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Estado de Minas

Conheça ruas de BH que eram rotas entre Curral del Rey e povoados próximos da capital

Ruas Jacuí, Padre Eustáquio, Platina e Itapecerica foram construídas aproveitando parte do traçado das estradas que ligavam arraial de Curral del Rey a povoados


postado em 03/10/2015 06:00 / atualizado em 03/10/2015 07:25

Pesquisador Alessandro Borsagli na Rua Itapecerica, que passa por caminho feito no século 18 para dar acesso a Venda Nova(foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Pesquisador Alessandro Borsagli na Rua Itapecerica, que passa por caminho feito no século 18 para dar acesso a Venda Nova (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Enquanto estão presos no engarrafamento na Rua Jacuí, na Floresta ou na Rua Padre Eustáquio, no bairro que leva o nome da via, os motoristas e passageiros podem observar construções modernas, prédios revestidos de pastilhas de cerâmica e empetecados com vidros fumês nas varandas. Quem se atenta apenas ao novo pode pensar que resta muito pouco da capital que nasceu do arraial de Curral del Rey há 118 anos. Porém, os mais sagazes – e nostálgicos – percebem as resistentes construções da primeira década do século passado e, ao pesquisarem, descobrem que importantes ruas da capital ainda apresentam reminiscências das antigas estradas que ligavam o arraial originário a outros povoados até a primeira metade do século 20.

O geógrafo e pesquisador Alessandro Borsagli, sempre antenado ao passado da capital, faz pesquisas para escrever um artigo mostrando o que resta das estradas que ligavam o arraial de Curral del Rey a outros povoados nas vias da hoje moderna capital. “Essas estradas, normalmente, seguiam as curvas de nível, passando pelas cristas dos morros e paralelas aos rios e córregos”, detalha o geógrafo, que também é autor do blog Curral del Rei (https://curraldelrei.blogspot.com.br). Além da Rua Jacuí, que segue pelas regiões Leste e Nordeste, e da Padre Eustáquio, na Região Noroeste, Alessandro destaca duas vias onde é possível ver resquícios do passado: Rua Itapecerica, na Lagoinha, e Rua Platina, no Prado e Calafate.

O engenheiro de segurança do trabalho Eduardo Zandona, de 63 anos, mostra orgulhoso a residência em estilo eclético, na esquina das ruas Platina e Diorita, no Prado. A construção, de 1928, foi edificada pelo avô de Eduardo, Domingos Signorini Zandona, que chegou do Sul da Itália no início do século passado e colaborou na construção da capital. O avô de Eduardo fez sucesso com uma olaria no Bairro Nova Suíssa, a Zandona. “Muitas casas da capital tiveram telhas com esse sobrenome”, diz. Eduardo comprou as partes dos outros herdeiros e mora na casa.

Uma fotografia do arquivo do Estado de Minas mostra a casa com dois anos de idade, em 1930, e o traçado da Rua Platina, chamada então de Estrada do Cercado, caminho que passava pela Fazenda do Cercado, hoje Calafate, e seguia por onde estão o Bairro Jardim América, Favela da Ventosa até o Buritis. A fazenda é apontada como uma das primeiras habitações da região, fundada em 1701 por João Leite da Silva Ortiz.

DE FORA PARA DENTRO “Belo Horizonte teve uma expansão do centro para a periferia”, detalha Borsagli. O pesquisador explica que o plano original de Aarão Reis, que delimitava o período urbano no interior da Avenida do Contorno, não se expandiu a partir dali. A cidade, nos moldes que conhecemos hoje, cresceu acompanhando outras localidades anteriores à capital, como Venda Nova, Santa Luzia, Sabará e Contagem.

A Rua Itapecerica, na Lagoinha, ainda mantém parte da estrada que levava a Venda Nova (que começou a ser povoada em 1711) e continuava até Diamantina, à época chamada de Arraial do Tejuco. Borsagli explica que a Lagoinha começou a ser povoada com os imigrantes – italianos e libaneses – que chegaram para a construção da capital.

Uma imagem garimpada por Borsagli no Arquivo Público de Belo Horizonte mostra trecho da Itapecerica onde carroças, cavalos e um solitário automóvel são emoldurados por uma paisagem quase rural. As duas casas mostradas ali permanecem preservadas. Uma delas é um antiquário e a construção é de 1910, segundo o gerente do estabelecimento, Harley Langa. O acervo do antiquário é de 100 mil itens, que vão de miudezas até uma imponente cristaleira Chipandelle, da época da foto. O preço da relíquia: R$ 2,7 mil.

As estradas são de uma época anterior à ditadura do automóvel. Com a massificação do transporte e a construção de complexos viários, como o da Lagoinha, a função das estradas foi substituída por avenidas maiores, como a Antônio Carlos, a Pedro II e a Pedro I, que fazem atualmente a ligação ao Vetor Norte. A Rua Padre Eustáquio, ressalta Borsagli, era chamada de Estrada de Contagem ou Rua da Contagem e ligava a capital à cidade vizinha. “Na região ficava a Colônia Agrícola Carlos Prates, que foi anexada à zona chamada de suburbana em 1910”, detalha Borsagli.

Outra antiga estrada que deixou marcas em uma rua do presente é a Estrada do Matadouro, que tem parte do traçado preservado pela Rua Jacuí. A via era acesso ao matadouro, localizado onde é o Bairro São Paulo, e ao curtume, no atual Bairro Ipiranga, na Região Nordeste da capital. Depois, a via seguia até chegar à tricentenária Santa Luzia.

Saiba mais

Sob o comando de Aarão Reis

Belo Horizonte foi fundada em 12 de dezembro de 1897, após um processo para escolher a nova capital de Minas Gerais, que substituiria Ouro Preto. O plano da nova capital foi elaborado por uma comissão, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis, e teve como ponto de partida o arraial de Curral del Rey, sendo a área urbana planejada no perímetro da Avenida do Contorno. Haviam estradas de acesso para cidades históricas como Sabará e Santa Luzia, que à época tinham uma dimensão muito maior que a capital.


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