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Estado de Minas

Mulheres iranianas são barradas na universidade

Governo proíbe jovens de ingressar em pelo menos 77 cursos sob a alegação de que não são propícios à natureza feminina. Grupos de direitos humanos e ONU protestam


postado em 21/08/2012 07:45 / atualizado em 21/08/2012 07:56

 

(foto: AFP PHOTO/ISNA/MONA HOOBEHFEKR)
(foto: AFP PHOTO/ISNA/MONA HOOBEHFEKR)

Sob a justificativa de que "alguns campos do estudo universitário não são propícios para a natureza feminina", Abolfazl Hasani, uma importante autoridade da educação iraniana, comentou o anúncio de 36 universidades do país que, a partir de agora, deixam de aceitar alunas em pelo menos 77 cursos. A proibição, anunciada no último dia 6, foi confirmada ontem, com o início do ano letivo. As mulheres, que representam 60% do corpo discente universitário, não podem mais inscrever-se em boa parte dos cursos de ciências exatas, como química, engenharia elétrica, física nuclear, engenharia industrial, ciência da computação e contabilidade. Também estão vetadas para elas carreiras como as de tradução e literatura inglesa, gestão de negócios e as ligadas à indústria petroleira.

A decisão provocou revolta entre ativistas dos direitos humanos e dos direitos da mulher. A iraniana Shirin Ebadi, ganhadora de um Nobel da Paz, pediu que as Nações Unidas investiguem as novas medidas. Em carta destinada ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e à alta comissária para Direitos Humanos, Navi Pillay, Ebadi afirmou que os aiatolás querem enfraquecer o movimento feminista, que se movimenta contra leis discriminatórias baseadas na interpretação mais conservadora do islã. E que a intenção seria reduzir a participação feminina no ensino superior em pelo menos 15%.

No Irã, que se destaca no mundo islâmico pela taxa de inclusão das mulheres nas universidades, entre outros indicadores de participação social e política, essa medida expõe a oposição dos religiosos linha-dura – tendo à frente o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei – ao avanço das mulheres. Expoentes dessa ala do regime islâmico questionam os efeitos da alta escolaridade feminina, associada por eles à redução das taxas de casamento e de natalidade. De acordo com o jornal britânico Daily Telegraph, a Universidade da Indústria do Petróleo apresentou como justificativa a falta de demanda de profissionais do sexo feminino por parte dos empregadores. A Universidade Isfahã usou argumento parecido, afirmando que 98% de suas diplomadas acabaram sem colocação.

De acordo com Lia Zanotta Machado, professora de antropologia da Universidade de Brasília e pesquisadora de direitos das mulheres, embora o mercado profissional iraniano seja segmentado por gênero, e por isso muitas formandas não consigam atuar na áreas escolhidas, a movimentação social no país já mostrava que esse era um direito conquistado e aprovado pela sociedade. "O fato de elas representarem 60% dos universitários mostra isso. Os iranianos já assumiram essa nova realidade. Por isso, essa nova proibição é um retrocesso. Um tentativa de controle social, de trazer a mulher de volta para o mundo privado. Essa parece uma atitude orquestrada politicamente", analisou.


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