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Estado de Minas

O último dia de Salvador Allende


postado em 11/09/2013 12:49

A seguir a cronologia do último dia de vida do presidente chileno Salvador Allende.

6h20

Toca o telefone na residência presidencial da rua Tomás Moro. O presidente Salvador Allende é alertado de que a Marinha se amotinou no porto de Valparaíso.

Depois de desligar, Allende avisa a sua segurança e deixa o Palácio Presidencial de La Moneda, no centro de Santiago. Depois de meses de tensão, nessa terça-feira de 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas finalmente se levantaram para derrubá-lo.

Nos principais quartéis do país, porém, a atividade começou pouco depois da meia-noite: as tripulações dos tanques ligaram os motores dos blindados, os pilotos ouviram os "briefings" de voo, e os generais deram os últimos telefonemas para verificar a subordinação das tropas.

Enquanto seguia para La Moneda, Allende compreende que o Golpe foi antecipado para evitar que conseguisse concretizar seu projeto de convocar um plebiscito, em um esforço desesperado para salvar o governo da Unidade Popular (UP). Com mil dias no poder, a coalizão de esquerda agonizava, após um desgastante confronto com a oposição, formada pela direita e pela democracia-cristã.

O confronto começou no dia de sua vitória eleitoral, em 4 de setembro de 1970, quando prometeu uma revolução socialista "à la chilena", à qual os Estados Unidos se opuseram diante da ameaça do surgimento de uma "segunda Cuba".

7h30

Allende entra no Palácio de La Moneda, empunhando o fuzil AK-47 que havia ganhado de presente do líder cubano Fidel Castro, e com a convicção de que não o tirariam vivo do prédio.

De terno e gravata, Allende organiza a resistência imediatamente e entrega armas aos colaboradores que decidiram permanecer ao seu lado - um grupo de pouco mais de 40 pessoas, entre ministros, amigos e sua segurança privada.

Em outro lugar de Santiago, opera o Estado-Maior da rebelião, integrado pelos comandantes das três forças militares: o general Augusto Pinochet, o almirante José Toribio Merino e o general da Força Aérea, Gustavo Leigh, além do chefe de polícia, César Mendoza.

8h30

É divulgada a primeira declaração do Golpe, na qual se exige a rendição de Allende, ordena-se às pessoas que permaneçam em suas casas e determina-se à imprensa "viciada na UP" que suspenda suas atividades, sob o risco de receber "castigo aéreo e terrestre".

Dentro do palácio presidencial, Allende permanece sereno e determinado.

"Era uma mistura muito forte e curiosa. É difícil ver uma pessoa que, ao mesmo tempo, tivesse esse grau de serenidade e uma decisão tão clara: imediatamente, ele começou a organizar as pessoas", contou à AFP sua filha Isabel Allende, que o acompanhava nesse dia.

"Ele conversou com seus assessores, secretários, ministros e ajudantes, dizendo-lhes que abandonassem o palácio, que ele não queria mortes desnecessárias e que era importante fazer um relato do que estava acontecendo", completa Isabel.

9h15

Começa o ataque. O Exército sublevado abre fogo contra La Moneda.

Das janelas do La Moneda e de alguns edifícios próximos, franco-atiradores disparam contra os soldados.

Quando os ataques se intensificam, Allende reúne aqueles que continuavam combatendo e os convida, novamente, a deixar o palácio.

O comando militar se comunica com Allende, exige sua rendição e lhe oferece um avião para deixar o país.

"Rendição incondicional, nada de parlamentar. Rendição incondicional!", exige Pinochet, um diálogo captado por rádio amadores.

"Mantém-se a oferta de tirá-lo do país... E o avião cai, velho, quando estiver voando", acrescenta, provocando risos em seu interlocutor, o chefe do Estado-Maior, Patricio Carvajal, que tentava negociar com Allende.

"O presidente não se entrega!", respondeu Allende, que recebe um ultimato dos golpistas: ou se rende, ou La Moneda será bombardeado às 11 da manhã.

Tendo como pano de fundo os disparos dos tanques e o voo rasante dos dois aviões Howker Hunter, Allende entende que o Golpe avança sem trégua e decide divulgar uma última mensagem ao país:

"Não vou renunciar! Colocado em um impasse histórico, pagarei com minha vida a lealdade ao povo", diz Allende, com voz firme, mas tranquila.

"E lhes digo que tenho a certeza que a semente que entregaremos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. Têm a força, poderão nos esmagar, mas não se detêm os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa, e a constroem os povos".

"Ele estava se despedindo, agradecendo aos jovens e às mulheres e a todos aqueles que o apoiaram, mas falou claramente e, ao mesmo tempo, estava deixando uma mensagem de esperança para nós", disse sua filha, Isabel.

11h50

Começa o bombardeio aéreo. Dois Hawker Hunters atacam o palácio.

Alguns foguetes explodem no interior do prédio, que começa a pegar fogo e lançar grossas colunas de fumaça.

Um pelotão de militares entra no pátio central.

Cercados, os últimos combatentes descem pela larga escadaria do andar superior do La Moneda para se entregar. Nesse instante, ouve-se um disparo.

O líder socialista, de 65 anos, havia se suicidado com uma bala, com o fuzil presenteado por Fidel.

14h

É a hora do assalto final. Soldados avançam até o andar superior e, no Salão Independência, caído sobre um sofá, encontram o corpo de Allende. "Missão cumprida. Moneda tomado. Presidente morto", anuncia o comando golpista.


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