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Bustos de personagens da história de BH e Minas ficam sem identificação

Moradores lamentam má conservação de monumentos pelas ruas da capital. PBH diz que vandalismo é maior problema


postado em 08/08/2015 07:00 / atualizado em 08/08/2015 09:44

Sem identificação, bustos pelas ruas de BH deixam população a ver navios(foto: Euler Júnior / EM / D.A press)
Sem identificação, bustos pelas ruas de BH deixam população a ver navios (foto: Euler Júnior / EM / D.A press)

Belo Horizonte vai completar 118 anos em 12 de dezembro, cheia de vida, mas, para tristeza de moradores e visitantes, já começa a sofrer de “memória fraca”. Basta andar pelas ruas, avenidas e praças para ver que grandes personagens da história da cidade, de Minas e do país estão praticamente relegados a segundo plano, sem uma linha sequer de identificação sobre nome, cargo ou datas de nascimento e morte. “Seria bom que pudéssemos saber mais sobre esses brasileiros. Estava aqui olhando e, até agora, não sei quem é, muito menos se a placa de identificação foi arrancada por ato de vandalismo”, lamentou, na tarde de ontem, o estudante de direito Paulo Henrique Peixoto Faria, de 23 anos, natural de Conceição do Mato Dentro, na Região Central, e há três anos residente na capital.


Enquanto aguardava sentado na Praça Hugo Werneck, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul, uma carona para passar o fim de semana na terra natal, Paulo Henrique olhava para o busto de bronze do médico Hugo Werneck (1878-1935), natural do Rio de Janeiro (RJ) e um dos fundadores da Santa Casa de Belo Horizonte. “A praça tem o nome dele e deveriam identificá-lo. É um respeito pelo patrimônio e pelas pessoas”, afirmou o jovem. De acordo com pesquisa da Belotur/Prefeitura de Belo Horizonte, que listou mais de 50 peças em bronze de figuras ilustres, além de dezenas de esculturas, monumentos, obeliscos e outras homenagens cidade afora, o busto no espaço público localizado entre as avenidas Alfredo Balena e Francisco Sales (Região Hospitalar) foi erguido em 19 de março de 1940 por iniciativa do Sindicato dos Médicos de BH.

Ninguém é obrigado a saber que o monumento na Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, é em honra ao gaúcho de São Borja, líder da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, e presidente da República em dois mandatos: de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Seria bom que, pelo menos neste mês, as autoridades municipais se lembrassem de Vargas, afinal, em 31 de agosto de 1942, sob seu comando, o Brasil declarou guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), depois de vários navios nacionais serem torpedeados pelos nazistas, num episódio marcante da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Além disso, ele saiu “da vida para entrar na história” em 24 de agosto de 1954, quando se matou com um tiro no peito, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro (RJ).

DOIS TEMPOS Para voltar no tempo, saindo da República e retornando ao segundo império, é preciso seguir pela Avenida Getúlio Vargas virar à direita na rua Gonçalves Dias até chegar à Praça da Liberdade. Nesse espaço nobre de BH, fica o busto do imperador Dom Pedro II (1825-1891). Muita gente passa por ali e não consegue identificar quem é o homem de barbas longas e olhar severo. Passeando na praça, as amigas Juliana Alves, administradora de empresas moradora de Contagem, e Samantha Koppe, maquiadora, de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), ficaram sem entender a situação. “Se teve a placa e não foi substituída, é porque falta manutenção”, afirmou Juliana. Ao saber que se tratava do imperador Dom Pedro II, Samantha lembrou que, muitas vezes, o vandalismo atrapalha do curso da história.

Ao ver os repórteres fazendo uma matéria sobre bustos sem identificação, o professor de matemática Denilson Rodrigues, morador do Bairro Palmares, na Região Nordeste, ressaltou a importância de se preservar o patrimônio público. “É fundamental o respeito pelos monumentos em toda o município”, afirmou. Não é de hoje que a placa em questão está desaparecida. Em setembro de 2010, o ESTADO DE MINAS denunciou o furto da peça de bronze, medindo 60cm de altura x 40cm de largura, após comunicado da Associação dos Amigos da Praça da Liberdade (Apraliber). Sem cerimônia, os vândalos levaram até mesmo “as porcas dos parafusos que sustentavam o bronze, deixando só a marca do metal”, conforme representantes da entidade. Na verdade, aquela era a segunda vez que o material era arrancado, sendo que na primeira, foi deixado na grama da praça tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

CONFUSÃO No Centro de BH, a cabeça do morador ou visitante dá um nó. Há dois bustos de personalidades na Praça Afonso Arinos, que fica na Avenida Augusto de Lima com Rua Goiás. De quem serão, já que não há placas? Conforme o levantamento da Belotur, fica-se sabendo que o primeiro, mais perto da Goiás, é do ex-governador de Minas Augusto de Lima (1859-1934), natural de Nova Lima, na RMBH, em cujo mandato foi decidida a mudança da capital de Minas de Ouro Preto para Belo Horizonte. Já mais próximo da esquina com a Rua da Bahia, vem o destaque ao diplomata e advogado José Sette Câmara (1920-2002), mineiro de Alfenas. A ideia de prestar a homenagem Sette Câmara, na Praça Afonso Arinos, foi efetivada pela da lei 812, de 9 de dezembro de 1959. “Sem placa, como vamos saber?”, questiona o biólogo Renan Cézar da Silva ao lado da namorada Alice Avelar.

Ao subir a Avenida Afonso Pena, mais uma surpresa. Entre a Rua Professor Moraes e Avenida Getúlio Vargas está um busto manchado e sujo. E, como os demais, sem identificação. O visitante curioso vai descobrir que se trata de Victório Marçolla (1889-1942), mineiro de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que foi industrial, integrante da comissão técnico-consultiva para construção de BH, um dos fundadores do Automóvel Clube e presidente da Associação Comercial de Minas. Ao lado do monumento, está gravado no bronze o nome do artista L. Galante e o ano de criação (1940). Antes de ficar no local, a peça esteve na confluência das ruas Cláudio Manoel, Maranhão e Piauí.

De acordo com informações da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos/PBH, a causa maior da falta de placas nos monumentos é o vandalismo. Muitas vezes, dizem os técnicos, as peças são danificadas na tentativa de serem retiradas, à força, sendo, então, removidas pela prefeitura.

Um levantamento está sendo feito pela PBH para verificar o número de bustos danificados e quantificar os custos de manutenção, substituição das identificações e limpeza das peças.

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