. Na China, a relação entre pessoas do mesmo sexo ainda é um tabu e considerado uma desonra. “Quando reagia às imagens, levava um choque elétrico”, pouco intenso, mas doloroso, lembra Zhang. Ele mesmo pagou pelas sessões, após chegar à conclusão de que assumir sua homossexualidade era difícil demais.

Em 2001, as autoridades chinesas retiraram oficialmente a homossexualidade da lista de doenças mentais e, com o passar dos anos, os gays foram se tornando mais aceitos na sociedade, sobretudo entre os jovens e nas grandes cidades. No entanto, a pressão familiar e os resquícios da uma cultura tradicionalista são fortes. Como filhos únicos, acabam se resignando a casar para permitir aos pais ter um neto.

A maioria dos especialistas em medicina considera que as “terapias de conversão”, praticadas em todo o mundo desde o início do século 20 por psicanalistas e médicos para “curar” a homossexualidade, são ineficazes e até mesmo perigosas. Porém, esse tipo de “tratamento” continua crescente em todos os continentes.

Clínicas chinesas admitem propor soluções “de reajuste da sexualidade”, usando tratamentos químicos, hipnoses ou choques elétricos. Em Pequim, o centro de ajuda psicológica Haiming até promove a atividade: “Depois de cada choque, o paciente interrompe seus pensamentos e se distancia dos seus fantasmas”, explica em sua página na internet.

As “terapias de conversão” foram condenadas em 2009 pela Associação de Psicologia Americana, que considera que esse tipo de tratamento pode criar traumas, e pela Organização Mundial da Saúde, para a qual carecem de justificativa médica e são “eticamente inaceitáveis”. Os ativistas chineses tentam passar a mensagem. Para o Centro LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) de Pequim, esses tratamentos causam “danos graves à saúde física e mental, e pioram a falta de autoestima”.

Dois ativistas vinculados ao Centro LGBT, organização financiada pelas embaixadas dos EUA e do Reino Unidio, colocaram em frente a uma clínica em Pequim um cartaz no qual se lê: “A homossexualidade não é uma doença”. A campanha tem o objetivo de ampliar o debate e vislumbram a possibilidade de que o governo revogue as licenças desses centros supostamente “médicos”.

No caso de Zhang, o tratamento com choques elétricos ao qual se submeteu há três anos o fez perder a libido e o mergulhou em uma depressão. Segundo ele, depois da terapia vieram a perda do emprego, as dívidas para pagar os gastos médicos e os pensamentos suicidas. “Sentia dor de cabeça, não aguentava mais, só queria morrer, que todo acabasse de uma vez.” Com o tempo, ele se deu conta de que não podia fazer nada para mudar de orientação sexual e revelou sua opção sexual para seu pai. “Ser gay não é tão terrível”, diz.


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