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Estado de Minas

Sem investimentos, cidades sofrem com prejuízos da chuva em Minas

Municípios voltam a enfrentar deslizamentos de terra e alagamentos, repetindo cenas que marcaram outros anos


postado em 22/01/2016 06:00 / atualizado em 22/01/2016 07:30

Queda de barrancos - Os deslizamentos atingiram o Bairro Bela Vista neste ano. Em 2013, seis morreram: cruzes foram postas no lugar da casa arrastada(foto: Cleber Silva/Divulgação e Túlio Santos/EM/D.A Press - 8/11-11)
Queda de barrancos - Os deslizamentos atingiram o Bairro Bela Vista neste ano. Em 2013, seis morreram: cruzes foram postas no lugar da casa arrastada (foto: Cleber Silva/Divulgação e Túlio Santos/EM/D.A Press - 8/11-11)
Cenas já vividas em municípios mineiros por causa da chuva voltam a se repetir em cidades arrasadas por temporais nos últimos anos no estado. Sem dinheiro para realização de obras de drenagem ou de contenção de encostas, localidades como Além Paraíba, na Zona da Mata, e Sardoá, no Vale do Rio Doce, voltam a sofrer com deslizamentos de terra, fechamento de vias, entre outros problemas. Também em Guidoval, também na Zona da Mata, nenhuma grande obra de prevenção para chuvas foi feita na cidade, à exceção do desassoreamento do Rio Xopotó, logo após a tragédia. A prefeita da cidade, Soraia Vieira de Queiroz (PSDB), disse ter apostado em uma “faxina” nas bocas de lobo, poda de árvores e recolhimento de entulhos. Mas pondera: “A limpeza do rio só foi feita naquela época, pelo governo do estado. O município não tem recursos para fazer sozinho e não há previsão de que ela seja feita novamente”, afirmou Soraia. Segundo ela, “por sorte, ainda não choveu acima da normalidade”.

A situação é de quase total inércia, mesmo com o histórico arrasador. Em janeiro de 2012, Além Paraíba viu os bairros Vila Laroca, Vila Caxias, Sítio Branco e Boiadeiro serem fortemente impactados pela chuva. Os dois primeiros foram inundados por uma tromba d’água na cabeceira do Rio Paraíba do Sul, enquanto, nos demais, barrancos cederam e vias foram parcialmente interditadas. Pelo menos 25% da população da cidade de 35 mil moradores foram afetados e mais de um mil pessoas ficaram desabrigadas.

Enchente e devastação - As águas do Rio Paraíba do Sul subiram no sábado, inundando casas e comércio; em 2012, até o asfalto de ruas foi arrancado pela água(foto: Mônica Silva Fernandes/Divulgação e Beto Novaes/EM/D.A Press - 10/1/12)
Enchente e devastação - As águas do Rio Paraíba do Sul subiram no sábado, inundando casas e comércio; em 2012, até o asfalto de ruas foi arrancado pela água (foto: Mônica Silva Fernandes/Divulgação e Beto Novaes/EM/D.A Press - 10/1/12)
Quatro anos depois, os sinais de problema já ressurgiram. Cerca de mil imóveis, entre casas e estabelecimentos comerciais, foram inundados, no sábado, em Além Paraíba, após a elevação de mais de cinco metros do Rio Paraíba do Sul. De acordo com o prefeito Fernando Lúcio Donzeles (PSB), a vazão do rio chegou a 3.500 metros cúbicos por segundo, bem acima da normalidade. Segundo ele, ainda há riscos de deslizamentos em algumas áreas, onde o monitoramento é mantido constante. Além dos bairros atingidos em 2012, entraram para a lista das localidades com estragos os bairros da Saúde, São José e Jaqueiras. Cerca de 250 pessoas estão desalojadas e 60 famílias estão sendo atendidos pela prefeitura na distribuição de cestas básicas, colchões e medicamentos.

De acordo com o prefeito, os recursos destinados ao município pelo governo federal por causa dos problemas de 2012 não foram suficientes para realizar todas as obras. E dos R$ 37 milhões anunciados pelo governo federal para a cidade, apenas R$ 7 milhões foram liberados. “Com contingenciamentos, a União não repassa aos municípios tudo aquilo que foi acordado. Assim, é a população que sofre. Se as obras tivesses sido feitas, sem sombra de dúvidas teríamos um cenário mais favorável”, afirmou o chefe do Executivo.

No Bairro Bela Vista, em Sardoá, moradores da região considerada uma das mais íngremes da cidade voltaram nesta semana a conviver com ruas tomadas por terra. Por causa da umidade no solo provocada pela chuva, o calçamento da rua cedeu e o trecho que faz o acesso ao bairro está interditado. O município, no Leste de Minas Gerais, teve o estado de calamidade pública decretado em 2013 por causa das enxurradas que castigaram a cidade em dezembro. Na ocasião, um deslizamento de terra na zona rural matou seis pessoas de uma família. Na cidade, também houve problemas com a queda de barrancos no mesmo Bairro Bela Vista, onde hoje o principal acesso está fechado. O prefeito Cléber Pereira da Silva afirmou já ter apresentado projetos ao Ministério da Integração Nacional para construção de muros de contenção no local, ao custo de aproximadamente R$ 2 milhões, mas nenhuma verba foi liberada. “Essa é uma situação muito difícil para o município. E o pior é que vejo cidades atingidas pela chuva esperarem dois ou três anos após tragédias para receber uma verba, depois que já veio a estiagem e mais períodos de chuva”, contou.

GUIDOVAL Em janeiro de 2012, as fortes chuvas e a enchente do Rio Xopotó destruíram a parte central, arrastaram duas pontes e causaram a morte de duas pessoas, deixando mais de mil desabrigados e 160 desalojados em Guidoval. A retomada de uma vida normal na cidade foi conseguida a muito custo de comerciantes e empresários, além do investimento de R$ 2,4 milhões, usados na reconstrução de 10 pontes e repavimentação de três vias. “Mas a cidade precisa de obras mais vultosas, como a contenção de encostas e o constante desassoreamento do Rio Xopotó. “Fazer uma vez, como foi feito depois da tragédia, resolve o problema nos períodos seguintes. Mas a limpeza precisa ser periódica. Como é muito cara, o município não tem condição de fazer sozinho”, afirmou Soraia, que teme um novo temporal de problemas, caso venha a chover forte. A aposta da administração municipal para essa temporada foi investir na limpeza de bueiros, poda de árvores e limpeza geral da cidade.

Prejuízos em 32 cidades

Em Minas Gerais, pelo menos 32 municípios já sofreram os impactos da temporada chuvosa 2015/2016. São cidades que contam os prejuízos causados por enxurradas, inundações ou deslizamentos de encostas. Quatro deles já decretaram situação de emergência. São Itanhomi, no Vale do Rio Doce; Palma, na Zona da Mata; Itamonte, no Sul de Minas; além de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ferros, na Região Central, foi o último a notificar os estragos em um decreto de calamidade pública expedido na  quarta-feira. Outras 27 cidades sofreram algum tipo de impacto, mas não precisaram lançar mão dos decretos.

Cidades impactadas pela chuva, via de regra, recebem recursos emergenciais para assistência à população. No entanto, obras de solução definitiva exigem investimentos mais vultosos e, por isso, nem sempre são realizadas, como reclamam muitas prefeituras.

Apesar disso, o Ministério das Cidades informou que o governo federal destinou cerca de R$ 450 milhões para 24 municípios mineiros realizarem projetos e obras de contenção de encostas contratados a partir de 2010. Desse montante, cerca de R$ 39 milhões já foram desembolsados. “Cabe destacar que as obras foram iniciadas a partir de 2012, assim, várias estão em fases iniciais, informou a pasta. Já para empreendimentos de drenagem urbana, o governo federal destinou, a partir de 2007, cerca de R$ 1,7 bilhão para 47 empreendimentos deste tipo em Minas, que beneficiam 18 cidades. Deste montante, já foram desembolsados R$ 545,2 milhões e cerca de R$ 900 milhões foram contratados a partir de 2013.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, dentro dos recursos do PAC foram aprovados R$ 15 milhões para estudos hidráulicos e hidrológicos, com objetivo de reduzir e evitar enchente nas bacias dos rios Doce, Itabapoana e Paraíba do Sul – nos trechos mineiros. Mas, afirma, até o momento, não foi apresentada nenhuma medição dos serviços pelo estado e, por este motivo, não houve repasse de recursos. Ainda segundo a pasta, desde 2012, foram repassados cerca de R$ 109 milhões para recuperação de locais atingidos em municípios de Minas Gerais.


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