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Estado de Minas

Mãe de fiscal morto a tiros dentro de ônibus em BH diz que já temia pela vida do filho

Cuidadora de idosos estava a caminho do trabalho quando passou pelo local do crime e soube que um fiscal havia sido baleado. Ela perdeu o único filho, que deixa esposa e quatro crianças


postado em 01/10/2015 12:15 / atualizado em 02/10/2015 10:05

Wanda de Fátima (dir), de 57 anos, mãe do fiscal assassinado, é amparada na avenida(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Wanda de Fátima (dir), de 57 anos, mãe do fiscal assassinado, é amparada na avenida (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

“Mãe sente, mãe sabe. Eu falei com a minha patroa ontem, 'não tô gostando dessa história'. Eu cheguei hoje de manhã e falei com ela, 'tem um corpo na Cristiano Machado, pode ser o do Webert'”. O desabafo é da cuidadora de idosos Wanda de Fátima, de 57 anos, mãe do fiscal de ônibus Webert Eustáquio de Souza, de 33, morto a tiros em um coletivo da linha 1502 (Vista Alegre - Guarani) na manhã desta quinta-feira em um ponto da Avenida Cristiano Machado, altura do Bairro Ipiranga, Região Nordeste de Belo Horizonte. Outras duas pessoas foram atingidas. O assassino fugiu.

Webert era o único filho de Wanda. Eles moravam na mesma rua, no Bairro Tupi. Na noite de ontem, horas antes do crime, ele havia feito um pedido simples para a mãe: que comprasse dois bifes pra ele. Ela estranhou, disse que Webert não costumava comer isso, mas comprou. Eles ficaram na geladeira.

Wanda estava a caminho do trabalho de ônibus quando passou em frente ao ponto de ônibus, ao lado do Hotel Ouro Minas, sentido Centro, e viu a movimentação de policiais e o coletivo parado. Passageiros disseram que um fiscal havia sido assassinado. Imediatamente ligou para o celular do filho, que não atendeu. Com as pernas bambas, não conseguiu desembarcar do ônibus. Ela estava servindo o café da manhã no trabalho quando veio a confirmação de que o fiscal morto era seu filho.

Muito abalada, viúva do fiscal (de azul) e cunhada acompanham os trabalhos da perícia(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Muito abalada, viúva do fiscal (de azul) e cunhada acompanham os trabalhos da perícia (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Segundo ela, Webert nunca disse ter sido ameaçado, apenas reclamava de algumas situações, mas depois não tocava no assunto. “Essa semana eles puseram pra trabalhar lá no final do Serra e eu falei 'cê não vai não'. Agora, foi aqui, moça, oh”, diz, apontando para a avenida. Com o olhar perdido, ela pergunta o que vai fazer sem o filho.

Webert deixou esposa e quatro filhos: dois meninos gêmeos, de 8 anos, outro garoto de sete e uma menina de apenas 3. A esposa e a cunhada do fiscal chegaram pouco antes de Wanda. Muito abaladas, preferiram não falar com a imprensa. Webert trabalhava como fiscal há cerca de seis meses e se interessou pelo emprego diante da possibilidade de ajudar a família. Um amigo e colega de trabalho conta que ele comprou um carro há menos de uma semana para fazer um trabalho extra. O veículo teria sido adquirido com ajuda da mãe.

Fiscais reclamam da insegurança

Muitos colegas de profissão de Webert foram para a Avenida Cristiano Machado quando souberam da morte. Um deles, mais exaltado, queria passar pelo cordão de isolamento feito pela polícia e precisou ser acalmado pelos demais. O grupo reclamava da falta de segurança no exercício da profissão e relembrava a rotina com Webert.

“Um excelente profissional, pai de família. Eu era coordenador dele, ensinei ele a trabalhar, abordar as pessoas dentro do ônibus, como fazia. Dar um boa tarde, um bom dia. Uma pessoa risonha, tranquila”, relembra o fiscal de ônibus André Luiz Ribeiro, de 44 anos. “Isso aí a gente fica desnorteado. As pessoas vêm falar mal da gente, mas não sabe o que está acontecendo na rua, no dia a dia”. Os fiscais atuam nos coletivos verificando se há pessoas que não pagaram a passagem e muitas vezes são hostilizados, como denuncia o fiscal. “Temos colete, temos uniforme, mas às vezes a gente é obrigado a trabalhar sem colete e sem uniforme, porque a gente fica muito visado. Por causa disso aí, por causa dessa bagunça”, lamenta Ribeiro. “Tem gente que fala que vai matar a gente, que vai dar tiro na gente, só por causa de R$ 3,10, uma passagem simples. É só pagar, gente. Não tem nada à ver uma coisa com a outra”.

O chefe dos fiscais da linha 1502, Evandro José de Souza, de 42 anos, foi para o local assim que soube que os dois funcionários haviam sido baleados. Muito emocionado, ele falou o que soube no local. “O que me falaram foi o seguinte: que ele entrou dentro do carro (ônibus), pediu para pagarem a passagem, e esse que fez o disparo falou que não ia pagar . O menino falou assim, 'faz o favor de pagar a passagem pra nós, por gentileza'. Aí ele chegou até a roleta e falou 'cês tão merecendo tomar é tiro'”. Os fiscais pediram mais uma vez, e disseram que apenas faziam seu trabalho. “Aí o rapaz sacou a arma e deu um tiro neles. Já foi disparando neles. Agora, o motivo é por causa de R$ 3,10, né? Levar a vida de uma pessoa por causa de R$ 3,10”.

Questionado sobre outros casos de violência na linha, Souza disse que constam vários assaltos e casos de evasão de de renda, que é justamente quando passageiros entram nos ônibus sem pagar. “É aí que entra o nosso serviço. É um serviço terceirizado, para inibir essa situação. Aqueles passageiros que não gostam de pagar passagem e pegar passagem ao desembarcar do veículo”, explica. 

(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

ENTENDA O CASO
O crime aconteceu pouco antes das 8h, segundo a PM. Uma testemunha, que preferiu manter o anonimato, contou que Webert e o atirador se encontravam na parte da frente do coletivo, quando o fiscal pediu para o suspeito se identificar. Logo em seguida, começou uma discussão entre eles e o assassino sacou a arma, atirando em seguida. A testemunha disse que não conseguiu identificar o assassino e que os fiscais embarcaram no ônibus em um ponto perto do local do homicídio.

A passageira Maria das Graças Martins, de 65, levou um tiro em um dos pés e foi levada pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para um hospital. Rogério Lopes, de 46, que também é fiscal de linha e trabalhava com Webert no momento do crime, foi atingido por estilhaços das balas e deu entrada no Hospital João XXIII.

(Com Rafael Passos)


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