(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Discurso de segurança nacional nos EUA revela contradição


postado em 20/01/2013 00:12 / atualizado em 20/01/2013 09:17

A idéia de criar uma imagem convincente e positiva perante a opinião pública não é novidade na prática de nenhum líder ou governo. Pelo menos, desde que Maquiavel escreveu O príncipe em 1513. Mesmo hoje, sob o reinado da informação, a regra continua válida. O presidente americano, Barack Obama, sabe disso e usa a velha ideia em seu favor.

Especificamente no caso da conduta militar dos Estados Unidos, porém, existe aí um jogo bastante ambíguo e contraditório. É costume histórico o governo americano divulgar ou segredar informações em causa própria. E o presidente que toma posse pela segunda vez amanhã não é diferente de seus antecessores. O caso dos drones e dos assassinatos seletivos é uma prova disso.

Nos EUA, o conceito de segurança nacional é recorrentemente usado como justificativa para todo tipo de ação por parte do governo há tempos. A prática de assassinatos seletivos da administração Obama se apoia na lei aprovada pelo Congresso, logo após o 11 de Setembro, chamada Authorization for the use of military force (Autorização para o uso de força militar). Na época – o presidente era George W. Bush –, o Congresso barrou uma cláusula que demandava autoridade total para “deter e prevenir quaisquer atos de terrorismo ou agressão futuros aos EUA”. Bush queria apoio para promover guerras preventivas.

Atualmente, entretanto, os bombardeios de drones no Paquistão, Afeganistão, Iêmen e na Somália, praticados pela administração Obama, são justificados na idéia de prevenção. Numa entrevista do presidente à TV CNN, em 6 de setembro de 2012, Obama explica quais são os critérios que usa para determinar seus alvos.

“Deve ser uma situação na qual não podemos capturar o indivíduo antes que ele desenvolva algum tipo de plano operacional contra os EUA.” Retórica vazia, pois, de fato, a administração Obama desistiu de capturar suspeitos ou inimigos. Bush realizou detenções de forma ilegal e, para lidar com os que julgava terroristas, criou a prisão de Guantánamo. Obama evita mencionar o caso para não evidenciar a promessa não cumprida de fechar aquela aberração legal e moral.

“Devem ser autorizados por nossas leis.” Mentira. As leis americanas não autorizam assassinatos em outros países sem que estes estejam diretamente em conflito com os EUA. Como explicar, por exemplo, os cerca de 50 bombardeios que ele autorizou no Iêmen? O país não está em guerra com os EUA. E as mais de 70 mortes de civis que ali ocorreram?

“Temos que ter certeza de que, em quaisquer operações que conduzimos, sejamos muito cuidadosos a respeito das vítimas civis.” Em outra entrevista, Obama afirma que os drones “não causaram um grande número de vítimas civis”, destacando que suas ordens mantêm cuidado e critério rigorosos para evitá-las. No entanto, a New American Foundation estima que o número de civis mortos no governo Obama é de 293 a 471. A contagem do Bureau of Investigative Journalism coloca essas cifras entre 482 e 832. Evidentemente, quaisquer desses números contradizem a retórica do presidente.

A questão mais importante, todavia, evitada ou omitida reiteradamente pelo governo, é a respeito dos critérios de escolha dos alvos a serem eliminados. Como alguns poucos determinam que um indivíduo específico planeja, objetivamente, uma ação contra os EUA? Um militar americano sabe interpretar o comportamento de um iemenita – com práticas e culturas completamente distintas – a ponto de ter a certeza de que ele é “uma ameaça” e, portanto, deve morrer? Os critérios dessas escolhas – de vida ou morte – até agora não se tornaram públicos.

Ao longo dos quatro anos na Casa Branca, o discurso do Obama presidente se distanciou daquele apresentado pelo Obama candidato. Tal transformação é natural, afinal, lidar com o poder não é fácil. Mas ele pregou a esperança. E convenceu não só o povo americano, mas boa parte do mundo. “Sim, nós podemos!”, dizia. Só que algumas coisas não podem. Umas mudam, outras não. (PPF)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)