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Estado de Minas

Exército dá ultimato

Forças Armadas exigem que governo e oposição encontrem solução e partilhem o poder para tirar o país do impasse


postado em 02/07/2013 00:12 / atualizado em 02/07/2013 08:29

Cairo – As Forças Armadas do Egito emitiram um comunicado no qual dão um prazo de 48 horas para que o presidente do país, Mohamed Morsi, e seus opositores cheguem a um acordo e compartilhem o poder, incluindo um plano abrangente para o futuro do país. "Se a demanda do povo não for atendida dentro do prazo estipulado, será incumbência (das Forças Armadas) anunciar um caminho para o futuro", disse o chefe do Estado-Maior, general Abdel Fattah al-Sisi, no comunicado, transmitido pela TV estatal. O general declarou que a vontade do povo foi manifestada com clareza e que a divisão política ameaçava a segurança do país. O Exército afirmou que irá supervisionar a aplicação do plano acordado "com a participação de todas as facções e partidos nacionais, incluindo os jovens", mas que não vai se envolver diretamente na política ou no governo.

No domingo, milhões de pessoas foram às ruas para exigir a renúncia do presidente, acusado de acumular poderes nas mãos dos islamitas da Irmandade Muçulmana, da qual faz parte. A sede a irmandade no Cairo foi incendiada por manifestantes exaltados, mas o clima ontem era bem mais pacífico do que o da véspera. O governo divulgou que o saldo dos protestos de domingo, que registraram confrontos entre partidários e opositores, foi de 16 mortos e 781 feridos em várias cidades. A Irmandade Muçulmana anunciou que estudaria o comunicado das Forças Armadas. Yasser Hamza, líder do Partido Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana, descartou a possibilidade de um golpe de Estado contra Morsi e advertiu contra interpretações equivocadas de quaisquer comunicados do Exército. “Qualquer força que for contra a Constituição é um chamado à sabotagem e anarquia.”

Diante da pressão popular, quatro ministros do governo renunciaram. Os demissionários, que não pertencem à Irmandade Muçulmana, afirmam que a decisão é irrevogável. Após o encontro, eles encaminharam seus pedidos ao primeiro-ministro egípcio, Hisham Qandil. Os ministros que renunciaram são Hisham Zaazu (Turismo), Atef Helmi (Telecomunicações), Hatem Bagato (Assuntos Parlamentares) e Khaled Fahmi (Meio Ambiente).  

DESOBEDIÊNCIA Na manhã de ontem e antes do comunicado do Exército, grupos de oposição já haviam dado um ultimato a Morsi ao dar um prazo de 24 horas para que o presidente renuncie. "Damos a Mohamed Mursi o prazo de até terça-feira, 2 de julho, às 17h (12h de Brasília) para deixar o poder e permitir às instituições estatais preparar uma eleição presidencial antecipada", afirma um comunicado do movimento Tamarod (rebelião, em árabe), que organizou as manifestações de domingo e recolheu 22 milhões de assinaturas exigindo a renúncia de Morsi. O grupo ameaçou "iniciar a convocação para desobediência civil", caso o pedido não seja atendido.

Do lado de fora do palácio presidencial, manifestantes da oposição aplaudiram o comunicado do Exército, e o principal partido de oposição Frente de Salvação Nacional, que exigiu um governo de unidade nacional durante meses, saudou o movimento dos militares. Na Praça Tahrir, no Cairo, milhares de pessoas foram comemorar o movimento do Exército: "Queremos que um novo Conselho das Forças Armadas governe até novas eleições", disse o contador Mohamed Ibrahim, de 50 anos. "Só o Exército aceita a vontade revolucionária legítima do povo." Logo depois da divulgação do comunicado, o movimento de oposição Tamarod também elogiou a decisão do Exército, que está, segundo ele, "ao lado do povo".

REFORMAS Em entrevista na Tanzânia, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu a Morsi e à oposição que trabalhem em conjunto para avançar as reformas democráticas no país. Ele lembrou que as reformas são uma das exigências para a manutenção da ajuda econômica americana ao Egito. "O que está claro é que, embora Morsi tenha sido eleito democraticamente, deve ser feito mais para criar as condições nas quais todos sintam que suas vozes estão sendo ouvidas no Egito", disse Obama.

Em Nova York, a Organização das Nações Unidas (ONU) advertiu que a forma como forem resolvidos os distúrbios políticos no Egito terá um "impacto significativo" na transformação de outros países da região. "Um Egito estável e seguro é crucial para a segurança e a estabilidade regionais", disse o porta-voz.

Apesar de muitos apoiarem uma intervenção do Exército, o retorno da instituição ao primeiro plano, que deu uma direção controversa ao país entre a queda de Hosni Moubarak, no início de 2011, e a eleição de Morsi, em junho de 2012, pode significar uma armadilha. Para o cientista político Mustafa Kamel el-Sayyed, as Forças Armadas querem que o país saia dessa situação e evite uma guerra civil, mas não querem mais assumir diretamente o poder. "Uma intervenção do Exército não é uma solução de longo prazo, e a coalizão opositora atual é fraca e indecisa para dar uma direção estável ao país", considera Oliver Coleman, do instituto britânico Maplecroft, em estudo divulgado ontem.


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