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Estado de Minas LIDERANÇA FEMININA

Conheça a paisagista que lidera grupo de motociclistas de BH

À frente de grupo de barbados, Moema Bernardes é uma das raras mulheres de BH a pilotar a possante Harley-Davidson e se prepara para guiar a turma pela famosa Route 66, nos EUA


postado em 26/09/2016 06:00 / atualizado em 26/09/2016 08:36

A paisagista Moema Bernardes com parte do grupo Anarquistas, durante passeio no Alphaville: comando imposto até pelas gargalhadas contagiantes(foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
A paisagista Moema Bernardes com parte do grupo Anarquistas, durante passeio no Alphaville: comando imposto até pelas gargalhadas contagiantes (foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
Uma das poucas mulheres em Belo Horizonte a pilotar uma Harley-Davidson, a Softeil FX, que pesa 300 quilos, a paisagista Moema Bernardes, de 51 anos, comanda o grupo Anarquistas, à frente de mais de 15 motociclistas guiando suas possantes máquinas pelas estradas de Minas. Nos fins de semana, eles deixam as respectivas mulheres para trás e seguem as ordens de Moema, a única a levar o marido, Armando Bernardes, de 52, junto na aventura. “Não se assuste com meus brothers, viu? Eles são grandes, barbados, mas debaixo dessa capa de monstrões, na verdade escondem-se almas delicadas, amigas, com família e filhos, tudo bonitinho. Se duvidar, sou até mais grosseira do que eles”, brinca a mulher, que se impõe pelas tatuagens, espírito de liderança e gargalhadas contagiantes. Em abril, o grupo se prepara para fazer o percurso da famosa Route 66, desta vez com as mulheres, nos Estados Unidos.

“Meninos, venham cá, a equipe de reportagem quer conversar com vocês!”, afirma Moema, com voz de comando, convocando os integrantes a se apresentarem, já, para a entrevista. Ao ouvir o chamado de Moema, o grupo que estava disperso, batendo papo mais à frente, se aproxima em minutos, no ponto marcado, dentro do posto de gasolina do condomínio Alphaville, em Nova Lima. “Ai de quem desobedecer. Moema manda e desmanda na gente”, ri o engenheiro Carlos França, que leva na garupa a filha, Marina, de 27. “É isso aí: a Moema é nossa líder”, confirma o engenheiro José Maurício Gianetti Filho, de 49. “Em geral, as mulheres não pilotam. Você já sentiu o peso de uma Harley? Só a Moema mesmo!”, completa o economista Alexandre Machado, de 48, caçula da turma.

Para subir em uma Harley, segundo explica a líder dos Anarquistas, não dá para usar saias nem manter postura de mocinha. “Tem de ter um certo arrojo, uma ponta de coragem para pegar a estrada e ser capaz de ajudar se a moto de um colega tombou. A gente está ali para tudo. Não dá para ser mocinha, mas cabe ser feminina”, compara Moema, que não dispensa rímel nos olhos, anéis de caveira e um detalhe charmoso, como um lenço esvoaçante no pescoço. “A gente pode até deixar o lenço para trás, mas não pode esquecer o documento, não é? Vai que tem uma blitz ali na estrada”, brinca Moema, que não perde uma chance de animar a turma. Um dos momentos divertidos foi quando ela publicou a própria foto durante a recepção de um casamento, de vestido longo, salto alto e maquiagem: “Só assim acreditaram que eu era mulherzinha!”

AVENTURA
Na verdade, Moema fundou o grupo Anarquistas, há cerca de cinco meses, com o objetivo de arranjar um grupo menor, em que os integrantes têm afinidades entre si e seguem a regra única de não ter regras. Geralmente, a turma sai aos sábados para pilotar as motos aonde o vento levar, com os pés posicionados nos pedais lá na frente, bem largadões. Se a moto de um colega quebrar ou se der vontade de buscar um lugarzinho para almoçar, ótimo. Os melhores passeios são os menos programados”, ensina a fundadora do grupo, que pode decidir entre fazer um “bate e volta” à cidade de Tiradentes, dirigindo 350 quilômetros no mesmo dia. Se der banzo, vale uma ida a um restaurante em Moeda.

Os Anarquistas quebram a cultura comum aos grupos de Harley-Davidson e similares, cujos encontros ocorrem com hora marcada, tanques já cheios e pneus calibrados. “No nosso grupo, não precisamos sair tão cedo, porque não temos tanta pressa de voltar. Deixamos as regras para os dias da semana. Aos sábados, nosso compromisso é com a gente mesmo”, prega ela, nascida em Salvador, já com o típico espírito baiano de querer aproveitar a vida. “Meu papel é de agitar o grupo, de não deixar esmorecer, de estar sempre organizando a programação”, lembra ela que, mal chegou de um dia inteiro acelerando nas rodovias e, na segunda-feira, já postou a provocação no grupo. “E então, pessoal, qual vai ser a agenda do próximo encontro? Alguém aí tem uma sugestão?”.

Outra norma quebrada por Moema foi ceder o posto natural de road captain para o marido e os outros integrantes do grupo, o que significa se habilitar a ir na frente na estrada, guiando o restante dos colegas e, de certa forma, abrindo mão de simplesmente curtir o passeio. “Eu e o Armando temos um sistema de rádio-comunicador em nossos capacetes. Ele vai na frente, guiando o grupo. Pelo rádio, dou o sinal de que é possível fazer a ultrapassagem. Sempre fico por último e, por mais lento que vá o colega, nunca deixo ninguém para trás. Boto a mão para fora e seguro a estrada, até que todos passem em segurança. Só então libero o trânsito”. Na filosofia dessa anarquista sobre duas rodas, as últimas poderão ser um dia as primeiras. Por que não?

O culto à Harley-Davidson da parte de Moema surgiu durante uma viagem solitária à Europa, perto de atingir os 50 anos. Em busca de um novo propósito na vida, com os filhos criados, ela decidiu investir em torno de R$ 30 mil na compra do equipamento, que ficou guardado na loja até que tomasse coragem de contar a extravagância ao marido. “Levei a bronca, mas ele teve de aceitar. Tempos depois, ele comprou outra para ele e, há dois anos é só o que nós dois fazemos nos fins de semana”, emenda ela, com uma nova gargalhada.

Easy Rider

Para abril de 2017, o grupo Anarquistas já acertou pacote para seguir para os Estados Unidos, desta vez levando a família, com a missão de realizar o sonho de percorrer a histórica Route 66, a estrada mais famosa do mundo. Com as motos alugadas por lá, os integrantes pretendem refazer parte da trajetória narrada no longa Easy Rider (Sem Destino), de 1969, que mostrou dois motociclistas viajando pelas principais estradas do Sudeste dos EUA em busca de liberdade, vividos pelos atores Dennis Hopper e Peter Fonda.


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