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Estado de Minas

Delegado suspeito de cobrar propina em BH tem mais denúncias

Policial investigado por áudio que sugere cobrança de propina para liberar traficante de investigação já responde a processo do Ministério Público por corrupção e falsa acusação


postado em 12/12/2016 06:00 / atualizado em 12/12/2016 07:47

A investigação da Corregedoria da Polícia Civil contra o delegado titular da 2ª Delegacia de Venda Nova, Leonardo Estevam Lopes, por suspeita de cobrança de propina para favorecer um traficante de drogas não é a única apuração a que o policial responde. Leonardo e outro investigador são réus em uma ação da Comarca de Betim por corrupção passiva e denunciação caluniosa, em 2013, época em que os dois trabalhavam na cidade da Grande BH – Leonardo depois foi transferido para a delegacia de Venda Nova e o outro citado no processo continua em Betim.

No início deste mês, a corregedoria abriu uma investigação contra Leonardo para verificar a autenticidade de gravações sobre uma suposta negociação para livrar traficantes de um inquérito, como mostrou com exclusividade na edição de sexta-feira o Estado de Minas. A Polícia Civil confirma que mais policiais, citados nos diálogos, estão sendo investigados para apurar sua participação em algum crime relacionado. As gravações são averiguadas pela perícia técnica e um pedido na Justiça para afastamento do suspeito aguarda apreciação.

De acordo com os autos do processo da Comarca de Betim, o Ministério Público ingressou com a denúncia por “crimes praticados por funcionários públicos contra a administração em geral”, que envolvem corrupção passiva, que é solicitar ou receber, direta ou indiretamente, em razão de sua função, vantagem indevida, ou aceitar promessa de vantagem, com pena de reclusão de dois a 12 anos e multa. A apuração envolve ainda o crime de denunciação caluniosa, que é motivar instauração de investigação policial, de processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, acusando o denunciado de crime do qual o denunciante sabe ser inocente. A pena é de reclusão de um a quatro anos e multa.

Nesse processo constam três vítimas, que receberam da Justiça proteção contra possíveis retaliações, na forma de medida cautelar para proibir os acusados de manter contato com elas e testemunhas, por quaisquer meios. O delegado chegou a entrar na Justiça contra as pessoas que o acusam nesse processo por calúnia, mas o juiz do caso rejeitou o procedimento e o extinguiu.

MAIS CARO No caso da suposta cobrança de propina de um traficante, a reportagem do EM teve acesso a trechos do diálogo gravado que é periciado pela Polícia Civil, no qual a pessoa identificada como a advogada de um dos acusados oferece dinheiro, aparentemente R$ 100 mil, para que o inquérito seja interrompido e seu cliente fique livre. A voz que é atribuída ao delegado Leonardo Estevam estabelece valor bem maior para não continuar com as apurações. “Mas, doutora, 100 (seriam R$ 100 mil) é impossível. É impossível. Eu prefiro tocar o barco para frente (continuar a investigação). Para você chegar num mínimo, mínimo, mínimo: 350 (seriam R$ 350 mil) aqui ó, na mão, aqui ó. Uma semana, 350.”

Num outro momento, o suspeito de tráfico quer saber se suas atividades ilícitas serão alvo de mais ações policiais. “Porque, para chegar nesse valor (R$ 350 mil), tem que abrir e fechar com a gente (a quadrilha). Porque, igual, eu pagando o senhor... Porque não adianta falar com o senhor que não está correto... Nós vamos falar, vamos fechar nisso (a quantia acertada) aqui e amanhã o senhor ir atrás de mim...?” A voz que seria do policial é taxativa: “O grande problema é que eu sou assim, eu vou esquecendo (dos crimes). Eu quero que se f(*). Eu vou esquecer vocês, cara. Na verdade, eu quero esquecer vocês. Tomara que te veja assim, na rua, tomando uma cerveja com a sua família.”



OUTROS INVESTIGADOS Em outro trecho são citados outros departamentos da Polícia Civil e integrantes da equipe que podem ter participação em esquemas de corrupção. “Eu só estou deixando isso acontecer (a negociação da propina) porque tive ótimas referências dela (a advogada do acusado) dos meus amigos da Tóxicos (Antidrogas), do Deoesp...” É nesse ponto que os demais pagamentos supostamente a outros policiais são insinuados. “Fora a turma aqui (outros servidores da delegacia), que não é pequena, tem o regional (chefe de uma regional da Polícia Civil não especificada), subinspetor, toda a turma que eu tenho de deixar quieta no canto, falou? Amanhã tenho compromisso com o (delegado) regional. E inclusive ele está cobrando... Vamos ver o que vocês têm a falar (qual o valor da proposta), que eu falo depois com ele”, diz o homem que negocia a propina.

A Polícia Civil informou que vai avaliar hoje se o corregedor poderá dar mais detalhes sobre a investigação em andamento. A reportagem procurou o delegado citado nas apurações e réu do processo, mas não conseguiu contato com ele ontem. Na sexta-feira, o policial declarou que só vai se manifestar quando for formalmente apresentada alguma acusação. “Estou tranquilo. Tudo o que saiu até agora foram conjecturas. E espero que a verdade seja depois dita, quando ficar provada”, afirmou. Perguntado se continuaria trabalhando na delegacia em que é titular, disse apenas que ainda não sabe. A reportagem não conseguiu contato com o investigador que também é réu no procedimento de Betim ou com seus advogados.


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