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Estado de Minas

Papa da pós-modernidade

Especialistas descrevem as questões em busca de um perfil ideal para o próximo pontífice


postado em 17/02/2013 00:12 / atualizado em 17/02/2013 08:39

O sucessor de Bento XVI será o papa do século 21. E deverá estar pronto para encarar os desafios dos tempos pós-modernos, como o diálogo com as religiões cristãs e não cristãs, evasão de jovens da Igreja, principalmente na Europa, conflitos de valores morais e éticos (divórcio, união homossexual, preservativos etc.), crescimento do ateísmo, comunicação instantânea nas redes sociais, destruição do meio ambiente e outras de cunho político e social que balançam as estruturas de qualquer poder. Afinal, lembram especialistas, além de líder espiritual de cerca de 1,2 bilhão de católicos, o sumo pontífice é também chefe de Estado e a Santa Sé mantém relações diplomáticas com 177 países. “O mundo se tornou plural em todos os aspectos e o futuro papa deverá enxergar horizontes mais amplos, com a totalidade das diferenças. Ele está num lugar e posição que permitem isso”, diz o professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador de experiências religiosas no programa de pós-graduação da instituição Miguel Mahfoud.

Para Mahfoud, é impossível conceber a religiosidade, hoje, sem diálogo com a diversidade. E cita alguns exemplos positivos, como o reatamento dos laços com o povo judeu, pelas mãos de João Paulo II (1920-2005), ao visitar uma sinagoga em Roma, algo que não ocorria desde São Pedro, e a viagem de Bento XVI ao Oriente Médio para se encontrar com os muçulmanos. “Foram passos importantes que devem ser seguidos no mundo globalizado. Há urgência nesse entendimento”, acredita o professor. Autor de mais de 40 livros e professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, padre João Batista Libânio espera que o sucessor de Bento XVI, que sacramentará a renúncia no dia 28, seja “um homem aberto à problemática pós-moderna e não apenas às questões internas da Igreja”.

Na avaliação do jesuíta, a descentralização precisa imperar em Roma, deixando que os bispos dos países tomem decisões com liberdade. “Precisamos de mais criatividade, liturgia mais leve e vida clerical menos controlada. Os dogmas da Igreja podem ser reinterpretados assim como a verdade pode ser reinterpretada”, diz o religioso, autor de Introdução à vida intelectual, Em busca da lucidez e de obra sobre a teologia da libertação. Na opinião do padre, a decisão do papa não foi “algo do outro mundo” e acredita até que a renúncia a um posto vitalício possa criar nova consciência no Vaticano. “Não somos permanentes nem eternos. Pode ser que futuros ocupantes do trono de Pedro, ao se sentir impossibilitados para o cargo, resolvam fazer o mesmo”.

De olho nos problemas contemporâneos, padre Libânio cita cinco pontos aos quais os 117 cardeais que vão escolher o papa devem ficar atentos. Em primeiro lugar, alerta, está a ecologia, a Terra; em seguida, o diálogo com todas as religiões, incluindo islamismo, budismo, taoísmo, hinduísmo, as africanas e indígenas. “Isso não é só possível como necessário”, afirma, lembrando que o terceiro ponto a ser enfrentado é o secularismo, ou negação de Deus, e o ateísmo. “O falecido cardeal de Milão dom Carlo Maria Martini buscou o diálogo com os ateus, entre eles o escritor Umberto Eco”, observa padre Libânio ao enaltecer dom Martini como uma das vozes mais progressistas da Igreja.

Outro ponto fundamental está na atenção aos pobres de todas as vertentes, que podem ser os que sofrem com a seca no Nordeste do Brasil; o sistema de escravidão em áreas de industrialização e violência; a massa de migrantes; os excluídos da tecnologia ou “pobres do saber”; e, finalmente o planeta, alvo de destruição.

VALORES DA FÉ O diálogo deverá ser a mola propulsora do homem que sucederá ao alemão Joseph Ratzinger, acredita também o assessor de direito canônico da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o frei carmelita Evaldo Xavier Gomes, que morou nove anos em Roma e um em Florença, na Itália. “O papa deverá conciliar os valores da fé, os quais são irrenunciáveis, com os anseios e desejos da sociedade pós-moderna”, afirma o frei, que é doutor em direito canônico e pós-doutor em direito canônico e civil, ocupando ainda o cargo de pároco da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de BH.

“Mais do que nunca, a Igreja é chamada para ser fonte de valores para a sociedade. O papa terá que se preocupar também com o papel da mulher no mundo atual, as relações sociais, a biotética, as questões éticas e morais, bem comos valores políticos e sociais”, diz o carmelita. Para ele, a Igreja deve ser a expressão dos valores do cristianismo e o papa um líder que a conduza no exercício de sua missão pastoral e evangelizadora. A nacionalidade do sumo pontífice pouco importa, explica o frei. “Ele é um cidadão do mundo, representa todas as nacionalidades e raças. A Igreja não tem fronteiras, é da humanidade, e papa também”, diz frei Evaldo. Para muitos estudiosos, a idade do chefe dos católicos não é o mais importante, pois, se for jovem, na casa dos 50 anos, poderá ficar muito tempo no poder. E se for velho demais, corre o risco de ser um papa sem capacidade de governar e, pior ainda, com a vida prolongada artificialmente.

Cardeal de SP no banco

Caberá ao brasileiro dom Odilo Pedro Scherer uma das tarefas mais delicadas no próximo pontificado: vigiar a atuação do Banco do Vaticano. Ontem, a Igreja anunciou que ele vai manter seu cargo como um dos membros da Comissão Cardinalícia de Vigilância, que vai justamente avaliar as denúncias de corrupção e desvios de dinheiro no Banco do Vaticano.

OS DESAFIOS

» Manter diálogo com todas as
religiões cristãs e não cristãs
» Atrair os jovens para a Igreja e conter a evasão, principalmente na Europa
» Combater o crescimento do ateísmo e do secularismo
» Ser sinal de unidade em uma Igreja com profundas divisões ideológicas e teológicas
» Dar um rumo à barca de Pedro, como é chamada a Igreja, que, nos últimos anos, esteve muitas vezes à deriva
» Orientar de forma clara e coerente o rebanho católico sobre casamento gay, aborto, preservativos, ordenação de mulheres, ecumenismo, crescimento dos evangélicos e
outras questões polêmicas
» Estar conectado à velocidade das informações e crescimento
das redes sociais
» Ajudar na luta contra a destruição do meio ambiente e ajudar os pobres
» Abrir a discussão sobre o celibato


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