
O nome da operação é uma referência aos alagamentos. Investigação do Ministério Público Estadual (MPMG), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle (MTFC) apurou que cerca de R$ 8 em cada R$ 10 enviados pelo Palácio do Planalto para socorrer o maior município do Vale do Rio Doce, com cerca de 300 mil habitantes, foram desviados por uma organização criminosa que surgiu no Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), autarquia municipal.
“Cerca de 80% dos R$ 4,7 milhões repassados pela União foram desviados”, calculou o delegado da PF Cristiano Campidelli. O dinheiro foi liberado pela presidente Dilma Rousseff, então em exercício, depois de constatar in loco os estragos. Quase 10 mil pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas.
A fraude só foi possível porque contou com a participação de empresários. Donos das firmas receberam do Saae por serviços não realizados ou feitos em quantidade menor do que o previsto no contrato. O pagamento era rateado entre servidores e empresários. A população ainda sofre com os transtornos causados pelo temporal.
Um trecho da Rua da Passagem, por exemplo, foi engolido por uma cratera. “Nós, moradores, levantamos a travessia de madeira, porque o poder público nada fez até agora”, cobrou Claudinéia. A passarela improvisada foi erguida duas vezes, como informou o pedreiro Joel Neves Moreira, de 40. “Dói pagar impostos e ver que quando a gente precisa, corruptos desviam o dinheiro”.
PREJUÍZO Os danos causados pelo temporal de 2013 também afetaram o dia a dia de quem mora na área rural. A chuva danificou estradas de terra e pontes, causando prejuízo aos produtores de leite, pois os caminhões dos grandes laticínios da região não têm como chegar às propriedades. Para amenizar a perda de receita, alguns fazendeiros se uniram para custear parte de obras que deveriam ser feitas com o dinheiro público.
“A população é que recolocou a ponte (sobre o Córrego Cassianinho) no lugar. Ainda assim, os caminhões dos quatro grandes laticínios da região não passam nela. Eu queria ampliar a produção de leite, de 80 litros por dia para 200 litros. Mas não posso. Outros fazendeiros também suspenderam investimentos”, lamentou Vander Soares, de 77.
O percurso da fazenda dele à casa que a família tem em Valadares é de 27 quilômetros. O dano causado pela última temporada de chuva forte e a ausência de manutenção adequada desde então pelo poder público, sustenta Vander, tornou o trajeto no trecho uma aventura que não vale a pena. “O percurso alternativo é de 65 quilômetros”, acrescenta Bruno, filho do fazendeiro. Para não perder toda a produção de leite, a família começou a fazer queijo.
O também criador de gado Anísio Ferreira, de 42, acredita que R$ 10 mil sejam suficientes para erguer outra ponte sobre o Cassianinho. Há poucas semanas, revelou, ele e amigos fizeram uma vaquinha e contrataram um trator para recuperar um trecho da estrada de chão. “Cada um deu um pouquinho. Eu desembolsei R$ 100. O total ficou em R$ 4 mil.
Já a Prefeitura de Valadares informou que “o município tem 1,8 mil quilômetros de estradas vicinais, que recebem manutenção constantemente”. Em relação à Rua da Passagem, a administração informou que a recuperação da via faz parte do programa de contenção de encostas, “cujo projeto para recuperação está sendo viabilizado pela Secretaria Municipal de Obras”.
O Executivo informou ainda que “reafirma seu integral apoio a todas as ações que visam ao combate a quaisquer atos ilícitos no âmbito da administração pública e que, para tanto, tem colaborado com as investigações. Assim, todo e qualquer processo que for alvo de investigação será avaliado pela administração pelos meios cabíveis”.
