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Estado de Minas

Governo dos EUA esconde assassinatos sob o tapete

Governo seleciona informações divulgadas para a mídia, mas esconde detalhes problemáticos


postado em 20/01/2013 00:12 / atualizado em 20/01/2013 09:16

Nos Estados Unidos, o debate sobre o programa de assassinatos seletivos é restrito a grupos politicamente mais ativos. No entanto, as contradições entre o que é divulgado pelo governo americano e sua prática têm sido analisadas por algumas organizações e jornalistas. Há quem sustente os benefícios do uso dos drones, argumentando que eles poupam vidas, inclusive de civis. No entanto, essa justificativa se baseia em comparações com guerras diretas, invasões e confrontos reais e desconsidera a particularidade dessa prática: a capacidade de manter segredo.

Tom Engenhardt é coautor de Terminator planet: the first history of drone warfare, 2001-2050 (Planeta terminal: a primeira história da guerra do drone, 2001-2050, em tradução livre), que esmiúça o tema. Para ele, os levantamentos da New American Foundation e do Bureau of Investigative Journalism são apenas uma contagem possível. “A primeira coisa que podemos falar é que em nenhum destes lugares existem repórteres em campo. Houve alguns registros, mas o fato principal é que ninguém consegue saber o número de vítimas”, afirma.

De acordo com Engelhardt, houve uma decisão do governo Obama para estabelecer uma maneira de contar as vítimas e os mortos. E esse método é bastante questionável e expõe uma opção política inédita na política externa dos EUA. “Foi decidido – e o presidente concordou – que, quando algum homem em idade militar (o que suponho que seja entre 20 e 50 anos) é morto, ele é contado como um insurgente ou suposto terrorista. A maneira de o governo proclamar que há pouca morte de civis é declarando que todos os homens em idade militar são supostos insurgentes, o que, obviamente, não é verdade.” Ele acrescenta que mulheres e crianças, certamente, também estão sendo mortos. “Mas não há como saber de fato. Não tem como e nunca vai haver uma contagem dessas vítimas.”

A maneira ambígua com a qual o Executivo seleciona e usa as informações a respeito do programa é um caso curioso. De um lado, o governo faz alarde quando certos alvos são eliminados: líderes do Talibã ou comandantes importantes da Al-Qaeda sempre ganham destaque na mídia. Do outro lado, as incontáveis mortes de civis e as tragédias em campo são mantidas em segredo. A seleção das informações sobre o programa, portanto, segue a lógica de falar dos êxitos e omitir ou negar quaisquer problemas. A justificativa, sempre, é a sensibilidade do tema, sob o argumento de que, se essas informações vierem à tona, a segurança nacional pode ser prejudicada.

A governo americano, portanto, criou uma relação entre o que é público e o que é secreto claramente antiética do ponto de vista democrático. Grande parte dos meios de comunicação reproduz de maneira condescendente a lógica filtrada da Casa Branca e do Pentágono. A American Civil Liberties Union (Aclu) tem acompanhado a questão de com rigor e pede na Justiça a abertura dos documentos “classificados”. Brett Kaufman, advogado e integrante do Projeto de Segurança Nacional da Aclu, diz que o governo faz jogo duplo, mas que há comentaristas e especialistas que criticam o programa de assassinatos seletivos “de uma perspectiva legal e moral, assim como ética”. “O que fica claro é que a expansão do programa de assassinatos seletivos dos EUA vai muito além do permissível e deve acabar.”

O ativista de direitos humanos americano Ed Kinane é um crítico feroz do uso militar dos drones pelos Estados Unidos. Em entrevista por e-mail, ele afirma que considera a prática ilegal e defende uma resistência civil para combatê-la, tornando-a pública e passível de debate. “Aqui nos EUA, há uma grande campanha a favor dos drones armados. A mídia se concentra na tecnologia e na habilidade aparentemente mágica de eliminar os ‘caras do mau’ – redefinidos recentemente pelo Pentágono como qualquer homem acima de 16 anos de idade em uma zona de conflito. A propaganda funciona.”

Para Kinane, pesquisas mostram que a maioria dos americanos aprova os drones. “O mantra é ‘ drones são legais’ e ‘drones salvam vidas’.” Ele admite que as aeronaves ajudam nas operações de campo e salvam a vida de alguns militares. “No entanto, os drones matam, mutilam ou desalojam um número incontável de civis e não combatentes no Afeganistão, Paquistão e outros lugares. E aterrorizam centenas de milhares.”


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