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Estado de Minas

Lama de barragem matou o Rio Paraopeba, conclui estudo da SOS Mata Atlântica

Especialista em recursos hídricos da fundação afirma que a Bacia do Paraopeba está 'sem condições de vida aquática e do uso da água', mas que pode voltar a viver


postado em 28/02/2019 06:00 / atualizado em 28/02/2019 08:17

Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão afetou o manancial, segundo relatório da ONG(foto: Edésio ferreira/EM/DA Press)
Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão afetou o manancial, segundo relatório da ONG (foto: Edésio ferreira/EM/DA Press)


Arrasado pela lama de rejeitos que vazou da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão da Vale, em Brumadinho, o Rio Paraopeba, um dos importantes afluentes do Rio São Francisco e que garante o abastecimento de 2,3 milhões de pessoas, incluindo habitantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte, tornou-se um “rio morto”, “sem condição de vida aquática e do uso da água pela população”. A tragédia ocorreu em 25 de janeiro e deixou até ontem 180 mortos e 130 desaparecidos. O estado do manancial é semelhante ao Rio Doce, devastado pelos rejeitos de minérios da Barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, em 5 de novembro de 2015.

A dramática situação do Rio Paraopeba é apontada pela especialista em recursos hídricos Malu Ribeiro, da Fundação SOS Mata Atlântica, que comandou uma expedição pelo Rio Paraopeba, no período de 31 de janeiro a 9 de fevereiro, a fim de averiguar os impactos da lama de minérios da barragem de Brumadinho na bacia. A especialista apresentou o relatório, mostrado na edição de ontem no Estado de Minas, com o resultado da expedição na Câmara dos Deputados, em Brasília, na manhã de ontem.

“É muito difícil constatar em um relatório técnico de qualidade da água que o Rio Paraopeba, assim como o Rio Doce, está sem condições de vida aquática e de uso pela população em virtude da contaminação que recebeu dos rejeitos de minérios da barragem da mineradora Vale”, afirmou Malu Ribeiro. “A contaminação por metais pesados, a perda de oxigênio e, sobretudo, a perda de 112 hectares de floresta nativa de Mata Atlântica na região de cabeceiras do rio na região do Alto e do Médio Paraopeba trouxeram um enorme prejuízo para a biodiversidade e para várias espécies no momento que era o período final da piracema, quando os peixes sobem o rio para a desova e para procriação. Várias espécies estavam em momento pujante da vida.”

A representante da Fundação SOS Mata Atlântica chama atenção de que a destruição ambiental provocada pela lama de rejeitos na Bacia do Paraopeba tem outro agravante: o risco da proliferação de vetores de doenças, incluindo o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika, chikungunya e da febre amarela. “Perdemos toda uma cadeia produtiva. Por isso, há um risco de proliferação de vetores insetos como o pernilongo da dengue, zika, chikungunya e da febre amarela. Há um ambiente nocivo, que favorece a proliferação dessa fauna nociva em desequilíbrio”, alerta.


SALVAÇÃO Malu Ribeiro diz que a “morte do Paraopeba” é culpa direta da lama de rejeitos e contaminação por metais pesados que saíram da barragem da Vale. “O que provocou esse terrível dano ambiental foi rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Vale, que, além de ter carreado toneladas de rejeitos de minérios para o leito do rio,  nascentes e toda Bacia do Paraopeba nesse trecho, acabou carreando também outros contaminantes, como todo o material de organismos em putrefação e decomposição às áreas produtivas com solos com fertilizantes e defensivos agrícolas. Tudo isso forma um grande volume de contaminantes”, comenta.

A especialista, contudo, diz que, embora o Paraopeba esteja um “um rio morto nesse momento”, ainda há esperança de que ele volte a “viver”.  “Quando a gente diz a morte do rio, não é uma morte permanente porque ele pode se recuperar.” Ela explica que a “volta” do importante afluente do Rio São Francisco depende de uma série de ações. “Para recuperar o Paraopeba será preciso recuperar as matas ciliares, redesenhar os meandros da geografia que o rio perdeu. (Será necessário) monitorar de forma permanente os reservatórios das usinas de Retiro Baixo e de Três Marias,  sendo estabelecidas pelos comitês das bacias do Rio Paraopeba e do próprio Rio São Francisco regras operacionais que permitam minimizar o carreamento de rejeitos e, principalmente, de metais pesados ao longo da Bacia do Rio São Francisco.

O RELATÓRIO
A Expedição da Fundação SOS Mata Atlântica percorreu 2 mil quilômetros de estrada, ao longo de 21 municípios, para analisar a qualidade da água em 305 quilômetros do Rio Paraopeba afetados pelo rompimento da Vale. O relatório da expedição, apresentado ontem em Brasília, revela que a lama de rejeitos provocou um rastro de destruição ao longo do manancial, elevando o nível de metais pesados na água, que ficou imprópria para o consumo.

Os técnicos e especialistas da organização não-governamental (ONG) percorreram a extensão do Paraopeba que vai desde o Córrego do Feijão, em Brumadinho, até a Usina de Retiro Baixo, em Felixlândia, na Região Central de Minas. Os resultados do levantamento foram apresentados na manhã de ontem, na Câmara dos Deputados (Auditório Nereu Ramos), em Brasília.

Segundo relatório, em toda a extensão percorrida, a água não tem condições para o consumo humano e animal. Dos 22 pontos analisados, 10 apresentaram resultado ruim e 12 péssimo. Além disso, foram encontrados metais pesados na água, como ferro, manganês, cobre e cromo, em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Ainda conforme o levantamento da Fundação SOS Mata, foram devastados pela lama rejeitos 112 hectares de florestas nativas, dos quais 55 hectares situados em áreas que, até então, eram “bem preservadas”.

Os participantes da expedição lembram que “a região do Alto Paraopeba, estratégica para a manutenção dos recursos hídricos da bacia e do Rio São Francisco, foi justamente a mais impactada com o despejo de 14 milhões (na verdade, 13 milhões) de toneladas de rejeitos de minério sobre as áreas”.


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